3. Quinhentismo

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NOVA YORK É UMA CIDADE BIZARRA, não mais que Los Angeles. Durante toda a minha juventude vivendo na capital do entretenimento, sempre tive receio de esbarrar com alguma celebridade problemática fazendo uso de substâncias em plena luz do dia, ou de encontrar algum membro oculto da família Manson no meio da rua (não que eu o reconheceria). Mas em Nova York, quase não se vê famosos circulando pelas ruas, e tudo aqui parece tão orientado para os negócios que não me surpreenderia se, por alguma razão, eu mesma me tornasse a CEO de uma empresa ou uma colunista de revista, vestindo um sobretudo, segurando um copo de frappuccino do Starbucks e carregando um MacBook na bolsa.

Apesar da piada carregada de estereótipos, a maioria das pessoas aqui parece expressar seu estilo de maneira única, que, para ser sincera, grita sua identidade. Os executivos de empresas vestem ternos elegantes, ostentam relógios caros e estão constantemente imersos em conversas telefônicas, como se estivessem resolvendo questões urgentes a todo momento. As colunistas de revistas de fofoca ou voltadas para o público feminino optam por saias e blazers combinando, frequentemente em tons suaves como rosa e azul claro. Já as colunistas que tratam de assuntos mais sérios, como política e economia, seguem um estilo semelhante, porém preferem cores sóbrias e discretas, como preto ou cinza. As influencers possuem um estilo característico, carregando sacolas a tiracolo e gravando vídeos com seus smartphones, muitas vezes protagonizando a própria cena. Os turistas, por sua vez, são facilmente reconhecíveis devido ao hábito incessante de fotografar tudo ao seu redor. E quanto a mim? Bem, essa é uma pergunta que só Deus pode responder.

A boa notícia é que não preciso me igualar, mas sim me destacar, pois é isso que garantirá o sucesso da minha carreira como artista plástica. Ouvi dizer que este ano há um grande interesse por parte de renomados artistas em descobrir novos talentos, mas somente uma minoria terá a oportunidade de garantir um emprego após a graduação, o que é tanto uma bênção quanto um desafio. O lado positivo é que, se eu conseguir impressionar a todos, poderei conquistar uma posição de destaque junto aos melhores artistas contemporâneos assim que concluir meus estudos. No entanto, o aspecto negativo e até interessante é que todos aqui são estudantes excepcionais, o que significa que a concorrência é intensa e acirrada. Se fosse uma audição para a Bolshoi Academy, eu teria a vantagem de ser filha de Essler Gaultier, o que tornaria minha aceitação quase certa.

Tenho conhecimento disso porque Fanny foi admitida no corpo de balé imediatamente. E embora possa parecer injusto, é um fato que as academias de dança de renome, especialmente as que enfatizam a performance, frequentemente operam com base no nepotismo. É comum ver o filho de alguém sendo admitido por um parente, ou um avô dando oportunidades de destaque ao bisneto de outro.

Embora minha mãe me veja como a ovelha negra, eu jamais me colocaria em algum lugar sem merecer. Inúmeras bailarinas se esforçam ao máximo para seguir seu sonho na Bolshoi Academy, dançando com paixão e dedicando-se a executar até mesmo o mais simples plié. Enquanto isso, eu provavelmente estaria conseguindo os papéis principais nas apresentações graças ao meu sobrenome, podendo interpretar Lago dos Cisnes de qualquer forma, e ainda assim seria aplaudida por levar o nome Gaultier.

— Patético — murmuro baixinho, enquanto entro na recepção da Universidade de Nova York.

E então, o choque chega.

A primeira coisa que noto são as pessoas, é claro. Mas o que me surpreende não é o fato de que são diferentes, porque não são. Todas parecem iguais, cada uma inserida em seu próprio grupo. Sinto que retornei ao ensino médio, com os "emos" de um lado, as "patricinhas" do outro, os jogadores de futebol na frente, os nerds das olimpíadas de matemática logo atrás, e ainda mais atrás, o grupo dos "deslocados" que não se encaixavam em nenhuma das categorias mencionadas anteriormente, mas que ainda assim compartilhavam características suficientes para fazer parte da turma dos excluídos.

𝐒𝐄𝐗 𝐀𝐍𝐃 𝐒𝐈𝐍, eren yeagerOnde histórias criam vida. Descubra agora