6. Dadaísmo

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O PERFUME DOCE E A VOZ ÁSPERA de Eren criam uma linha tênue entre a minha vergonha e meu desconforto. Enquanto o aroma envolvente satura o ar ao meu redor, a voz penetrante de Yeager ressoa como uma melodia dissonante, provocando arrepios que percorrem minha espinha. A dualidade entre a doçura sensorial e a rudeza verbal tece uma trama de contraste, deixando-me suspensa em um limbo emocional. É como se o perfume tentasse encobrir as palavras afiadas que cortam o silêncio, mas, em vez disso, ambos coexistem, criando uma atmosfera carregada de tensão e intriga.

Os olhos azuis esverdeados de Eren me petrificam por completo, como se ele fosse uma górgona. Seu olhar percorre os rostos de todos à mesa, e o sorrisinho triunfante, ao nos flagrar fofocando sobre ele, parece amaciar seu ego mais do que se estivéssemos o elogiando. Yeager revela ter um prazer ardente em intimidar as outras pessoas, em impor sobre elas um sentimento de vergonha e retração. No ensino médio, ele foi, sem dúvida, o pior dos valentões. A sensação de que ele absorve cada fio de desconforto no ar intensifica-se, como se alimentasse sua necessidade insaciável de dominar a atmosfera ao seu redor.

— O que você quer, Eren? — Ymir quebra o silêncio, cerrando os punhos com tanta força que posso ver seu dorso esbranquiçar. Ela está irritada o bastante para que todos sintam o calor corporal emanando de onde senta.

— Quero conversar com a bonitinha. — Ele diz, apontando para mim com um sorrisinho repleto de escárnio no rosto.

Lanço um vislumbre ao redor para me certificar de que o assunto é comigo. Meus olhos percorrem a mesa, captando os olhares furtivos e as expressões furtivas que denunciam a conversa em andamento. É como se eu fosse o epicentro de uma discussão silenciosa, e a atmosfera carregada sugere que meu nome está flutuando no ar como uma nuvem carregada de significado.

— Certo... — Me levanto, seguindo-o até a saída do refeitório.

Durante o caminho, uma porção de meninas me encaram com expressões de nojo ou ódio. A sensação de seus olhares cortantes como facas não passa despercebida, e a atmosfera hostil parece se adensar ao meu redor. Mesmo sem pronunciarem uma única palavra, suas feições falam volumes sobre o que possa estar sendo sussurrado nas entrelinhas da fofoca. Enfrentar esse corredor de julgamentos silenciosos não é tarefa fácil, mas mantenho minha postura, decidida a não permitir que a hostilidade alheia abale minha determinação.

Eu fui bailarina por mais de dez anos e, como filha de Essler Gaultier, se há algo com o qual sei lidar, é com o ódio feminino.

— Então... — Eren começa, parando em uma parte mais reservada do corredor, enquanto lança um rápido olhar ao redor para garantir que ninguém esteja escutando. — Precisamos falar sobre o trabalho semestral.

Faço um leve menear com a cabeça, sentindo o sutil arrependimento por ter fofocado sobre ele me invadir. Reconheço que, no fundo, ele é tão humano e sensível quanto qualquer um de nós; em algum lugar do seu subconsciente, percebo que ele sente as críticas e os comentários, sendo afetado por eles de maneira mais profunda do que aparenta. É fácil esquecer, por trás da sua fachada imponente, que Eren carrega seus próprios fardos emocionais.

Pelo menos, é isso que quero acreditar.

— Olha, eu sinto muito pelos comentários na mesa. Eu...

Eren solta uma gargalhada, me interrompendo de maneira brusca. O som inesperado ecoa pelo corredor, surpreendendo não só a mim, mas também aos passantes que lançam olhares curiosos em nossa direção.

— Vocês do grupinho de Ymir se acham importantes demais, não é?

— Perdão? — questiono inquisitiva, cruzando os braços. Minha postura reflete a minha prontidão para entender, mas também uma certa dose de desconfiança diante da situação.

𝐒𝐄𝐗 𝐀𝐍𝐃 𝐒𝐈𝐍, eren yeagerOnde histórias criam vida. Descubra agora