III

727 57 55
                                    

Lily e Laura estão viajando, o que significa que eu vou passar o fim de semana sozinha, geralmente, eu não me importaria, mas por algum motivo isso me deixou triste.

Eu já desenhei, toquei guitarra, assisti filmes, terminei a minha série, li um livro e o tédio não passou. Meu Deus, não tem nada para fazer! Talvez eu saia sozinha, mais tarde. O ruim de ter poucos amigos é que, quando eles não estão disponíveis, você fica totalmente sozinho. O que é o meu caso, já que eu só tenho duas amigas, mas tudo bem.

[...]

O tempo passou bem devagar e, enfim, decidi me arrumar para sair. Talvez tomar um sorvete, sentar na praça e observar as estrelas.

Vou vestir a mesma coisa de todo dia, uma calça preta, uma blusa de banda qualquer e uma jaqueta com alguns broches.

Peguei o dinheiro, a minha cópia das chaves de casa e saí.

No caminho, observei vários casais, alguns com seus filhos no colo, outros sozinhos, outros aos amassos e, por algum motivo, me senti mal por nunca ter tudo isso. Eu só fiquei com duas pessoas, Evelyn, do terceiro ano e Kyle, da minha turma, mas não passou de uns beijinhos. Eu não me importo muito com isso, mas às vezes sinto falta de alguém para me abraçar, me ouvir tocando guitarra, falar sobre meus cantores preferidos, fazer desenhos... É meio deprimente ser solitária assim.

Comprei um sorvete de chiclete e me sentei em um dos balanços do parquinho da praça. Eu costumava brincar aqui com o meu pai, ele me balançava bem alto e eu adorava isso.

Senti alguém por trás de mim e, antes mesmo de raciocinar, essa pessoa pegou meu sorvete. Olhei para cima e era Rodrick, com aquela cara de sonso, mordendo a minha casquinha.

— Fabrício, larga isso!

— Sinto muito, não tem nenhum Fabrício por aqui!

— Tá, tá bom. Rodrick, me dá o meu sorvete!

— Como se diz?

— Por... Por favor! Me dá, logo!

— Ah, não tô muito afim...

Me levanto do balanço e saio correndo atrás da praga, mas ele é muito ágil. Desisto de pegar de volta, pois já deve estar todo babado.

— Ah, desisto, engole essa porra.

— Nossa, Alicinha, que agressividade! — ele faz um biquinho e pega mais uma colherada do que antes era o MEU sorvete.

Reviro os olhos e volto para o balanço, mas uma criança enxerida já estava lá, sentada.

— O que você tá fazendo por aqui, sozinha?

— Ah, tô com tédio, não tinha nada para fazer em casa, então vim fazer nada na rua. E você, vai aonde?

— Tinha combinado com uma garota de ir para o show do Walls Of Heaven, aquela banda local bem conhecida, sabe?

— Ah, sei, gosto muito dela. Um dia eu vou em um show deles. Mas cadê a menina?

— Ah, ela furou. Não tá afim de ir comigo, não?

— Pode ser, sei lá. Qual é a sua música preferida deles?

— Eu gosto daquele cover de A Fine Day To Die, do Bathory.

— Essa é muito boa, coincidentemente é a minha preferida deles, também.

Seguimos o resto do caminho em silêncio, até chegarmos em um galpão cercado com arame. De um lado, havia um segurança estranho, onde era a entrada, ele pegava os ingressos e deixava as pessoas passarem.

— Ah, esqueci de avisar, tem um probleminha...

— Qual?

— Eu não tenho ingresso, então a gente vai ter que pular a cerca de arame.

— O QUÊ? E ter a chance de me estropiar todinha?

— Sim, exatamente! Mas não se preocupe, eu te dou "pézinho". Vamos, a gente tem que dar a volta para o segurança não ver.

Demos a volta, ele se ajoelhou e colocou a mão para eu subir e, finalmente, alcançar a cerca. Ele fez uma expressão de dor, mas acho que não quis admitir, porque não falou nada. Escalei a cerca e pulei de lá de cima, temendo o impacto no chão. Felizmente, era grama, então não me machuquei. Rodrick veio depois, como ele é mais alto, não precisou de nenhum "pézinho".

— Corre, Alicia, corre!

Ele corre e eu digo em sua direção até o lugar onde o show vai acontecer. Estava cheio de adolescentes tão fedidos quanto Rodrick e tinha uma mesa com várias bebidas, também. Nós ficamos perto da mesa e com uma boa vista para o palco, onde eles não haviam entrado. Conforme o tempo ia passando, mais adolescentes iam chegando, fazendo com que eu e Rodrick ficássemos mais perto um do outro. Bebi um copo de whisky, a garganta queimou e eu fiz uma careta. Bebi outro, e outro, e outro... Fumei uns cigarrinhos também, mas nada demais. O show já havia começado, era simplesmente insano! As pessoas gritavam, pulavam e cantavam junto com a banda, que era bem animada pessoalmente. Rodrick não saiu de perto de mim e pareceu ficar estranho.

— Alicia, não acha melhor parar de beber?

— Hum? Não, eu tô bem suave, suavinha...— começo a gargalhar, ele parece preocupado. Bebo mais um copo — Viu? Se eu não estivesse bem, eu não conseguiria... Uh, tá tudo meio doido... Girando, haha, parece que eu tô naqueles brinquedos do parque de diversões...

— Alicia, vamos embora.

— Para quê? Tá tão bom, aqui...— Faço um biquinho, Rodrick me agarra pela cintura e me carrega com dificuldade para fora do ambiente, que estava lotado. Dessa vez, não precisamos pular a cerca (ainda bem, senão eu ia me foder).

Eu caminhava meio torto e cheguei a tropeçar no meu próprio pé umas três ou quatro vezes, a minha sorte é que Rodrick me segurava firme.

— Rodrick, eu acho que eu vou vomitar...

Ele me leva até um cantinho e me ajuda, segurando meu cabelo. Ele não parecia sentir nojo nem nada do tipo, estava apenas preocupado.

— Não me deixa voltar para casa nesse estado, por favor... Minha mãe vai me matar.

— Tudo bem, a minha sorte é que meus pais saíram com o Greg e o Manny, hoje, então você pode entrar sem ninguém te ver. Eu disse que não seria bom beber tanto, Ali...

Ele passa a mão no meu cabelo e me ajuda a continuar andando. Chegamos até a sua casa, que não era muito longe. Ele destranca a porta e me deixa entrar primeiro.

Rodrick Heffley É Um Idiota!Onde histórias criam vida. Descubra agora