5. Naturalismo

125 22 19
                                    

A MINHA FRUSTRAÇÃO É TÃO GRANDE e robusta que eu poderia simplesmente atear fogo em meu corpo e assistir minha existência se tornar cinzas. Ao invés disso, eu simplesmente sorrio simpática para Zeke, murmuro um "até semana que vem" e saio da sala quando o sinal toca.

Meus passos ecoam no corredor, tão pesados e ritmados que se assemelham ao trote de um cavalo. Um misto de raiva e decepção corrói meu âmago, embora também surja um impulso primitivo e animalesco, onde não há espaço para a lógica, onde prevalece a minha vontade irracional de pisar sobre o pescoço de Eren, como se ele fosse uma víbora peçonhenta destilando seu veneno impiedosamente. Questiono-me se sua acidez e toxicidade são intencionais, se ele escolheu ser assim, ou se foi forçado por algo ou alguém a assumir essa postura irritante. Sei que, independente do esforço, nunca saberei o que se passa em sua mente.

— Que bicho te mordeu? — Ymir pergunta assim que nos encontramos no corredor, seu rosto expressando uma dúvida quase palpável.

— Eren Yeager — respondo, dando um leve revirar de olhos.

Uma figura baixinha emerge de trás de Ymir, seu corpo sendo tão miúdo e esquálido quanto o de um ratinho faminto. Todavia, seu cabelo é loiro e os olhos claros, dando-lhe um ar de nobreza inegável.

— O que ele fez? — ela pergunta instantaneamente, seus olhos azuis parecendo transbordar a fúria de um leão. — Se ele te importunou, vou fazer com que venha aqui e peça desculpas.

Eu desenho um sorriso irônico nos lábios. Apesar de a simples imaginação de Eren me pedindo desculpas ser excepcionalmente satisfatória, com seu rosto lindo e seu orgulho me cedendo um pedido de perdão, eu sei que isso não mudaria a dinâmica entre nós. Ele é minha antítese, alguém que, não importa quanto tempo passe, eu sempre vou apenas suportar.

— Está tudo bem — eu digo, balançando as mãos. — Tivemos um desencontro hoje no corredor, mas não foi nada demais.

Ymir arqueia uma sobrancelha, exibindo uma expressão de desconfiança. Seus olhos captam as minhas nuances, decifrando meus pensamentos antes mesmo que eu os articule. Ela sabe que não é apenas a minha manhã caótica que me afeta, mas um meandro de possibilidades que está muito à frente.

Sou obrigada a suspirar fundo.

— Professor Yeager me escolheu como dupla dele para o trabalho semestral — eu admito, finalmente. — Não sei o porquê, mas ele disse que estou apta o bastante para isso.

Ymir dá uma risadinha.

— Esse lunático lê o histórico escolar de todo mundo que entra aqui. Se ele te escolheu, é porque acha que você vai conseguir dar um jeito naquele animal de quatro patas que ele chama de irmão.

A garota loira desfere um pequeno soco no braço de Ymir, exibindo uma expressão um tanto contrariada. O gesto parece ser uma mistura de brincadeira e irritação, como se houvesse um jogo contínuo de provocações entre elas.

Um leve sorriso de cumplicidade dança nos lábios de Ymir, indicando que essa interação é uma parte habitual de sua dinâmica. Que não é ofensivo, tampouco violento, apenas descontraído e íntimo.

— Sei que você não gosta dele, mas Eren é meu amigo! — ela exclama, parecendo histérica pelo Yeager.

— Sinto muito, Historia, mas ele realmente não é o aluno mais agradável na universidade.

Historia, claro, eu rapidamente me lembro. Ela é a namorada de Ymir que foi mencionada hoje de manhã. É evidente que a presença dela desempenha um papel significativo em sua vida, moldando a felicidade que ressoa em cada troca de olhares e gestos sutis. Essa relação, tão palpável na atmosfera que as envolve, é um testemunho da beleza que pode surgir quando dois corações encontram um lar no outro.

𝐒𝐄𝐗 𝐀𝐍𝐃 𝐒𝐈𝐍, eren yeagerOnde histórias criam vida. Descubra agora