ela se dá conta de que está suando quando toca as dobras de seus joelhos e ambas voltam empapadas. ela limpa as mãos na saia do vestido ridículo que está usando.
não, não ridículo. cinna jamais poderia fazer nada ridículo. ela, no entanto, era outra história. katniss pode jurar que tudo o que faz é estúpido. uma estupidez atrás da outra. uma lista tão longa que se começasse poderia não chegar ao fim. então ela decide não começar. em vez disso, como no 2, permite-se fazer algo muito pior: pensar em peeta. quantas vezes alguém poderia ficar de luto por uma mesma pessoa, ela se perguntava, em vão. as lágrimas grossas ainda escorrendo pelo rosto; a sua tentativa estúpida de sorver oxigênio a deixando trêmula.
ele conseguia olhar para ela agora, vê-la, mas a troco do quê? katniss se esforçava para reconhecer os olhos azuis, antes tão gentis, cautelosos e repletos de reprovação que a encararam horas antes.
ela já percorreu esse caminho antes, refez toda essa trilha onde tenta definir e descobrir os passos de peeta na tentativa fútil de entendê-lo. mas não pode evitar sentir ânsia ao pensar no peeta com quem conversou há pouco e no garoto com o pão.
antes, a mesma pessoa. agora duas faces de duas moedas completamente diferentes, de modo que parece errado à memória do antigo peeta compará-lo àquela casca de pessoa presa com três correias em cada braço a uma cama de hospital, cogitar fazer a conexão entre essa nova versão e o dente de leão que lhe deu esperança de dias melhores.
mesmo a voz dele... até isso soa estranho aos seus ouvidos. parece com a dele, mas katniss é incapaz de reconhecê-la. ele sente falta dela? não, provavelmente não. ele não se lembra dele. ele nem está lá para falar a verdade. o peeta que conheceu está morto e foi enterrado naquele corpo que tenta machucá-la toda vez que a vê.
a parte mais difícil, ela se dá conta, é aceitar isso. aceitar que ele foi embora mesmo quando ele está diante dela; não há onde procurar, não há como fingir que o verdadeiro peeta está numa cela da capital e tudo não passou de um grande, e infeliz, mal entendido. katniss se força a repetir as palavras pungentes de outrora: "ele não existe mais. seja lá o que tenha existido entre nós dois, acabou."
talvez dessa vez ela finalmente acredite e pare de buscar no rosto dele alguém que não mais existe.
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it would have happened anyway
Fiksi Penggemarcoletânea de histórias curtas de everlark que postei no twitter e no tumblr.