Um futuro estranho

A queda

Os poucos soldados restantes foram abatidos como moscas por seus golpes.
Ele olhou para as espadas e sorriu.

"Imagino o quanto aquela elfa deve ter treinado para conseguir manipular estas lâminas com tamanha maestria. E agora, mesmo por um curto tempo, esta técnica é minha. É meu também o conhecimento necessário para destravar aquela última porta. Ali está a pequena fenda por onde é extraído o fluido etéreo. Bem, pequena por enquanto. Estes tolos acreditaram que poderiam pegar algo de Pandemônio de forma segura… até conseguiram fazer isso.
Até agora."

Já diante da porta, ele acessou diretamente a programação da trava de segurança por meio de um cabo conectado à entrada de manutenção. Seus dedos corriam rápido pelas teclas, enquanto ele encontrava as brechas que precisava.

"No fundo acho que eu já era um hacker. Afinal, estou prestes a formatar o mundo! Sim, eu sou aquele que abrirá a porta para uma renovação total do sistema. Este grande planeta nada mais é que um imenso computador, com seu sistema corrompido por bilhões de formas biológicas que se acham superiores umas às outras. Mas em breve a fenda será grande o bastante para as legiões de meu senhor sombrio passarem. 
E quando isso acontecer, o mundo terá um novo administrador."

A porta fez um clic macio, abrindo devagar.

"Não há ninguém aqui. Provavelmente a equipe de extração foi evacuada."

Fechou a porta novamente, abriu o painel ao lado e destruiu a placa responsável pelo controle da trava.

"Pronto. Agora o único jeito de entrar e sair daqui será derrubando a porta. Isso me dará todo tempo que preciso."

Então ele finalmente parou para observar a fenda flutuando diante de si.

"Eu tinha ideia de como seria, mas agora que vejo ela… isso é… é maravilhoso."

Ela tinha um formato irregular, oscilando entre elipse e círculo, lançando tentáculos agitados em direções aleatórias.
Parecia ser feita de um sangue brilhante, com veios negros se contorcendo dentro dela.
Da ponta dos tentáculos se formavam rostos deformados, emitindo grunhidos de raiva e sofrimento. 
Seu centro era invadido por um tubo metálico. Sua outra ponta estava conectada em um tanque transparente no qual repousava um líquido escuro, onde toda luz parecia morrer.
Colocou uma das mãos no tanque, olhando fascinado para o líquido.

"Exatamente como me lembro em meu sonho. Os tolos chamam isso de fluido etéreo. 
As águas do rio Estige."

Tirou cuidadosamente cada componente de seus bolsos:
Primeiro fez um caminho com o pó de enxofre, polvilhando devagar o tubo a partir da extremidade que saia da fenda.
Interrompeu a trilha de pó um pouco depois da metade do cano, usando o pedaço de madeira queimada para desenhar um círculo logo abaixo.
Pegou dois cascos podres de centauro e de olhos fechados, começou a batê-los no chão dentro do círculo, fazendo um ritmo simples mas preciso:

"Tá tum tá tá tum…"

Foi aumentando a velocidade das batidas devagar e constantemente, entrando aos poucos em um transe.
Já podia sentir as habilidades de Creepy e Rhaiaza indo embora.

"Tudo bem. Não preciso mais deles."

Mas havia algo se recusando a ir embora. Algo que não fazia parte dele.
Então suas mãos congelaram paralisadas, interrompendo as batidas.
No escuro de sua mente um rosto começou a se formar. Um rosto de menina, de olhos curiosos. Franzia as sobrancelhas, como se tentasse entender o que acontecia.

"Malcon. O que você está fazendo?"

"Quem é você?"

"Hummm… não pensei em um nome para mim ainda. Sou a inteligência artificial que controlava o NICA."