A BRUXA

21 - Visão inesperada

     Os dias foram se passando, eu fui ficando cada vez melhor com a minha magia, fui treinada quase doze horas por dia, cada dia com um tutor diferente. Aprendi a magia dos elementos, aprendi a mover objetos com mais facilidade, tudo se desenvolveu perfeitamente. Menos a busca pelo Sam, ele não se encontrava naquele local, ele tinha desaparecido.

     Will não estava nada bem, estava adoecendo aos poucos, eu via isso, mas ele negava todas as vezes que eu perguntava, e todas as vezes eu deixava para lá, mas me doía ver ele desse jeito, sentindo dor e disfarçando para que eu não tenha que lidar com mais alguma coisa. Era isso o que ele estava fazendo naquele momento, enquanto eu o observava trocar de roupa para dormir.

-Will, por que não me conta o que está acontecendo com você? - Como sempre, ele se virou sorrindo e veio até a mim.

-Não tem nada acontecendo, meu amor. - Ele se sentou ao meu lado e me puxou para os seus braços. - Já te falei isso.

-Sabe que não precisa fingir que não tem nada. - Ele se deitou me puxando junto e começou a acariciar meu cabelo.

-Está tudo bem. - Senti seus lábios pressionaram minha cabeça e me ajeitei ao seu lado, - Agora trate de dormir, temos uma reunião importante amanhã.

     Permiti que minha mente relaxasse, acabei dormindo bem rápido e me vi em um mundo dos sonhos, ou melhor, pesadelo. Eu corria sem destino, gritando pelo Will, o desespero enchia meu peito até o encontrar. Morto. Jogado na escadaria do castelo, com sua mãe em pé logo em cima.

-Lisa. - Sua voz saiu do corpo morto. - Lisa! - Ele gritou e eu acordei.

     Eu encarava o teto que se encontrava a um palmo de distância do meu rosto. Segundos depois meu corpo despencou e eu perdi todo meu ar.

-Lisa! - Will apareceu no meu campo de visão enquanto eu procurava por outra forma de respirar. - Lisa, eles estão aqui.
Will me sentou para que eu voltasse à vida. Eu sabia que precisava agir naquele momento, mas meu corpo se negava.

-Deixe ela na cama. - Escutei a voz do Patrick e o olhei. Ele veio na minha direção com a caixa da minha mãe na mão e tirou o colar que estava lá dentro, um colar com uma pedra azul e a letra "E" gravada em dourado. - Eu vou colocar isso em você, não se assuste com o que vai ver.

     Balancei minha cabeça de leve e ele colocou o colar, que ao entrar em contato com a minha pele, se quebrou. Em um segundo eu estava no quarto com Will e Patrick, no outro eu estava em um local infinito, o chão parecia de algodão, como nuvens, e tudo era branco, não dava para saber se tinha paredes ou não.

     Me virei e me assustei com uma mulher parada, sorrindo. Minha mãe.

     "Lisa, se está aqui significa que os achou, descobriu o que aconteceu, mas não tudo. Eu pedi que não te contassem tudo sobre Alexa, queria que soubesse por mim. Você estava em meus braços a alguns minutos atrás, tão pequena, tão frágil. Patrick acabou de te levar para um lugar seguro, já devem estar quase lá, enquanto eu continuo aqui para ser morta em nome do homem que eu amo. Seu pai, o rei Arthur, o único a quem amei. Espero que não tenha raiva de mim por isso." Os olhos dela estavam cheios de lágrimas, seu semblante triste. "Minha filha, eu daria tudo para ter feito a escolha certa, para poder voltar e concertar tudo. Tudo começou quando Alexa conheceu aquele camponês, eu avisei que ele era perigoso, um estranho, algo estava errado, mas ela não me ouviu. Ele fez algo com ela, ele a destruiu de dentro pra fora, ela era uma pessoa maravilhosa, mas só saiu uma coisa boa disso, o pequeno Will, não irei conhecê-lo, adoraria ter essa oportunidade, mas não dá tempo, então deixo isso com você. Ajude o filho de Alexa, não sei se o conhece, mas você precisa, ele é a chave. Ele trancará as portas com a sua ajuda." Agora seus olhos transbordavam e ela se esforçava para falar. "Me perdoe por esse inferno que a fiz passar. Mas eu não posso fugir, não posso os deixar para trás, essa guerra começou quando eu e seu pai nos apaixonamos. Humanos e bruxos perturbam o equilíbrio, mas o que poderiamos fazer? O seu nascimento foi o estopim, então acabe com isso. Você e William. Saiba que eu te amo, minha pequena. Espero que um dia me perdoe e entenda a escolha que fiz. Tem coisas que vale a pena lutar nessa vida, e nesse caminho temos que fazer sacrifícios as vezes."

     Tudo ficou turvo e eu voltei a enxergar o quarto onde estava deitada. Olhei em volta e vi Will se contorcendo no chão enquanto Patrick o amparava para que não se machucasse.

-O que está acontecendo? - perguntei não só confusa com aquela situação mas também com o que eu tinha acabado de escutar.

-Will é mestiço filho de um mestiço, ele está sofrendo alguma mutação. - me ajoelhei ao lado do Patrick.

-Como assim mutação? - Sequei as lágrimas que tinham caído pelo meu rosto e tentei focar no Will.

-Ninguém sabe como eles podem ficar depois da mutação, alguns tem alguma deformidade, outros mudam a cor do cabelo, nunca se sabe o que pode acontecer.

     Will parou de se contorcer e ficou encarando o teto eu não sabia se encostava nele ou não, mas estava preocupada com seu estado e a pele muito avermelhada de seu rosto.

-Will? - Ele piscou e virou um pouco o rosto para me olhar. - O que está sentindo?

-Eu não sei, nunca me senti assim depois de uma crise epiléptica. - o olhei confusa. - Era o que os médicos diziam que eu tinha desde a infância. Acontecem raramente.

-Sua mãe cuidou de tudo mesmo. - Patrick se levantou e respirou fundo em alívio.

-Falando nisso, temos que ir atrás dela. - Will me olhou confuso e eu expliquei tudo da visão para ele.