Oceano

Sete

Acordei com a luz do sol em meu rosto e o Feco perguntando se podia entrar na porta.

- Entra! - respondi levantando e sentando na cama. Feco abriu a porta com uma toalha no ombro, sem camisa e com um calção de praia. 

- Ei, bom dia, eu sei que você não gosta de mar, mas nada melhor que um banho pra aliviar a ressaca, que tal irmos para piscina? Eu te empresto um short.

- Nada de mar, piscina ok - respondi ainda um pouco zonzo. 

Desci as escadas vestindo o short que ele havia me dado e sem camisa, o que me deixou um pouco desconfortável pois dei de cara com umas doze pessoas limpando as bagunça da festa e ainda mais umas quatro desmontando o equipamento do DJ. 

Quando cheguei na área externa da casa já era possível ver o mar, o barulho das ondas por bem ou por mal já me davam arrepios. 

- Vem, pula aqui! - gritou Feco de dentro da piscina.

- Parece estar congelando - respondi me cobrindo com as mãos. 

- Hoje somos só nós dois, vamos lá, quase nunca tenho uma oportunidade assim!

Ele estava roxo e batendo o queixo com frio, mesmo assim me arrisquei e fui até a beira da piscina, quando ia colocar meu pé na água ele me interrompeu: - Pula, se você entrar devagar vai sentir mais frio ainda. 

Acenei com a cabeça e pulei com tudo, a água gelada cortou naquele momento tudo que eu estava sentindo de cansaço e tontura, eu estava muito bem acordado. 

- Uh, fazia tanto tempo que eu não entrava em uma piscina - disse jogando o cabelo molhado para trás com a mão. 

- Achei que você tinham uma piscina? Seu tio mandou reformar a casa? - ele encostou na beira da piscina. 

- Sim e sim, temos uma piscina e meu tio mandou reformar a casa pra ficar mais a cara dele. Eu só nunca entrei. 

- Mas vocês moram lá faz uns cinco meses, você não sentiu vontade nem nos dias de mais calor?

- Confesso que esse tempo todo eu fiquei mais na beirada ou no meu quarto mesmo. 

- Que loucura. Você tem essa sensação mesmo. - ele mergulhou e emergiu um pouco mais perto de mim. 

- Que sensação? Não entendi - olhei para ele um pouco confuso. 

- De que você tá sempre na beira, você nunca mergulha. - ele fez um gesto patético com a mão se afundando na água. 

- Eu juro que ainda não entendi, mas as vezes quando você mergulha, se não souber voltar você pode se afogar e quando você se afo...

- É, assim - ele me interrompeu - Miguel eu não te conheço há muito tempo, mas desde que a gente se conheceu a gente conversa muito, certo? - ele me encarou profundamente e de muito perto.

- Sim, concordo, você e a Nicole são as pessoas que eu mais converso ultimamente. 

- Então, mas a gente não conversa tanto, eu não sei nada sobre seus pais, sobre quem você era antes daqui, o que você gosta de fazer no tempo vago além de ler e jogar futebol. Na verdade agora sei que você é tutor nas aulas de reforço. - ele respirou fundo, consegui sentir seu hálito dali - Eu gosto de você, bastante, você deve saber da minha fama, a Nicole era muito minha amiga e já deve ter te contado que...

- A Nicole era muito sua amiga?- interrompi ele chocado e me afastando um pouco. 

- Sim, longa historia, a gente se afastou por causa da Mari, mas o fato é, você parece estar sempre na beira da piscina, as vezes molha o pé para ver com a temperatura está, mas você não entra de cabeça nas coisas. Eu quero saber quem você é, inteiro, eu tô inteiro para você.