18 - Tobias

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-O que você quer? - Eu não esperava mais do que isso vendo o estado em que ele está.
-Conversar com você. - Falei mantendo uma distância considerável.
-Me desculpa por não ter contado, eu precisava saber de qual lado você estava de verdade. - Ou eu achava que precisava.
-Você ainda têm duvidas? - Ele me olhou e eu reparei nos seus olhos vermelhos.
-Não, eu não tenho. - Senti o aperto no meu peito, a culpa por ter o deixado assim.
-Ótimo, porque agora quem tem dúvidas sou eu. - Will saiu tão rápido que eu quase não o acompanhei.
-Dúvidas do que? - Corri para conseguir chegar perto e andei ao seu lado.
-Só dúvidas. - por um segundo ele olhou para mim. -Eu não sei se você está comigo para punir minha mãe, e se estiver, fique sabendo que não vai dar certo. Ela não gosta de mim.
-Primeiro, eu nunca quis me casar com você. - Dei uma corridinha e comecei a andar de costas pra poder ver a cara dele. - Segundo, eu odeio sua mãe, mas não usaria você para puni-la.
-Não precisa se explicar, obrigar você a se casar foi um erro e agora enxergo isso, mas pode ficar tranquila, quando isso acabar - ele fez uma pausa e tirou sua aliança. - estará livre de mim.
-Você pode parar de ser mimado só por alguns minutos? - Parei o que fez ele parar também.
-Acho que eu não conseguiria nem se tentasse, sabe o que é crescer com uma família que nem liga para você? Que quando você pede atenção, lhe dão brinquedos? - Eu sentia a dor na sua voz, seu olhos estavam marejados e eu só queria o abraçar, mas ele não queria isso. - Eu cresci me olhando no espelho, era díficil enxergar alguém além de mim, até eu ver você. Mas eu estava enganado, ainda estou olhando no espelho. - Ele soltou a aliança, deixando que caísse no chão, e me contornou para continuar seu caminho.
-Eu não sei como é isso, cresci em uma casa com uma tia que não tem parentesco algum comigo. - Peguei a aliança e a envolvi com meus dedos para a manter segura ali. - Não sei o que é uma família.
-E olha o que você se tornou. - Ele se virou apontando para mim. - Uma pessoa boa e amigável. Acho que as vezes é melhor não ter família.
Essa frase me fez travar no lugar. Will não sabe o peso que é não ter familia, eu só tive a tia Bertha, e eu agradeço muito por ter ela, mas sempre desejei um pai e uma mãe comigo, sempre sofri nos dias das mães e nos dias dos pães, nunca ganhei um presente por não termos condições de comprar. Nunca tive uma família. Deixei que Will fosse e segurei a vontade de chorar. Encaixei a aliança em meu dedo e comecei a andar, me perguntando o que eu faria depois de concertar tudo, eu estaria sozinha de novo.
Tomei meu último banho naquela cidade mágica, peguei minha coisas e me preparei para sair, eu não sabia onde Will estava, se já tinha ido, se já tinha ficado, tentei não me importar com isso, mas estava muito difícil de ignorar todos esses sentimentos que estavam dentro de mim.
Não notei o tempo passando, quando vi, já estava na fronteira daquela cidade, e o carro não estava mais lá. Ao invés do carro, tinha uma van, e eu comecei a recuar, algo em mim sentia o perigo ali. Mas não pude sentir o perigo que vinha por traz. Senti uma dor na minha cabeça e senti meu corpo indo pro chão, eu não apaguei de imediato, senti cada soco e cada chute que recebi, cada parte de mim que foi pisada e lancetada naquele asfalto, senti um gostinho da morte e desejei encontrá-la o quanto antes. Fui arrastada até a van e jogada lá dentro, permiti que meu corpo sucumbisse a dor e me deixei apagar. Eu aguentaria aquilo melhor desacordada.
Acordei quando estava sendo presa a uma cadeira, como se eu tivesse capacidade de correr com tantos hematomas, olhei em volta com meu olho bom, o outro estava tão inchado que eu não era capaz de enxergar muito bem. Eu estava em uma sala, presa a uma cadeira, tinha um homem parado em frente a uma janela que jogava a luz do sol lá para dentro.
-Lisa, a quanto tempo não vejo uma legítima Summers. - Sua voz carregava poder, ele devia ser o chefe por ali.
-Eu diria que é um prazer te conhecer também, mas não faço ideia de quem você seja. - Minha voz estava afetada pelos machucados nos lábios.
-Eu sou Tobias, o comandante dos mesticos. - È claro.
Tobias se virou e sorriu para mim, ele seria muito charmoso se eu não soubesse a maldade que existe no seu coração.
-E vai fazer o que, Tobias? Me matar? - Deu uma risada que virou um engasgo por conta do sangue na minha boca. - Por que não me entrega logo para a Alexa?
-Alexa não tem jurisdição aqui. - Ele puxou uma cadeira e se sentou na minha frente.
-Não me importo com quem manda aqui. - Senti minha cabeça rodar e me esforcei para não apagar mais uma vez.
-Eu sei que não, mas a essa altura sabe o porque de estar aqui. - ele se aproximou mais ainda. - Sabe também que iremos matá-la.
-Fala logo o que você quer. - Um sorriso de aprovação abriu no seu rosto.
-Junte-se a mim como a segunda em comando na marcha contra os bruxos de sangue impuro. - Ele se levantou fazendo uma pose de glória que me fez rir mais uma vez.
-Você deve saber que eu sou uma impura. - Tobias se ajoelhou e segurou meu rosto com suas mãos.
-Seu sangue é diferente. Nem puro, nem impuro. Apenas sangue de bruxa. - ele falou fascinado e só faltou me beijar.
-Eu não ficarei ao seu lado, prefiro morrer. - cuspi meu sangue na sua cara e ele se afastou rapidamente.
-Seu desejo é uma ordem. - Tobias se limpou com um lenço e saiu da sala junto com seus guardas.
Um deles ficou e me puxou pelo braço para que eu levantasse, foi pouco difícil pelos inchaços e hematomas doloridos. Fui jogada em uma cela imunda, e me arrastei lentamente até a cama que tinha ali. Eu estava sedenta e faminta, mas não tinha nada para mim, e duvido que eles fossem me dar algo. Me sentei e deixei a dor me guiar pra a inconsciência.
Escutei o barulho da fechadura da porta e abri meus olhos, o olho que dava para abrir pelo menos, fiquei alerta e observei enquanto um homem encapuzado entrou e me levantou com um pouco mais de delicadeza do que os outros.
-Onde estamos indo? - perguntei achando que estava cedo demais para a minha hora da morte. Foi tudo muito rápido.
-Jura que não sabe? - Will?! Tropecei ao perceber que era ele e quase caí. Fui guiada até a praça lotada e vi várias pessoas em volta. - Ah ótimo. - Por que ele estava me levando para ali?
-Quando eu errar, você corre. Sam está esperando na coloca, irei logo atrás de você. - Ele sussurro para mim e me empurrou para o meio da praça.
Por que ele iria me ajudar depois do que disse? Depois de ter jogado a aliança fora e me deixado para trás.

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