xiv.

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Katniss odiava multidões, de todos os tipos. Ela não era a maior fã de festas também, para ser honesta, mas não tinha um problema particular com comemorações. Afinal, ela gostava das festas de final de ano, de ação de graças, de aniversários. O problema estava nas pessoas. Então ter várias delas reunidas num único lugar, celebrando alguma coisa e, portanto, arruinando a chance dela de se divertir enquanto celebrava não era uma perspectiva muito animadora.

Era por isso que ela se recusava a se mexer da cama onde estava deitando, lendo um livro.

— Vamos, Katniss! Por favor! Eu quero muito ir, mas eu não posso sem você. — Prim implorou, ajoelhada do seu lado na cama, fazendo com que o colchão balançasse.

— Prim, não! — Ela se limitou a dizer, sem sequer erguer os olhos da página diante dela.

Katniss ouviu sua irmã bufar em resposta, como a adolescente de 17 anos que era.

— Que saco, Katniss! Você nunca me ajuda em nada, você não faz nada do que eu peço! — Ela retrucou, se levantando da cama. — Eu vou falar com a mamãe!

Katniss murmurou um "uhum", sabendo que isso afetaria ainda mais Prim. Ela amava a irmã dela, é claro. Mas Primrose ainda era sua irmã mais nova, quatro anos mais nova, e isso na adolescência significava um abismo de opiniões, vontades e percepções entre as duas.

Cinco páginas foi tudo o que ela teve tempo de ler antes de Prim entrar pela porta do quarto de hotel que dividiam com a mãe delas em seu encalço.

— Não precisa nem perguntar, a resposta é não. — Ela avisou, intrigada demais com o enredo de seu livro para dar atenção ao complô que se formara contra ela.

— Katniss. — Sua mãe chamou, seu tom sério.

— O quê?

— Eu estou falando com você, olha para mim.

Katniss revirou os olhos, mas marcou o seu livro e se virou para sua mãe, quem estava muito formal para alguém que passaria a noite num quarto de hotel. O vestido midi de mangas não era o que ela tinha em mente para uma noite de quarta feira. Mas talvez fizesse algum sentido considerando que era quarta feira de ano novo.

— Pronto, a senhora tem a minha completa atenção. — O sarcasmo escorria dos lábios de Katniss sem que ela sequer notasse. — E a resposta ainda é não.

— Tá vendo, mãe?! Eu te disse! — Prim se meteu, gesticulando efusivamente, querendo se fazer ouvida. Querendo que elas entendessem a injustiça de tudo aquilo.

— Cala a boca, Prim! — Katniss rebateu ao mesmo tempo que sua mãe ralhou:

— Primrose, quieta! Eu estou resolvendo isso. Você pode ir se arrumar.
Prim saiu saltitante para o banheiro e, no caminho, deu língua para a outra adolescente na cama.

— Katniss, eu só vou falar uma vez e eu não quero ouvir um pio. Você vai sair desse quarto e acompanhar a sua irmã àquela festa. 23h50 eu quero vocês duas no saguão para irmos ver os fogos. Eu fui clara?

— Eu não vou! Isso é ridículo! Por que eu tenho que ir com ela? Por que a senhora não vai? Isso é... — Ela poderia continuar por mais algumas horas, mas foi impedida logo no início pelos olhos cerrados de sua mãe.

— Porque eu estou pedindo para você acompanhá-la! Você sabe o quanto eu trabalho, sabe que eu só tenho esta semana de folga e sabe que eu mereço um descanso. Então tudo que eu estou pedindo é que você acompanhe a sua irmã para uma festa por apenas algumas horas e me ajude.

Sua mãe disse calmamente. A expressão dela era firme, contundente, mas ficou claro o quanto aquelas horas, fazendo seja lá o que ela fosse fazer, significavam para ela. E, bem lá no fundo, Katniss conseguia entender o que ela queria dizer.

it would have happened anywayOnde histórias criam vida. Descubra agora