Não me deixe ao caos

Capítulo 27 - Mudança Radical

Cassie odiava funerais, as roupas pretas e as lágrimas, o clima sempre frio e a dor avassaladora que invadia o peito, em sua opinião todos odiavam funerais mas ela, mais do que todos, com certeza tinha um certo trauma e um histórico conturbado com esses acontecimentos trágicos. O vento gelado soprou em seu rosto e em seu lado esquerdo ela sentiu Amélia se mexer desconfortavelmente enquanto apertava o casaco contra seu próprio corpo, uma fungada alta soou a algumas cadeiras a frente de um homem que ela reconheceu ser um dos funcionários do bar e instantaneamente um arrepio correu seu corpo. Ela precisava vomitar.

Discretamente a garota se levantou da última cadeira posicionada ao fundo da capela e seus saltos baixos caminharam fingindo calma até um dos corredores onde os banheiros ficavam localizados, Cassie não se conteve e correu até o box mais próximo, tudo que ela havia comido naquela manhã saiu de sua barriga de uma vez e o gosto amargo pousou em sua língua lhe dando a sensação horrível de sujeira. Era difícil ainda, Lis, sua terapeuta, a ajudava todas as semanas e a dor em seu peito diminuiu gradativamente porém, ainda sim era difícil estar em um velório, o cheiro das flores e sentimento de perda a fizeram vomitar ainda mais e trouxeram de volta aquela dor chata parada em sua alma.

O mais depressa que pode a garota se recompôs e voltou a cerimônia, Linda estava parada atrás do púlpito fazendo uma linda e emocionante declaração enquanto derramava algumas lágrimas, os olhos de Cassie pairaram na cabeça de cabelos escuros e bagunçados na primeira fileira e a preocupação a atingiu como mil facas de uma vez. Ela sabia como era difícil perder alguém que se amava tanto, Matthew não, bom, ele estava descobrindo e conhecendo o garoto como ela conhecia, não seria nada fácil ajudá-lo a lidar com isso.

Ele não fez nenhuma homenagem e também não apareceu no almoço na casa de Linda, Kevin informou que ele saiu com o Cadillac sem dizer aonde iria e com certeza não atenderia seu telefone, algo confirmado depois das quase quarenta ligações que Cassie fez ao namorado. Ruby, Jack, a família de Amélia e milhares de outras pessoas próximas se mostraram cem por cento dispostos a ajudar Linda e Matthew, o que causou uma enorme comoção da mulher e um silêncio ensurdecedor do guitarrista ainda desaparecido.

Eram três da manhã quando a porta do apartamento foi escancarada e o barulho de coisas caindo acordou Cassie que dormia na cama do garoto, ao sair do quarto encontrou Kevin correndo até a sala e uma Amélia sonolenta o seguindo com a mesma preocupação estampada no rosto da loira. Os três amigos pararam repentinamente e Amélia acendeu uma das luzes do cômodo, Matthew entrava cambaleando enquanto segurava uma garrafa quase vazia de whisky e a camisa branca — antes coberta pelo terno — extremamente amassada e aberta, o garoto fechou a porta sem se importar com o barulho e ao reparar nos amigos o encarando revirou os olhos em nervosismo.

Suas pupilas estavam dilatadas e os olhos vermelhos, o cheiro de álcool, cigarro e maconha se misturava no ar e a garrafa em suas mãos foi virada completamente em sua boca, com as costas da mão Matthew limpou o que escorreu em seu rosto e sem olhar para nenhum dos três ali presentes se arrastou para seu quarto, fechando a porta na mesma força que abriu a de entrada a alguns segundos.

— Ele estava sem fumar a quanto tempo? — Amy sussurrou.

— Desde o início das aulas.

Cassie se apressou e entrou no quarto de Matthew, ele revirava uma de suas gavetas a procura de erva e quando encontrou seu estoque antigo — algo que Cassie com certeza não sabia que ele tinha — se jogou na cama para montar seu baseado, não se importando nem um pouco com a presença da garota ali.

— Matthew.

Silêncio.

— Sei que está mal mas será que podemos conversar um pouco?