11 - Qualquer coisa por você

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     Já tínhamos tudo pronto para ir. Meu nervosismo poderia ser sentido por todos a minha volta, assim como minha insegurança perto do Will. Eu passei a noite toda em claro, não me permitiram dormir em outro quarto, e ao lado do Will foi impossível.
     Eu estava sentada na cama enquanto Will terminava de amarrar seus sapatos quando um guarda entrou anunciando a morte de mais uma pessoa. Nós o acompanhamos até a entrada do castelo onde o corpo de um homem estava jogado nas escadas.
     Peter. Ele foi a vítima dessa vez. Não são humanos comuns que estão sendo mortos. Somos nós. Bruxas. E isso não é uma guerra de bruxas e humanos, é uma tentativa de extermínio camuflada.
     Tentei correr até o Peter na hora em que o reconheci, mas braços me seguraram pela cintura e me puxaram para longe.
-Se você se envolver mais, eles podem exigir interrogatório. - Will falou no meu ouvido e eu me forcei a me acalmar. - Fique quieta e aja naturalmente.
     Olhei para o Corpo jogado e vi sua pulseira brilhando na luz solar. A pedra.
-Eu quero a pedra. - Falei e Will seguiu meu olhar.
     Ele foi até o corpo como se fosse inspecionar o corpo e discretamente removeu a pulseira dele. Peter não iria mais precisar disso, mas eu sim.
-Agora vamos, será mais fácil viajar com todos aqui. - Ele me puxou pelo braço e seguimos o guarda para a os jardins do castelo, onde um carro nos esperava para irmos a nossa aventura.
     Eu já estava no carro olhando pela janela quando vi o Sam correndo em uma roupa nada parecida com a que ele costuma usar.
-Eu vou com vocês. - Ele disse e jogou a mochila na mala do carro.
-É perigoso. - Will tentou questionar mas eu sabia que ele não queria mais alguém envolvido nisso.
-Eu sei, mas vocês vão precisar de mim. - Mais um pra morrer.
-Eu dirijo. - Will entrou no carro e olhou para mim dando um sorriso encorajador. - Alguém sabe por onde começar?
-Eu mapeei todas as cidades com índice de bruxaria. - Sam entrou e abriu um pequeno mapa para que conseguíssemos ver. - Essa aqui é a primeira. - Ele apontou para uma cidade de nome esquisito que eu nem tento falar. - Existia um clã nessa região que foi desfeito depois do grande massacre. Acho que vale tentar.
-Então vamos. - Falei mais animada por poder conhecer um pouco mais do que eu sou.
-Espero que essas bruxas sejam amigaveis. - Will falou e eu tive que concordar, algumas não são muito boas.
     Enquanto andávamos pela estrada repleta de árvores e montanhas, eu fiquei rodando a pedra do Peter entre os dedos, achei melhor arrancar ela da pulseira do que andar com ela. A pedra era de um azul escuro como os olhos dele e brilhosa como a essência dele. 
     Fui acordada pelo Will quando chegamos a cidade, uma bela cidade, todas as casas parecem do século passado e trazem um sentimento de paz. Eu sorri enquanto passamos pelas ruas. Estacionamos o carro e fomos até um bar. No caminho eu reparei nas pessoas me olhando estranho e também olhando para o meu colar.
     Fui direto para o balcão para pedir algo para comer e um cara ficou me encarando.
-Desculpa, conheço você? - Perguntei o encarando de volta um pouco incomodada.
-Não está me reconhecendo, Elena? Sou eu, Ted. - Elena. Eu sou tão parecida assim com ela?
-Elena era minha mãe, ela faleceu. - Respondi.
-Então você é a Lisa?  Eu conheci você quando era um bebê, sinto muito pela sua mãe. - A dor em seu rosto ao dizer que sente muito foi tão real que me deixou curiosa. - O que faz aqui?
     Ele me pareceu uma pessoa boa, então expliquei a ele tudo o que tinha se passado e a tristeza em seu olhar se transformou em medo.
-Me desculpe, não posso te ajudar, não sei sobre isso. - Ted soou sincero. - Ninguém que eu conheça pode ajudar. Se quer meu conselho, vá embora, suma desse país, eles querem vingança e não vão descansar. - Seu tom de voz ficou assustador.
-Eles quem? - Gostaria que ele fosse claro.
-Apenas Eles! - Com essa resposta dele eu me virei para poder fazer o que queria quando cheguei ali. - Tome cuidado. - Ele falou tocando meu braço e eu mudei de ideia, puxei Will e Sam para longe dali.
-O que aconteceu? - Sam perguntou sem entender nada.
-Nada. - Respondi sem paciência.
-Nada aconteceu, é isso? - Will perguntou descrente.
-Eu só sei que tem pessoas nessa cidade que tem as respostas que eu preciso. - Falei e Will tomou um caminho sem ninguém falar nada.
     Depois de mais de uma hora dirigindo para dentro da cidade, Will parou em um belo hotel.
-Eu não me importo de ficar no carro. - Falei olhando para a luxuosidade do hotel pensando no quanto aquilo deveria custar.
-Nem eu. - Sam falou também olhando pro hotel.
-Mas eu sim, preciso descansar para dirigir amanhã, então nós vamos ficar aqui e acabou. - Will deu o veredito.
-Como quiser, vossa alteza. - Sai do carro levando a bolsa comigo, tomar um banho seria uma coisa muito boa.
     Foi Will quem foi até a recepção e pediu pelos quartos, e para a nossa felicidade só tinham dois disponíveis, o que gerou uma discussão. Eu queria um quarto só para mim, mas Will queria que eu ficasse no mesmo quarto que ele, e eu não dividiria um quarto com o Sam, e sem condições dos dois ficarem juntos.
-Faz o que você quiser. - Will desistiu e pegou a chave do quarto. - Dorme em um dos sofás da recepção se for preciso. - Ele foi para o elevador e eu fiquei lá olhando enquanto ele sumia da minha vista.
     Minha opinião não valia nada pelo visto. Sam não perdeu tempo de pegar a outra chave para me deixar sem ter onde dormir, e o sofá não era uma opção.
     Peguei o elevador junto com o Sam, não sabia com que cara eu ia bater naquela porta, mas eu ia dormir ali. Os quartos ficavam um ao lado do outro e eu fiquei alguns minutos parada ali na frente.
-Lisa, não esperava te ver aqui. - Will falou ao abrir a porta depois de eu ter batido duas vezes. - Pensei que fosse dormir com o Sam.
     Ele me deixou entrar e eu coloquei minha bolsa no chão.
-Você me parece irritado e eu não consigo entender o motivo. - Tirei meus sapatos e suspirei aliviada.
-Não precisa fingir que se importa. - Ele passou por mim e eu me virei com raiva.
-Eu não estou fingindo, porque se tem uma pessoa aqui que tem motivo para ficar irritada, sou eu! - Mas é claro que ele não se importa.
-Claro, porque você sempre pode tudo. - Eu me segurei para não voar com a minha mão na cara dele.
-Eu posso tudo? - Não sou o filho mimado. - Você me corta em público, faz questão de deixar claro que eu não tenho importância nenhuma para você e acha que eu não tenho direito de ficar irritada? - Gritei para ele e me afastei para poder me acalmar.
-Eu expliquei porque fiz aquilo. - Claro, para manter sua reputação.
-E acha fácil acreditar? - Dei uma risada e toquei minha garganta onde ele tinha feito o pequeno corte. - Você não parecia estar fingindo.
-Se eu parecesse estar fingindo, eles teriam te matado. - Talvez eu tivesse preferido isso. - Lisa, nós podemos estar no século 21, mas as coisas não mudaram. Você seria queimada, você iria morrer e... - Ele parou e ficou olhando para o nada. - Esqece.
-Esquecer? Will, você quer que eu confie em você, mas você não confia em mim. - Não ao ponto de me contar algo.
-Eu confio em você, não estaria aqui se não confiasse. Você é uma bruxa, pode acabar comigo em segundos, acredito que isso seja prova de confiança o suficiente. - Eu não consegui evitar rir do que ele disse.
-Will, eu não sou uma bruxa completa quando mal sei usar meus poderes. - Olhei para minhas mãos que pareciam tão inúteis no meu colo.
-E quem disse que você precisa de poderes para acabar comigo? - O olhei confusa tentando decifrar o que isso significava. - Basta olhar para mim com o desprezo de sempre e estará fazendo um trabalho exemplar.
-Eu não entendo você, juro que não entendo. - Soltei um suspiro e o olhei incrédula.
-Você se importa comigo? - Me joguei na cama e me sentei da forma mais confortável que pude. - Não interessa o que aconteceu antes ou o modo como ficamos juntos, você se importa?
     Eu me importava sim, e não conseguiria mentir isso. Mesmo eu não querendo que isso acontecesse, Will se tornou uma das pessoas mais importantes para mim, eu aprendi a admirar o que eu odiava nele.
-Me importo mais do que eu deveria.
Will subiu na cama e se aproximou de mim, bem lentamente, parecia estar pensando se realmente deveria dar os próximos passos, e eu deixei que ele fizesse o que quisesse naquele momento. Ele se aproximou mais e eu não aguentei mais, o puxei para o melhor beijo da minha vida até aquele momento. Ele inclinou seu corpo me fazendo deitar na cama e se encaixando entre as minhas pernas.
Separei nossos lábios para poder respirar e Will começou a dar vários beijos pelo meu rosto até chegar ao meu pescoço. Eu sabia o que viria depois, nunca tinha estado sexualmente com alguém antes, e não me sentia pronta para estar agora.
-Will. - Chamei seu nome e soltei um suspiro. Ao mesmo tempo que eu queria parar, eu também queria continuar. - Will, podemos apenas dormir? - Perguntei decepcionada comigo mesma.
-Qualquer coisa por você. - Ele levantou seu rosto e sorriu para mim, se jogando ao meu lado logo em seguida.

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