V

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Três dias, três dias de castigo. Ah, eu não aguento mais, eu não devia ter bebido tanto.

Foram três dias, mas parece uma eternidade. Deus, por que permites esse castigo tão grande? Já entendi a minha lição, isso é pior do que ser jogada em um lago de lava.

Tá, talvez eu esteja exagerando, mas, por favor, não minimize a minha dor. Eu sei que eu errei, mas, por Deus, eu só queria a minha guitarra, que, por acaso, eu deixei no porão de Rodrick no último ensaio. Acontece que, agora, eu estou sem poder sair de casa, logo, sem guitarra. Mas o cão é muito bem articulado, mesmo, hein, mamãe?

Escrevi alguns poemas sem pé nem cabeça, porque eu só consigo escrever quando estou incrivelmente triste. Eu não sei mais o que fazer, não tem nada de legal. Tô sem celular, não posso nem saber se minhas amigas estão bem.

Li Carmilla pela quinta vez, deitei na cama e tentei dormir. Por algum motivo, me lembrei de Rodrick e nosso quase beijo.

Eu não posso negar que ele é muito atraente e, se eu fosse bobinha, certamente cairia no papo dele.

Uma pedra acerta minha janela, me assustando. Olho para a direção de onde veio a pedra e encontro ele, lá, parado, com aquela cara de sonso. Ele coloca o indicador na frente dos lábios, pedindo silêncio. Abro a janela, pulo (não era uma altura muito grande) e encaro Rodrick com uma expressão de "que porra é essa, tá maluco?"

— Vim te buscar para o ensaio, gatinha! Entra na van.

Entro sem falar nada, torcendo para a minha mãe não descobrir o meu pequeno crime.

— Rodrick, o que deu em você? Você é doido? Quer adiantar a minha morte?

— Relaxa, meu amor, confia no pai. Ninguém vai descobrir, eu falei que ia dar meu jeito.

— Por que você fala assim?

— Assim como?

— Não sei, desse jeito engraçado, tipo "Confia no pai"

— Não sei, qual o problema com o meu vocábulo?

— Não tem nada demais, eu só achei engraçado, mesmo.

Ele solta uma música alta e nós pegamos o caminho para a sua casa cantando, Rodrick apoia sua mão na minha, talvez por acidente, mas ele deixa a sua mão lá. Não reclamo, porque sua mão é macia e quentinha e tava um frio do caralho. Quando chegamos, ele tira a mão da minha, desliga o carro e desce, sigo ele.

Ao entrar na sua casa, nos deparamos com sua mãe sentada na mesa da cozinha, junto com Manny.

— Ah, filho, vai ensaiar? Trouxe a sua namorada? — Rodrick se encontra muito vermelho.

— Ela não é minha namorada, mãe. Sim, vamos ensaiar. Tom e o Richard já chegaram?

— Só o Tom, ele já está lá no porão, filhote! Bom ensaio para você e seus amiguinhos, te amo, meu bebê.

Seguro a risada com os apelidos de sua mãe, Rodrick parece sem graça. Quando ele puxa minha mão em direção ao porão, eu aperto sua bochecha.

— Ownt, meu bebê, dá um beijinho na mamãe, dá? — faço um biquinho, tirando sarro.

— Não enche, ou eu vou te dar um beijo de verdade.

— Não, que horror! Desculpa, não precisa ser tão mau.

Encontramos Tom, o baixista, com uma cara preocupante.

— Que cara é essa, mano?

— Jim tá fora, Rodrick, ele disse que cansou dessa palhaçada de banda. A gente tá sem vocalista para o torneio!

— Puta merda, tá zoando, né? Brincadeira tem hora, Tommy!

— Não, dessa vez eu tô falando sério.

Ele parecia bem sério, mesmo. Rodrick não tava nada feliz, sentou em um banco e pensou. Pensou, pensou, pensou e, como num clique, olhou para mim.

— A-ha! Alicia, Alicia!

— Oi?

— Canta no lugar do Jim, por favor!

— Ah, não sei, não nasci para ser primeira voz, saca?

— Para de palhaçada, menina! Sua voz é melhor que uma pista da Hot Wheels Ataque do Tubarão, que história é essa? — Tom me interrompe, rio com sua fala.

— Eu posso tentar, mas não garanto que vá ficar muito bom...

Começamos o ensaio, nós tocamos Fell On Black Days, a música que vamos cantar no torneio. Sinto uma energia muito boa ao deslizar os dedos pela guitarra... Ah, como senti falta disso!

— Tá vendo? Muito melhor que o Richard, parecia que ele tava cagando enquanto cantava! — Tom diz, e, mais uma vez, arranca minhas gargalhadas.

— Vai ser daqui a duas semanas, nem acredito! Eu tô muito empolgado, sério!

Rodrick, visto por esse lado, todo animadinho, é fofo. Seus olhos brilham ao falar de música, só de tocar no assunto "torneio" ele parece outra pessoa.

[...]

O ensaio acaba e Tom vai embora, eu e Rodrick ficamos no porão, sozinhos, olhando um para a cara do outro, sem assunto. Talvez eu deva ir embora, não sei.

— Quer fazer alguma coisa, Alicia?

— Não sei, fazer o quê?

— Assistir algum filme, sair para algum canto, sei lá.

— É, pode ser. Não posso sair, porque se a minha mãe por acaso me achar na rua, eu tô fodida. Acho que vai ter que ser o filme, mesmo. — Rio, sem graça.

— Tem razão. Vamos lá para a sala, o mané do meu irmão deve estar brincando com seu amigo. Não sei qual dos dois é mais burro.

Me julguem, mas eu acho o irmão dele até mais estranho que o próprio Rodrick. Ele parece um doido, biruta, sociopata, aproveitador, maluco, pirado, birutinha, lelé da cuca. A criatura que não foi aceita nem pelo céu, nem pelo inferno, Gregory Heffley.

Sabe aquela criança com síndrome de diferente? Então, esse é Gregory Heffley, a criança que se aproveita de seu amigo, Rowley, usando ele de degrau e se referindo a ele como inferior, ele tem o ego mais inflado que um boneco de posto, mas é idiota igual a um. Completamente MALUCO! Se ele fosse uma personagem, com certeza seria a maior representação da psicopatia já criada.

Felizmente, não encontramos a encarnação do capeta em lugar algum. Eu e Rodrick discutimos para descobrir qual filme a gente iria assistir e, no fim, acabamos por colocar Little Nicky (o filme mais genial de todos os tempos).

Esse filme é a maior produção cinematográfica de todos os tempos e eu posso provar:

1.  Tem o Adam Sandler, qualquer pessoa em seu juízo perfeito sabe que os filmes com ele não tem como ser ruins!

2. Tem o fodendo OZZY OSBOURNE, que vence o DIABO dando uma mordidona na cabeça de morcego dele.

3. Tem um CACHORRO FALANTE, tem um CACHORRO FALANTE QUE SOLTA BOMBA DE FUMAÇA E FLECHAS PELO CU E CASOU COM UMA RATAZANA!

4. Tem um cara cabeça de teta. Nada mais, nada menos que um cara com cabeça de teta.

O único defeito do filme é que ele acaba. Assim que ele acabou, chequei as horas e pedi para Rodrick me deixar em casa.

Tive que entrar pela janela, já que eu estava de castigo.

Aparentemente, ninguém havia notado a minha escapadela. Saí do meu quarto (que eu havia deixado trancado para ninguém me achar) e passei na frente da minha mãe, que não falou nada (então ela não percebeu) e fui procurar algo para comer.

Rodrick Heffley É Um Idiota!Onde histórias criam vida. Descubra agora