Três Dígitos • Kaisoo

Três atos (nada) comedidos

Jongin se sentia no paraíso. O coração descompassado, a pele arrepiada, os cabelos desgrenhados: Tudo indicava a perfeita confusão em que ele se encontrava, e isso não é um exagero.

Ele e Kyungsoo estavam enrolados em um cobertor lilás, deixando-os tão unidos quanto o recheio de um rolinho primavera. Frente a frente, deitados de lado na cama de casal, só não se encaravam porque tinham os olhos fechados, ocupados em aproveitar ao máximo o sabor da boca alheia.

Durante todos os meses em que planejou beijar os lábios de coração, o Kim havia imaginado qual seria a sensação. Será que Kyungsoo sabia beijar? Ele beijaria molhado? Seria ousado e esbaforido, ou pouco usaria a língua? Qualquer uma que fosse a resposta, Jongin ia adorar. Sonhava com isso a tanto tempo, que sabia que seria ótimo.

Mas na prática é tudo muito diferente, é claro. E muito, muito melhor. O beijo de Kyungsoo é perfeito, com todas as nuances que o atleta achava que um beijo deveria ter. Sabia ser calmo e atrevido na medida certa, sabia dosar a língua e os sorrisos que davam nas pausas para respirar. O Do com certeza era um profissional do beijo e nunca havia contado para ele, não era possível! Não sabia mais onde estava aquele baixinho tímido.

Afobado em estar na mesma posição (de lado, mal podendo mover as mãos como um sushi enrolado), Jongin resolveu ousar lá pelo quinto minuto seguido de beijo. Se livrou como podia do cobertor lilás e deitou com as costas no colchão, sem desgrudar os lábios dos de coração. O ato puxou Kyungsoo junto, em um pedido silencioso de aproximação para que um ficasse em cima do outro, uma posição bem mais ousada. Ele colocou a mão esquerda no seu peito e Jongin sorriu, mas o sorriso não durou, à medida em que Kyungsoo tomava mais distância do que julgava necessário para trocar uns beijinhos.

- Melhor parar - A voz doce e grave murmurou baixinho, tentando recuperar o ar.

Ah. Aí está o menino tímido.

- Que? Por quê? Eu beijo mal?? Tô com bafo? - Jongin botou a mão sobre a própria boca, testando se estava com bafo. Não estava - O que houve Soozinho?

Kyungsoo sentou novamente no colchão, mais afastado, intimando o outro a fazer o mesmo. Jongin obedeceu.

- A gente passou dos limites. Você... - Suspirou, tentando encontrar as palavras certas enquanto movia as mãos de forma sem sentido, como se aquilo traduzisse seus sentimentos confusos - Você não quer isso de verdade, vai te machucar.

Jongin franziu a testa, absorvendo palavra por palavra e tentando identificar o que elas significam na maneira mais rápida possível. Foi falho em seu plano.

- Eu realmente não entendo como beijar sua boquinha pode me machucar, Soozinho...

Kyungsoo bufou, irritado consigo mesmo, não com Jongin. Ele era um príncipe beijoqueiro com o melhor beijo do mundo, e Kyungsoo era só um sapo. Ou menos que isso. Não sabia como expressar tudo que estava pensando, e isso o deixava com vontade de bater com a cabeça na parede repetidas vezes como em algum desenho animado do Cartoon Network, que sempre tiveram cenas pesadas, mas todo mundo adorava.

Desde pequeno, sempre teve problemas para se expressar. Se sentia ridículo toda vez que verbalizava qualquer insegurança e então desistia, colocava seus fones de ouvido e ouvia Britney Spears ou qualquer música de musical com significado triste. Até Chanyeol sofria tentando desvendar cada pequeno pedaço daquela cabecinha, e era sempre muito, muito difícil. Agora, frente ao garoto mais bonito que conhecia e que tinha acabado de beijar, ele se sentia patético só de pensar em dizer o que sentia, explicar suas inseguranças.

Mas se sentia ainda mais patético deixando Jongin sem explicação alguma, porque alguém com aqueles lábios cheinhos e gostosos não merece ficar em dúvida nem por um segundo.