17 - Verdades a tona

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      Levei mais de uma hora pra chegar ao bendito bar, era uma espelunca que parecia que ia despencar, entrei e tive uma surpresa inusitada.
-Will? O que está fazendo aqui? - Fiquei o olhando incrédula de que ele passou pela barreira, mas não surpresa.
-Sam acabou dormindo e eu tentei passar pela barreira, e adivinha?! - Ele deu uma voltinha com um sorriso triunfante no rosto. - Acho que só pessoas com sangue real podem ultrapassar... - O ego tem que falar mais alto.
-Não é isso não. -Sussurrei pra mim e contive uma risada de nervoso, ele não merece saber a resposta desse jeito.
-Disse algo? - ele me olhou curioso e eu sorri para disfarçar meu silencioso comentário.
-Não, mas venha, temos outro cidadão anônimos para encontrar. - Segurei sua mão e o puxei comigo, andamos pela espelunca do bar enquanto eu olhava para o rosto de cada um esperando reconhecer uma pessoa que eu não conhecia.
     Desisti de procurar e do até o atendente do bar.
-Com licença, estou procurando um homem que está sempre aqui. - Falei alto para chamar sua atenção, o que deu certo.
-O único cara que está sempre aqui sou eu. - Ele sorriu para mim e não conseguir evitar minha cara de nojo.
-Não tenho tempo para gracinhas, diga a ele que eu sei que está aqui, que...
-Lisa Summers, eu sei quem você é. - Me virei para a voz e olhei totalmente surpresa para aquele homem. Eu estava esperando um velho de cabelos brancos e manco, não um jovem que parecia ter a minha idade e estava em perfeito estado, com os músculos todos torneados e os cabelos loiros sedosos. Essa não era a aparência de quem vivia o dia inteiro no bar.
-Você sabe quem eu sou, tenho o direito de saber quem você é. - Fui na direção dele com Will bem atrás de mim, quase que grudado.
-Meu nome é Patrick, mas isso não é importante. - Ele observava cada detalhe meu, chegou a ser desconfortável. - O que importa é a história que veio buscar.
-Como você sabe? - Ele não poderia saber o que eu tinha na minha mente.
-Docinho, - Patrick se aproximou e passou a mão na lateral do meu rosto. - a pergunta é o que eu não sei.
Segurei seu pulso e afastei sua mão de mim.
-Vamos logo ao assunto. - O soltei dando um leve empurrão no seu pulso.
-Queira me acompanhar. - Ele se virou e andou na direção de uma mesa nos fundos do bar. - Você sabe o que ele vai ouvir se vier junto, não sabe?
-Já está na hora de ele saber. - Segurei a mão do Will e respirei fundo enquanto sentia seu olhar em mim.
Patrick se sentou na nossa frente, eu pude perceber que apesar da sua aparência de jovem, o seu olhar era de um homem que já passou por muita coisa.
-Me diga o que quer saber e eu contarei. - Ele falou com um sorriso divertido no rosto.
-Que tal tudo? - Como se isso não fosse óbvio.
-Bom, você já sabe que sua mãe e a rainha Alexa se odiavam. - Ele olhou de mim para o Will quando falou de nossas mães. Eu concordei e fiz um sinal para que ele continuasse. -E que Alexa é uma bruxa?
-Como assim sabe? - Will chamou minha atenção. - A quanto tempo sabe?
-Que sua mãe é uma bruxa eu desconfiava a muito tempo, mas que ela e minha mãe se odiavam eu descobri recentemente. - Segurei sua mão mais firme e o observei encostar na cadeira e ficar quieto. - Me disseram que a história está se repetindo quando eu perguntei como obrigar uma bruxa a falar.
-Eu sei como. - Will sussurrou e eu o olhei surpresa. - Se tivesse dividido essa informação comigo, não teria rodado igual uma maluca por ai. - Ele se inclinou sobre a mesa. - Para obrigar uma bruxa a falar, você precisa enfeitiçar a pedra dela. - O olhei estranhando o fato de ele saber disso. - Se parasse um minuto para prestar atenção em mim, saberia que não sou um tapado.
-Você tem razão, mas continua me parecendo um tapado. - Pude ver um pequeno sorriso aparecendo em seu rosto. - E Patrick, por que a história está se repetindo?
-Não é óbvio? Aconteceu a mesma coisa com a sua mãe. - Um dos caras do bar apareceram do nada colocando um copo enorme de cerveja na frente dele. - Claro que ela não tinha um principe ao lado dela. - Ele deu um gole enorme na cerveja que foi quase metade do liquido para dentro. - Na verdade, seu pai, o rei Arthur, não quis se envolver.
-Pai? - Will gritou e eu dei um leve pulo de susto.
-Isso é complicado de explicar. - Eu sussurrei e me virei para ele.
-Complicado como o fato de sermos irmãos? - Ele perguntou exaltado e segurei suas duas mãos.
-Complicado no sentido de não sermos irmãos. - Eu vi a confusão e a dor em seu rosto. - Will, o rei Arthur não é seu pai e sua mãe é uma bruxa muito ruim.
-Mais claro do que isso é impossível. - Ele puxou suas mãos das minhas e saiu dali.
     Me levantei para ir atras mas senti a mão do Patrick segurar meu pulso.
-Ele precisa de um tempo sozinho e nós ainda temos muito para conversar. - Patrick viu a hesitação em mim e deu um sorriso. - Você se importa com ele. Creio que não pretende puni-lo por todo o mal que fizeram a você.
-A mãe dele é quem deve ser punida, não ele. - Me sentei novamente e passei a mão pelo suor que se acumulou na minha testa.
-Então aqui vai a versão mais resumida dos fatos. - Ele terminou de beber a cerveja e alongou seu pescoço. - Sua mãe comandava o exército de Bruxos e Bruxas contra os híbridos, pois queriam acabar com, como eles dizem, nossa raça impura. Eles pretendem dominar o mundo e só podem fazer isso acabando com tudo. Essas pessoas querem uma guerra entre humanos e bruxos para que muitos morram e os que sobrarem sejam facilmente neutralizados, o intuito da "Causa" era evitar isso, mas o resto você já sabe. - Fiquei em silencio por alguns minutos pensando em tudo o que ouvi.
-Por que eles não gostam de nós? - Eu precisava tirar todas as minhas duvidas.
-É tudo uma questão de poder. Eles têm ambas as forças dentro de si e acham que são melhores por isso. - Me inclinei para trás e respirei fundo para que aquele sentimento ruim não tomasse conta de mim. - Por isso que Alexa está matando os bruxos que encontra.
-Sério que você acha que ela é uma mestiça? - Ele riu e fez um sinal, acredito que fosse para pegarem mais uma bebida para ele. - Ela definitivamente não é. O massacre foi culpa da sua mãe, não dela.
-Minha mãe? - Tentei entender em qual parte das histórias que eu escutei a parte em que minha mãe tinha sido culpada por algo.
-Sua mãe arrumou alguns inimigos mestiços pelo caminho dela, então eles mataram todos e colocaram a culpa no rei, Alexia não se incomodou em desmentir, ela não queria ser alvo de suspeitas, afinal, todos sabiam da amizade delas. - A cerveja dele chegou e ele manteve sua concentração no copo.
-E como eu posso concertar isso? - Não queria ficar desesperada, mas a situação toda não ajudava nem um pouco.
-Assuma a causa, comande o exército, você tem o príncipe a seu favor, faça justiça. - Ele falou de uma forma inspiradora que acendeu uma fagulha de esperança em mim.
-Minha mãe fez a coisa errada, e parece que o Will não vai querer me ver. - Cruzei meus braços e bufei, seria possível mudar de vida?
-Dá um tempo para ele, é difícil descobrir que sua mãe é a vilã e que seu pai não é seu pai.
     Me levantei e sai sem falar mais nada, me sentia perdida e sozinha, será que alguém iria querer me ajudar ou que eu lidere uma causa que minha mãe destruiu?
Will ainda estava ali, sentado em uma mesa, com uma bebida esquisita a sua frente.

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