Oceano

Quatro

Nos dias seguintes nada muito relevante aconteceu. Eu ia para o colégio, agora com um uniforme um pouco mais confortável, o que eles chamavam de casual, era ou uma bermuda ou uma calça bege social e uma camisa branca de manga curta ou longa com o logo da IEB, por sorte sapatos, acessórios e gravata eram opcionais. Nicole e eu ficamos próximos, basicamente a gente ia para todo lugar juntos e passávamos boa parte do tempo discutindo o motivo das pessoas se dedicarem tanto para parecerem arrumadas no colégio. Todo mundo estava indo para um fashion week, era engraçado, eu cheguei de comentar isso com o Feco, ele disse que era tão natural que nunca tinha reparado. 

A gente trocou mensagens durante aquela semana, me apresentou Cauê, André e Mariana, ele me contou que gostava muito de musica, os meninos e ele tinha uma quase banda, que nunca ia pra frente, mas se eles quisessem iria, pois o pai do André é um produtor grande e eles já conheceram todo tipo de cantor, banda ou artista por isso. Ele parece legal, implorou para eu não chamar ele de Felipe, desde então tenho chamado ele de Feco. Acabou que a gente fez o teste para o time de futebol juntos, eu de goleiro, ele de lateral esquerdo, ambos passamos e agora fazemos parte do time do IEB. 

Meu tio ficou muito orgulhoso de mim e correu para comprar os uniformes para mim e camisetas da torcidas até mesmo para Odete. Ele me obrigou fazer uma cena para o programa dele, mostrando que ele passava dramas pessoais também, a produtora disse que ia fazer ele parecer mais humano. 

E então já era quinta, eu não tinha nada para usar amanhã, o Feco disse para manter casual, mandei uma foto para ele de bermuda e camiseta florida, ele respondeu com "casual demais", Nicole também tinha sido convidada, ela disse para colocar um jeans e qualquer coisa que pareça caro, todo iam assim. Eu não tinha nada assim, então deixei esse problema para o eu do futuro. 

No colégio, uma das professoras, Camila, acho que eu era muito bom com livro e que estava me dando bem na aula dela, me convidou para um grupo de estudos, onde os alunos mais avançados ajudavam os mais atrasados. Eu aceitei e fiquei de tutor de um menino chamado Maicon, mas todos chamavam ele de Mike, ele não falava muito, quase sempre estava dormindo na aula. O Feco também estava nesse grupo, uma tal de Carla era a tutora dele, acabou que eu ajudei ele um pouco. Ele me disse que não gostava muito de perder tempo lendo coisas de gente morta, então indiquei ele ler coisas de autores vivos, mas esses nunca caiam nas provas. 

Peguei carona com ele para voltar já que estávamos ali mesmo e eu ia voltar de metrô. Ele me explicou o que era casual aqui.

- Sim, é na praia, mas a gente vai ficar na casa e não no mar, então a gente veste casual mas nem tanto sabe? Nada de camisa de tiozão florida - ele disse dando uma risadinha.

- Então você está dizendo que eu tenho que mudar meu espirito de tiozão para me encaixar no padrão do colégio de elite de vocês?

- Não, jamais, eu tô dizendo que você deveria mudar um pouquinho seu guarda-roupas para se encaixar no padrão do NOSSO colégio de elite. Você é parte de nós agora, comunistinha. 

- Ei, eu sou capitalista demais pra você me chamar assim. Vou ver o que faço. Meu tio comprou uma roupas legais pra mim, ele não queria que eu parecesse pobre perto do príncipe da Inglaterra que é você. - eu disse e nós rimos. 

- Mas sério, não precisa se preocupar, eu só não gosto da camiseta de tiozão, aquela joga no fogo. 

Ficamos em silêncio um tempo admirando a cidade que por incrível que pareça estava sem chuva pela primeira vez na semana. 

- Quer jantar na minha casa hoje? Minha avó tem insistido, terça a Nicole veio, minha avó ficou apaixonada por ela. 

- Hoje eu não posso, minha mãe chegou de viagem, ela é complicada, logo está em Paris, Milão ou seja lá onde ela quiser se esconder da gente.