Capítulo 48 - Você brilhou

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Meus dias não vêm sido dos melhores desde a morte dos meus pais, com toda certeza a pior parte foi a aceitação, e logo depois que ela chegou eu não pude me conter em me isolar de tudo. Eu odeio tudo isso, a sensação de querer estar sozinha mas não querer se sentir só me consome, e eu sigo tentando acreditar em dias melhores.

Esse é o problema, eu não queria ter que acreditar em mais nada, eu me sinto tão exausta de ter que sentir tanto, e principalmente de sentir culpa. Não estava no pacote ficar sem comer, eu apenas não consigo digerir a comida sem vomitar a mesma logo em seguida, já cheguei a desmaiar algumas vezes e foi aí que resolvi não sair mais do meu quarto. Meus amigos cuidam de mim desde sempre, mas eu os afastei quando meu mundo desabou e quando as coisas começaram a ficar feias pra mim, eles voltaram. Afastei-me de todos à minha volta pois precisava ficar sozinha, eu não iria conseguir fingir estar bem depois do que aconteceu, e ainda dói.

Fiz esforço para que eu conseguisse fazer a sopa descer pela minha garganta e permanecer no meu estômago, era a única comida que descia com facilidade e eu não colocava para fora logo em seguida. Mesmo assim demorei para me acostumar com a ideia de voltar a comer sem colocar tudo pra fora, e acabei parando de comer novamente por vários dias, mas retornando graças todas as tentativas dos meus amigos, que não foram poucas.

Passo a maior parte dos meus dias trancada no meu quarto, minha nova zona de conforto. Tenho uma prateleira de livros nos quais eu me prendo para escapar da realidade que tanto me odeia, e minhas noites de sono também não vêm sido das melhores, então passo noventa e nove porcento do meu dia lendo, e os outros um porcento observando a lareira quentinha. O meu sono está totalmente desregulado, venho acordando no meio da noite inúmeras vezes soando, e gritando com medo de algo, algo que sonhei e não foi nem um pouco agradável.

Costumo colocar feitiços para que ninguém se assuste com meus gritos nas madrugadas, não comentei nada disso com meus amigos pois estou conseguindo lidar até agora, vêm acontecendo desde algumas semanas depois da morte dos meus pais.

Há alguns meses atrás a professora Minerva me chamou para conversar enquanto eu me encontrava perdida nos corredores, a mesma me contou sobre um quarto no qual não havia ninguém instalado nele. Fomos ver o mesmo, e ela me contou que ele pertencia à mim, dizendo que era presente de uma pessoa anônima na qual eu não precisava me preocupar. Eu estava tão perdida, tão sem rumo que aceitei o quarto sem pensar duas vezes, e sem me perguntar quem poderia ter me presenteado com um quarto apenas pedi para a professora Minerva agradecer a tal pessoa, e no dia seguinte fiz a minha mudança.

Quando Draco e Mattheo souberam do meu desmaio, eles vieram ao meu encontro mas pedi para os meus amigos não permitirem que mais ninguém se envolvesse nas minhas bagunças, e ambos apenas respeitaram isso. A culpa é toda minha, mas eu os culpei por muito tempo também, tudo que eles fizeram foi para me ajudar mas eu não parava de pensar como seria se eles não tivessem aparecido, talvez meus pais ainda estivessem vivos, ou não... Depois de um longo tempo percebi que não valia à pena jogar a culpa nas pessoas.

A água morna passava pelo meu corpo enquanto os meus pensamentos estavam à milhão. Eu estava sentindo falta de algo, de alguém em específico... Dele, Mattheo Riddle. Comecei a pensar em todos os nossos momentos felizes, e pela primeira vez em meses eu me peguei sorrindo boba, eu sentia falta dele, do abraço dele, do sorriso, da forma bruta como ele lidava com garotos que davam encima de mim, dos seus beijos... Tudo isso voltando agora, e de uma única vez é algo tão gostoso de sentir.

Após terminar meu banho, colocar um pijama quentinho, e pentear meus cabelos, resolvi sair um pouco do meu quarto para variar. Caminhei até a comunal me sentando no sofá, não tinha ninguém, e se ouvia apenas o som do silêncio da madrugada.

𝘖 𝘓𝘦𝘨𝘢𝘥𝘰Onde histórias criam vida. Descubra agora