Não me deixe ao caos

Capítulo 17 - Avalanche

Cassie viu Matthew Turner sentado à mesa de longe.

E seus pés estavam a matando aos poucos.

Após seu discurso comovente e extremamente sincero, os convidados caíram em cima dela com milhões de vontades diferentes, alguns amigos da família de Ruby queriam a consolar pela perda de sua mãe, os amigos idosos dos pais de Jack a fizeram perguntas demais sobre seu futuro, sua faculdade, sua vida amorosa e até mesmo sobre que porcaria era "Tony Stark e Pepper" (O que Cassie achou um absurdo, ninguém deveria se referir a eles os chamando de "porcaria"). Após milhares de conversas ela viu alguém alto e de cabelos extremamente escuros se aproximando, mas ela não estava pronta para falar com ele agora, então sua melhor opção foi dançar com todos que a chamavam.

E quando disse todos, quis dizer que literalmente ela dançou com quase todos os convidados, homens adultos, os primos da família de Jack, seus avós e os avós de Ruby, crianças pequenas e até um garçom a chamou para dançar. O que ela não faria para adiar uma conversa com Matthew Turner não é mesmo?

Mas o que aquilo teria de tão ruim? Ela estava confusa, eram muitos sentimentos aflorados em seu peito em um mesmo dia, na verdade eram muitos sentimentos em um período curto de horas, não tinha terapia que desse um jeito de deixá-la calma com tanta coisa pulando em seu coração e gritando em sua mente. Ela gostava do guitarrista e sabia que ele também sentia algo por ela, mas seu medo de tudo desmoronar em sua cabeça novamente a prendia no chão e não a deixava se entregar, Cassie não poderia ter seu coração quebrado de novo, ele foi remendado muitas vezes por muitos motivos diferentes, ele não suportaria mais uma queda.

— Oi, Cassie não é? — Uma voz grossa e séria soou em suas costas enquanto ela colocava o último pedaço de macarrão em sua boca.

— Sim sou... — A garota arregalou levemente os olhos enquanto olhava para o homem, o mesmo homem com a linda pele escura e as sobrancelhas grossas que ela viu sentado na cerimônia a algumas horas. — S-sou eu.

— Será que posso falar com você um instante? Não vai demorar.

— Claro.

Cassie se levantou e lentamente foi até uma estátua brega de gárgula localizada ao lado da pista de dança, que estava cheia de pessoas dançando animadamente uma música do ABBA, inclusive Jack que estava bastante desengonçado ao lado de um Miles extremamente sorridente.

— Talvez você não lembre de mim, na verdade acho que não se lembra já que a última vez que te vi foi quando você tinha uns dois anos, três no máximo — O homem começou rouco. — Bom, eu sou Lincoln, mas pode me chamar só de Link, eu era...

— Amigo da minha mãe — Cassie completou com cautela. — Você não me é estranho.

Apesar de parecer bastante intimidador, Lincoln, como se apresentou, parecia ser alegre e sorrir com frequência, seu cabelo tinha alguns dreads amarrados para trás e sua barba rala estava perfeitamente delimitada. Um brinco prateado estava pendurado em uma de suas orelhas e um colar de bolinhas de madeira estava em seu pescoço, seu smoking estava minimamente amassado e um cheiro forte de perfume invadia as narinas de Cassie. Ele parecia estranhamente familiar, era uma sensação estranha demais para a garota.

— Eu e Kath fomos colegas na universidade, tivemos contato por muito tempo mas eu acabei me mudando de cidade uns anos depois da formatura — Link disse com um pesar em sua voz. — Fiquei anos sem falar com ela direito, até que Ruby me ligou uma vez e...

— Ela tinha morrido.

— Não vim ao enterro.

— Tudo bem, eu também não queria vir — Cassie disse sinceramente.