Bônus - Amélia 1

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Garganta seca, olhos molhados, um silêncio absurdo e uma forte dor no peito, todos esses sintomas juntos não representavam nenhuma doença contagiosa daquelas que é necessário passar quarenta dias trancado em um determinado lugar, também não significada algo incurável, Amélia sabia dessas coisas. Crescer com uma mãe médica, um pai bombeiro e um irmão mais velho quase residente a fez virar uma expert em sintomas e doenças, ela sabia o significado para tudo e a forma de lidar com tudo, menos com aquilo que sentia.

Todos aqueles sintomas foram sentidos três vezes em toda a vida de Amélia, a primeira vez foi quando ela ainda estava no sexto ano, quando era uma garotinha gordinha e sorridente que assistia filmes românticos e sonhava em viver aquilo e acidentalmente teve seu coração acelerado por Michael Hanks, seu melhor amigo. Foi algo platônico, passageiro e cruel, crianças são cruéis e naquele tempo, alguns quilos a mais incomodavam como se aquilo sim fosse uma doença.

A segunda vez que sentiu aqueles sintomas foi a dois anos. Patrick Grandy. Capitão do time de futebol, sonho de consumo de milhares de garotas e melhor amigo de Adam Robinson, coincidentemente irmão de Amélia. Patrick era um gênio em sala de aula e um comediante nos almoços na residência Robinson, esses eram os piores, garotos como ele faziam as garotas rirem tanto que quando elas se davam conta, já estavam deitadas enroladas em lençóis se perguntando onde tudo aquilo começou. E esse era o problema, Amélia entregou seu coração rápido demais e ele foi quebrado mais rápido ainda, era impossível alguém amá-la como ela era, como ela queria ser, sincera e livremente.

A última vez em que sentiu tudo aquilo foi ali, parada no meio daquele bar com a cabeça desligada do mundo e focada em apenas uma coisa, a pessoa que fazia seu coração borbulhar não estava segurando ela nos braços, não estava beijando ela e não estava sorrindo para ela. Kevin Ratford estava com uma garota em seus braços, estava beijando um rosto diferente e sorrindo de algo que a garota estranha havia dito, Amélia não era o motivo da felicidade dele e isso doía, mais do que com Michael, mais do que com Patrick, os sintomas daquele maldito problema pareciam ter se multiplicado.

"Você não está doente Amy, querida, isso é amor."

É mãe, eu odeio essa praga.

— Você quer alguma coisa? Um suco? Salgadinho?

— Obrigada Grace, estou tranquila.

— Mas...

— Pode ir Gray, eu estou bem — Amélia disse com a voz embargada encarando a perfeita pintura de sua parede.

— Tudo bem — Os passos da ruiva ecoaram pelo quarto e logo em seguida o barulho da porta sendo fechada chegou aos ouvidos de Amélia.

Seu quarto estava a mesma coisa de sempre, uma escrivaninha perfeitamente organizada, as prateleiras com seus livros empilhados, seu armário aberto expunha as roupas penduradas e dobradas mas ela estava desorganizada, Amélia estava uma bagunça. Seu corpo deitado na cama encarava a tinta branca da parede enquanto suas lágrimas pendiam para o lado direito, ela se sentia fraca, cansada e machucada, o combo de festas, bebidas e coração partido com certeza não faziam bem para ela.

— Não quero comer Grace, já disse — Amélia disse nervosa se levantando e encarando a porta. — Ah, oi Cass, desculpa por...

— Está tudo bem, o pai de Grace acabou de vir buscá-la.

— Minha mãe...

— Capotou na sala, chegou do plantão a uns dez minutos e disse que precisava só fechar os olhos — Cassie riu. — Ela ronca bem baixinho.

— Eu te disse que era engraçado.

Um pequeno silêncio se fez no quarto, a garota loira encostou a porta do quarto e se sentou ao lado de Amélia, a dupla encarava a escrivaninha sem vontade nenhuma enquanto ouviam o barulho de pessoas e carros que passavam na rua. Não era estranho estar em silêncio com Cassie, Amélia se sentia tranquila, como se a conexão delas fosse tão forte que a falta de palavras não interferia em nada, era confortável ter uma amiga.

Não me deixe ao caosOnde histórias criam vida. Descubra agora