Uma questão de classe

11 0 0
                                    

Depois de vencer as caóticas ruas atulhadas do apertado reino dos goblins, finalmente chegaram ao portão leste. Malcon arregalou os olhos quando viu a grande coisa de pele cinza andando em direção ao carro. Aerin se divertia enquanto observava de modo discreto a reação de seu contratante.

"Esse aí nunca deve ter visto um ogro de perto"

Certamente não podia censurá-lo. Estudar sobre as raças de meta humanos na escola era uma coisa. Ver um ogro com pouco mais de três metros de altura se aproximando, seus pés enormes marretando o chão a cada passo, enquanto braços compridos feitos de músculos e veias saltadas balançavam como pêndulos mortais prontos para esmagar alguma cabeça... isso era outra coisa. Como se a imponência física não bastasse, ele ainda trajava um peitoral branco fosco, de material desconhecido, moldado no que parecia ser a cabeça de algum demônio, com suas ombreiras em forma de chifres, os olhos logo abaixo na altura do tórax, o nariz de porco e boca de dentes serrilhados cobrindo seu abdômen. Acima dele se projetava o cabo de uma espada enorme, cuja lâmina era guardada por uma bainha coberta de couro sintético preto. Seus antebraços e pernas eram protegidos por placas do mesmo material, onde runas de significado oculto apareciam entalhadas. As mesmas runas também estavam escarificadas em sua cabeça careca. Apesar de tudo isso, Malcon não parecia assustado para o elfo. Admirado talvez? Espantado? Mas não assustado.

Isso é...

Cuidado com o que vai falar.

Um monstro...

Abaixou-se até sua enorme cabeça quase tampar toda visão da janela do motorista. Dois dentes pontudos se projetavam da boca, apontando em direção aos olhos completamente negros. A voz gutural parecia sair de cordas vocais pouco acostumadas a falar, e mais habituadas a grunhidos e rosnados. Apesar disso, para surpresa de Malcon, seu tom passava uma cortesia formal:

Satisfação em vê-lo Aerin.
Suas orelhas pontudas se eriçaram levemente.

Vejo que trouxe um amigo?

A satisfação é toda minha Rhojoko. Este ao meu lado é Malcon. Viemos a negócios.

Sim, já estou ciente.

Ah, é mesmo?

Recebi orientação para acompanhá-los pessoalmente. Devem deixar seu carro com as chaves aqui. Peguem apenas o necessário e sigam para o acesso de pedestres. Estarei aguardando após passarem pela revista.

Dito isso, Rhojoko se foi, cada passo seu contando como dois ou três dos passos deles. Enquanto ele se afastava, os dois desceram do carro, se dirigindo para o acesso.

Isso é... normal? Esse procedimento?

O carro ficar aqui sim. A revista sim. Mas Rhojoko vir até aqui para nos escoltar... Não esperava por isso.

Isso é bom ou ruim?

Pode ser excelente. Ou Péssimo. Ele é o chefe de segurança do setor dos visheshagi. Como falei antes, aqui se reúnem os profissionais mais habilidosos de cada classe. Dizem que não há guerreiro arcano mais habilidoso que Rhojoko. Seu sucesso nas missões foi tão grande que recebeu uma oferta da cúpula administrativa para deixar de atuar como simples freelancer, passando a trabalhar como contratado fixo deles. Para ele estar fazendo isso, com certeza foi ordem de algum peixe muito grande.

Vamos pescar então.

Aerin lançou um olhar de censura para ele.

Malcon, você está me pagando bem, mas se eu sentir que seu cinismo imprudente pode me colocar em risco, eu caio fora.

Estou sentindo falta de seu humor descontraído Aerin. É uma pena não termos incluído isso no pagamento.

Como resposta o elfo apenas apertou o passo até o posto de revista.

Um futuro estranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora