8. Retrato

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REINER BRAUN ESTÁ ENCOSTADO NO CAPÔ DE UMA SUV ACINZENTADA, e ainda que eu não saiba exatamente o modelo, sei que é um Jeep. Ele está vestindo uma camiseta branca que me oferece o contorno perfeito dos seus bíceps, os polegares digitando rapidamente algo no celular. Não sou o tipo de mulher que repara demais, mas é quase impossível não notar os músculos do loiro se flexionando no tecido justo, o trapézio definido e o deltóide mal cabendo na manga da camiseta. Ele é um predador em tanto.

— Te fiz esperar demais? — eu pergunto, antes que acabe fazendo algum comentário inapropriado sobre o físico de Reiner.

Braun guarda o celular no bolso no mesmo instante, cruza os braços e me analisa por alguns segundos. Seus olhos âmbar cravam minha presença com intensidade, o olhar parecendo atravessar minha pele, contorcendo meu âmago. Há algo no modo como suas pupilas dilatam ao encontrarem o meu rosto, uma mistura de ternura e admiração.

— Acabei de chegar — ele responde, desencostando a lombar da lataria do carro. Os olhos ainda estão presos no meu rosto, cuidadosos. — Você está linda.

Não posso evitar o calor que arde no mesmo instante em minhas bochechas, talvez até deixando-as avermelhadas. Qualquer mulher com visão suficiente para enxergar Reiner Braun sentiria o frio na barriga que sinto, o coração palpitando no ritmo de La Campanella e as palavras presas na garganta. Tenho a sensação de que sou estupidamente minúscula perto dele, embora não tenhamos mais que vinte centímetros de diferença na altura.

— Você também não está nada mal — eu respondo com um sorriso, me arrependendo no mesmo instante.

O modo como Reiner se avalia rapidamente, procurando defeitos na perfeição de suas roupas, me diz que foi um péssimo elogio. Ele não tem espelhos para que possa saber o quão fodidamente bonito ele é?

— Desculpa, não foi isso que eu quis dizer. Você é lindo.

Braun parece surpreso, talvez chocado e levemente envergonhado. A pele branca nas maçãs do rosto apresenta um rubor evidente quando o pomo de adão sobe e desce, engolindo seco. Eu poderia dizer que o deixei nervoso, ou desconcertado, mas Reiner se recompõe rápido, caminhando até a porta do lado do passageiro e então abrindo-a para mim. Eu entro no SUV sem pestanejar, tentando afastar a atmosfera de constrangimento e focando em me concentrar no que falo, para não me envergonhar.

Reiner entra e liga o carro em um breve instante, consecutivamente soltando o freio e então agarrando o volante com firmeza. Reparo nas veias azuladas saltando sobre o dorso de suas mãos, o modo como ele conduz o carro ou troca a marcha, faz com que elas se tornem mais aparentes, embora eu não saiba dizer de forma exata o porquê de estar reparando tanto em movimentos de volante e trocas de marcha.

Talvez eu esteja enlouquecendo. Ou talvez seja só a falta de descanso me afetando.

— Então, — Reiner pigarreia, desviando a atenção do caminho para me fitar por alguns milissegundos — se acostumando com Nova York?

— Não sei. — Jogo meu olhar para meus pés, especificamente para as botas envernizadas Saint Laurent que ganhei de Fanny no natal passado. Estão novas, impecáveis, já que usei o par uma vez ou duas. — Parece que não importa para onde olho, sempre vai ter uma construção gigante atrapalhando minha vista.

Reiner dá uma risada curta, um tom grave e rouco saindo de sua garganta.

— Você tem um ótimo ponto. Eu nasci e cresci aqui e sinto que nunca vi o céu direito de dentro da cidade.

Um sorrisinho é tudo que estampo no rosto, me virando minuciosamente para o lado para encará-lo. Seu foco está na avenida iluminada, os dedos batucando o volante no ritmo da música da rádio. Tudo que posso realmente observar é a curvinha do seu nariz, o modo como ela combina perfeitamente com sua mandíbula marcada.

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⏰ Última atualização: Aug 14 ⏰

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𝐒𝐄𝐗 𝐀𝐍𝐃 𝐒𝐈𝐍, eren yeagerOnde histórias criam vida. Descubra agora