Cinco

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Eram sete e dez quando Pedro buzinou. Eu coloquei um jeans e uma camisa verde quase no tom dos meus olhos, um tênis legal da Nike que meu tio tinha comprado e sai de cabelo molhado mesmo.  

- Olha só ele todo gatinho, urruull - disse Mari, ela estava muito bonita, cabelo preso num rabo de cavalo e usava um vestido cheio de aberturas branco.

- Todo gatão - disse Feco dando uma piscadinha - Peguei essa jaqueta minha para você, lá fica frio e enfim, vai combinar com sua roupa. 

Era uma jaqueta que parecia ser mais cara que a casa inteira do Feco, provavelmente era. 

- É da marca da minha mãe - ele virou e me oferecendo um cantil prata - aceita? 

- Eu não bebo, desculpa. - disse observando a jaqueta preta com dois raios verdes desenhados nos ombros. 

- Bom, mas eu bebo - ele deu um gole e passou para Mari. 

- Como assim você não bebe? Você tá sendo adolescente errado. - Ela disse

- Longa historia, mas nunca bebo, nem fumo, antes que perguntem. 

- A gente vai buscar o André e daqui meia hora a gente deve chegar. Fique a vontade lá, ok? - ele botou a mão no meu joelho e deu um tapinhas. 

- Pode deixar, eu me encontro por lá. - disse isso sabendo que Nicole estaria na festa e eu não ia ter que ficar atrás do anfitrião ou sentado sozinho. 

Meu tio me fez prometer que sempre eu estaria de telefone ligado e que mandaria noticias, minha avó já disse que era pra ele deixar de ser assim e que eu tinha que aproveitar a festa sem me preocupar, pois eu já tinha muitas preocupações.  

O André morava em um prédio muito luxuoso, o pai dele era dono de dois andares inteiros. Logo ele desceu, vestia uma camiseta com um grafitti que ele mesmo devia ter feito, seu cabelo era na altura dos ombros e liso, estava solto como sempre. Ele cumprimentou a gente mas depois ficou calado. Ele era calado. Mas era muito inteligente, estava no top 3 alunos com maior média no IEB. 

O caminho até a praia foi tranquilo, o Pedro ligou o som alto, nós cantamos ao som de todo tipo de artista, era muito fofo o jeito que o Feco dançava no banco e como errava a letra de toda musica. 

A casa era enorme para uma casa de praia, ficava de frente para o mar e aquilo me causava arrepios. Ver o mar calmo da noite me levava direto para aquele lugar, o cheiro, o sorriso. Parei ao lado do carro assim que desci. 

- Você tá bem, Miguel? - disse o Feco colocando os braços envolta de mim - Está pálido e suando.

- Tô sim, eu só... Eu tenho um pequeno problema com o mar. Lembranças ruins. 

- Vamos entrar, eu te sirvo algo.

Ele pegou na minha mão com firmeza, fez um sinal com os olhos para Mariana que foi abrindo a porta junto do André, me levou para dentro. 

A casa era um espetáculo por dentro, parecia uma casa de praia mas ao mesmo tempo era muito luxuosa, e quando o Feco disse que ia ter adultos era verdade, tinha uns dez garçons e um DJ instalando seu equipamento.

- Você disse que ia ser uma festa básica - eu disse.

- Isso não é básico? - ele me olhou confuso - Traz algo para esse beber - ele fez sinal para um dos garçons - Vem, vamos sentar ali.

Ele me levou até o sofá e sentou do meu lado, Mari veio e sentou junto logo em seguida. Percebi que André já estava batendo um papo com o Dj. 

- Aqui não tem mar, aqui não tem nada - ele passou a mão na minha cabeça como se eu fosse um cachorrinho. 

- Tá bom, não precisa de tudo isso - tirei a mão dele de minha cabeça.

- Sério, o que rolou? - perguntou Mari. 

- Nada demais, tá tudo certo, ok? - sorri pra ela com gentileza. 

O Garçom trouxe um copo e eu sem pensar virei achando que era água, mas assim que senti queimar vi que era vodka pura e comecei tossir. 

- Isso não é água - disse engasgado. 

- Água, ele pediu água - disse o Feco gritando para o garçom e me dando uns tapinhas nas costas. 

O mesmo garçom trouxe água, em uma garrafa dessa vez, pediu desculpas e saiu. 

Cauê entrou pela porta gritando: - QUEM ESTÁ PRONTO PARA DANÇAR? 

Então ele parou e nos viu no sofá. 

- Cauê! - disse Mari bastante animada levantando. 

- E ai, meu mano! - Feco disparou e fez um comprimento estranho com as duas mãos junto dele. 

- Tá borocoxô já? - Ele olhou para mim.

- Ele acabou de dar um shot de vodka achando que era água - explicou Mari. 

Minha cabeça estava doendo e não eram nem dez horas da noite, horário combinado para o resto dos convidados chegarem. A coisa bateu forte.

- Tenho que ir no banheiro - levantei cambaleando.

- Eu te ajudo - disse Feco já tentando me pegar da eventual queda que iria acontecer. 

No banheiro, lavei o rosto com a ajuda do Feco, ele me acalmou e disse que já ia passar, ele não sabia que eu nunca tinha bebido. 

Depois disso subimos todos para um dos quartos, eu deitei na cama, mas ela parecia uma piscina, tudo girava, o teto, a luminária, as pessoas.  

- Ei, não dorme! - Feco sentou ao meu lado - Toma água, é água mesmo - e ele ficou ali me fazendo beber água dizendo que a gente só precisava tirar aquilo meu organismo. 

Uns dez minutos depois corri para o banheiro muito apertado e voltei ao normal, ou quase. As pessoas começaram chegar, um grupo de dez pessoas, depois outro de seis e por ai vai.  Do nada a casa fofa e luxuosa de praia parecia uma boate, não que eu já tivesse frequentado uma, lá na minha cidade as festas eram uns dez adolescentes na casa de alguém com uma garrafa de vodka, uma de energético e muito suco.

Descendo as escadas já localizei Nicole meio perdida com algumas colegas dela.  Ela estava linda, cabelo preso em um rabo de cavalo, vestido preto solto e uma camiseta por baixo, coturnos e ela usa brincos que podia ser a bola de espelhos da festa. Quando me viu ela fez um sinal com a mão. 

- Eu vou ver a Nicole! - disse para Feco e Mari.

- Miguel! - Feco disse me pegando pelo braço, ele veio até meu ouvido e sussurrou: - Você gosta dela, não é?

- Sim, ela é uma boa amiga.

- Não assim - ele continuou falando baixinho - tipo, você gosta, GOSTA dela? Você passou a semana toda saindo com ela no colégio e sempre fala dela.

- Meu tio e a mãe dela são amigos, ela foi a primeira pessoa da minha idade que eu conheci aqui, somos amigos - tirei a mão dele do meu braço - e você namora, não deveria estar com ciúmes de uma menina que você mal conversa. 

- Não é isso, é que agora você é um de nós e se você gosta dela, ela também vai ser. - Ele me encarrou e sorriu.

- Boa festa, Felipe, vejo você depois - virei as costas e saí até a Nicole, pensando o quão estranho Feco era com as pessoas próximas dele. Tudo bem que eu não tinha um grupo de amigos, mas tirando as mensagens que a gente troca quase o dia todo e as caronas, eu passava muito mais tempo com a Nicole do que com ele e os amigos dele, como eu fazia parte do grupo dele? 

Entrei no mar de pessoa e fui até onde a Nicole estava. 


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