EU COSTUMAVA COMPARAR MINHA MÃE às estrelas. Assim como a maioria de seus admiradores, eu acreditava que Essler Gaultier brilhava de forma muito mais intensa do que outras mulheres. Consequência da minha admiração cega, a apelidei carinhosamente de "Sol"; a estrela mais brilhante do sistema solar. Não muito tempo depois, descobri a magnificência de Sirius, e, como o astro mais luminoso do universo, achei justo dizer que mamãe era tão esplêndida quanto.
Alguns anos, não muito depois, descobri que grande parte das estrelas que admirava poderiam já estar extintas. Por mais rápida que a luz seja capaz de viajar no espaço, alguns astros estão tão distantes de nós que podem simplesmente ter deixado de existir, restando apenas sua luminosidade como uma lembrança. O que vemos e contemplamos é uma viagem ao passado, para uma história que não existe mais.
Assim como as constelações, cresci observando minha mãe diminuir seu brilho. Sua luz viajou rapidamente pelo espaço e tempo à medida que envelheceu, perdendo suas oportunidades de trabalho e toda a força que costumava utilizar para dançar. Jovens e saudáveis dançarinas gradualmente tomaram seu lugar no corpo de balé, e em pouco tempo, Essler, a mulher mais radiante que eu já conhecera, transformou-se em nada além de um buraco negro; capaz de absorver todos os aspectos, bons ou ruins, e obscurecer até mesmo a luz mais resplandecente.
Essler Isadora Gaultier tornou-se uma mulher frustrada, solitária e distante. Consumida pela raiva ao ver os anos passarem e sua juventude se esvair, ela se afastou não apenas de sua família, mas também de seu marido e de mim, sua própria filha.
— Não vai comer, [Nome]? — indagou mamãe, com os cotovelos apoiados sobre a mesa e os dedos entrelaçados. Seus olhos me fixam tão profundamente que sinto como se pudesse enxergar minha alma.
— Estou sem fome — respondo, evitando fitar sua figura imponente do outro lado da mesa.
Ela parece ter esquecido a discussão intensa que tivemos há uma hora atrás, quando eu lhe informei que não iria mais participar das audições para bailarinos na Academia de Bolshoi.
— Deveria comer — Essler insiste e eu sei que não é por preocupação. — Amanhã começam as suas aulas naquele instituto que tanto te importa. Sua viagem é cedo.
Os nós dos meus dedos empalidecem quando seguro o garfo e a faca com tanta força que parecem prestes a se romper.
— É a melhor universidade de artes do país.
Minha mãe dá uma risada amarga, tomando um gole do vinho em sua taça.
— Que fosse a melhor do mundo, garota tola e ingrata.
Tento ignorar. Essler me insulta sempre que pode, usando a carta da ingratidão na esperança de que eu me arrependa de fazer minhas próprias escolhas.
— Você teria tudo se fosse para Bolshoi.
— Não — eu discordo. — É você quem tem tudo, mamãe. Você sempre consegue o que quer. Por que não pode simplesmente ficar feliz por mim?
Minha mãe arregala os olhos quase que no mesmo instante, encarando-me com uma expressão que claramente mistura raiva, desgosto e surpresa. É como se, para ela, gritar comigo por horas fosse uma demonstração de apoio. Parece que acredita que estou me fazendo de vítima, como se toda a pressão recaísse sobre ela e não sobre mim.
— Eu dei tudo o que tinha para assegurar que você e sua irmã fossem as melhores bailarinas do mundo, seguindo os meus passos. — Essler bate as mãos na mesa, levantando-se. Mesmo à distância, temo que vá me agredir de alguma forma. — Sua bisavó fez o mesmo com minha mãe, e sua tataravó fez o mesmo com sua bisavó, e tem sido assim por gerações em nossa família.
Eu permaneço sentada, porém, solto uma risada tão amarga e desgostosa que sinto que posso vomitar.
— Somos uma família de mulheres frustradas, então — eu simplifico, afastando minha cadeira da mesa para que possa me levantar. — No entanto, não tenho a intenção de perpetuar seja lá que maldição hereditária esteja enraizada em nosso sangue.
— Como ousa? — Ela berra com tanta intensidade que sinto a casa estremecer.
— Essler... — meu pai começa, temendo que a mulher possa ter outro surto.
Insultar a linhagem de minha mãe vale muito mais para ela do que cuspir em seu rosto.
— Fanny está se esforçando ao máximo por você, mãe. Minha irmã, sua filha, treina incansavelmente, dia após dia, até que seus pés estejam em frangalhos. Ela mal se alimenta para atender aos seus padrões, porque tudo o que ela deseja é conquistar o seu amor.
— Eu a amo! — Mamãe responde imediatamente.
— E eu? Você ama?
Ela se cala, seus olhos me fitando com a mesma intensidade com que a encaro.
— Ama ou não, mamãe? — eu insisto, no fundo, temendo sua resposta.
— Não faça perguntas idiotas, [Nome]. É claro que amo. Você só deveria...
— Aí é que está! — Eu estalo os dedos, apontando para Essler como se a tivesse pego no flagra. — A senhora só consegue demonstrar o mínimo de afeição por mim ou por qualquer outra pessoa quando estamos sob a sua sombra.
— [Nome]! — meu pai intervém, em choque.
— É verdade! — eu exclamo, sabendo que, de alguma forma, também o ofendi.
— Menina insolente e traiçoeira! — Ela berra.
— Essler, por favor. — Meu pai tenta amenizar.
— Está tudo bem, pai. Eu já estava de saída. — Me viro, lançando um último olhar por cima do ombro para minha mãe à mesa. — Ela nunca vai me amar mais do que a sua carreira ou o seu prestígio.
Quando estou no topo da escada que leva ao segundo andar e, consequentemente, ao meu quarto, minha mãe me chama.
— [Nome]?
Eu paro, mas permaneço em silêncio.
— Você está certa. Minha longa carreira, agora morta, trouxe-me mais orgulho do que você, que está viva.
As palavras deveriam causar dor, me ferir e corroer minha alma. No entanto, não surtem esse efeito. Pois, por mais cruéis que sejam, já me habituei a elas.
Minha irmã mais velha, Fanny, pode permitir que nossa mãe destrua suas ambições e vontades. Eu, por outro lado, jamais permitirei tal coisa.
...
NOTAS DA AUTORA
Clima pesado no primeiro capítulo porque estou de mau humor, KKKKKKKKKKKKKK.
O que acharam? Alguma sugestão? Como estão todos?
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𝐒𝐄𝐗 𝐀𝐍𝐃 𝐒𝐈𝐍, eren yeager
FanfictionNa prestigiada New York University, a jovem e determinada [Nome] Gaultier está prestes a alcançar seus objetivos acadêmicos e abrir portas para um futuro brilhante. No entanto, ela se vê diante de um desafio inesperado: trabalhar em um projeto com o...