Ameaças

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Ao adentrar na sala de visitas da mansão dos Thompson, a ruiva sentiu as memórias agridoce da sua primeira vida vindo à tona em apenas um piscar de olhos, todos os momentos ruins e humilhantes estavam mais presentes do que nunca.

A decoração da sala de visitas era cercada de luxo e extravagância, em cima da mesa estavam vários bibelôs encantadores de porcelanato e em cima da bela lareira de mármore estava um quadro com a bela e típica família tradicional de Alfidia.

As ruivas se sentaram nos sofás estofados com um dos melhores tecidos do continente oriental que John Thompson havia comprado em uma de suas viagens de negócios.

Bem, talvez um dos motivos para a família Thompson tivesse ficado com dívidas enormes para pagar por conta dos luxos extravagantes do chefe da família, não é mesmo?

Cassandra- Onde está a mamãe e o senhor Thompson? -disse se inclinando para frente para pegar a sineta.

Edith- Eles tiveram que comparecer a uma festa do chá da viscondessa, provavelmente voltarão em breve.

Sim, esse era um evento em que a grã-duquesa Violet Valinar fazia para comemorar a chegada da primavera.

A querida grã duquesa, pensei que você iria demorar para aparecer na minha vida novamente.

Você também está na minha lista de pessoas que colaboraram para o meu sofrimento, você acredita mesmo que deixarei você e a sua família passar em branco, não é mesmo?

Eu irei acertar você no seu ponto mais fraco, o seu amante. Infelizmente no momento terei que cuidar de um inseto medíocre primeiro, o próximo vai ser você.

Enquanto eu coloco meus planos no eixo, que tal tomar um chá?

A Morland se segurou para não sorrir, ela estava louca para se trancar no quarto e começar a se vingar.

Cassandra- Entendi -a garota com sardas disse calmamente enquanto balançava a sineta de um lado para o outro.

Edith- O que você está fazendo Cassandra? -disse em tom de alerta, a jovem Morland já estava tão acostumada a ser repreendida por John Thompson por causa de tudo que fazia que achou isso uma má idéia.

Cassandra- Apenas estou chamando uma empregada para servir um chá para nós duas, que mal tem nisso? 

A Morland sorriu para tranquilizar a irmã e ela retribuiu o sorriso.

Após alguns segundos de espera apareceu uma empregada com ar de superioridade, essa era Alexandra, empregada escolhida a dedo pelo carrasco de John Thompson.

Alexandra- O que deseja a senhorita? Diga-me de uma vez, estou sem tempo para ficar esperando, preciso fazer outras tarefas -a empregada disse em um soberbo e arrogante.

Quando a Morland viu a empregada, Cassandra se lembrou das constantes humilhações que eles faziam elas passarem.

Os empregados da mansão Thompson não faziam questão nenhuma em demonstrar respeito, nem ao menos tentavam esconder o quanto a nova dona da casa e suas filhas eram indesejadas.

Elas eram sempre mal atendidas e havia muitas vezes em que eles viam as humilhações que as meninas passavam e muitas vezes não faziam nada, ou apenas, riam.

Durante a sua primeira vida, a única coisa que Cassandra Morland queria era ser amada e respeitada como um ser humano.

Cassandra- Antes de falar o que eu desejo, preciso te explicar uma coisinha, Alexandra -colocou a sineta em cima da mesa de centro e se levantou para ficar de frente para Alexandra.

Alexandra era uma de vinte e seis anos de estatura baixa, possui cabelos pretos que sempre ficava preso em um coque baixo.

Cassandra- É vergonhoso uma mulher com vinte e seis anos não aprender se pôr no seu devido lugar como empregada, pelo visto a falecida senhora Thompson não ensinou os empregados a terem educação e cordialidade com os donos da casa -Cassandra disse seriamente e Alexandra sentiu raiva e desgosto ao ouvir a garota com a boca imunda mencionar a falecida senhora Thompson através de um comentário maldoso, mas a empregada controlou os nervos e manteve uma postura arrogante.

Se ela quiser continuar trabalhando na casa para conseguir proteger seu ganha pão.

Alexandra- Em nenhum momento eu fui grossa com você senhorita, peço perdão se entendeu errado -disse em tom dissimulado e a Morland sorriu minimamente ao perceber que a empregada medíocre havia caído na sua armadilha.

Ao presenciar a mulher se fazer de desentendida e inocente, Edith trincou os dentes e não aguentou ficar quieta

Edith- Não use justificativas para basear suas mentiras descaradas e sem fundamentos, deixe de ser uma mulher descarada e sonsa, assuma as suas atitudes como uma mulher deve fazer -disse com raiva e menosprezo.

Para ser sincera, Cassandra ficou surpresa ao ver sua se impondo, mas não a recriminou e começou a pensar em como teria sido a vida delas se tivessem se impondo mais no passado, será que isso teria mudado alguma coisa?

Cassandra- Não precisa ficar com raiva de uma atitude errada de uma simples empregada  -olhou para trás e sorriu para deixar a irmã tranquila, a garota com sardas voltou a olhar para a empregada e se aproximou perto do ouvido da empregada- eu irei te contar um ditado que a família Morland costuma dizer. Cães de caça que agem através do orgulho excessivo para proteger seu mestre acabam morrendo cedo e são substituídos por algo melhor. Caso o cão queira continuar vivendo tem apenas duas opções, não querer estar envolvido com nenhum conflito pessoal do seu mestre ou ser subordinado a um mestre mais poderoso que o antigo para não ser morto durante a caçada -disse baixo somente para a empregada ouvir.

Ao ouvir as palavras de Cassandra a empregada se arrepiou e pela primeira vez temeu a sua vida, as pupilas de Alexandra se dilataram e ela sentiu que a qualquer momento as suas pernas iriam fraquejar por conta do medo que estava sentindo.

Edith estranhou o comportamento da empregada, mas achou melhor não interferir, Cassandra se afastou de Alexandra e segurou os braços da empregada.

Cassandra- Edith, avise a governanta das empregadas que a Alexandra não está passando bem nesse momento e que ela irá tirar um dia de folga, estarei levando ela até o seu quarto.

Edith- Sim Cassandra -Edith se levantou rapidamente e começou a correr rapidamente para avisar a governanta.

Cassandra levou a empregada até o seu quarto e colocou ela sentada na cama.

A morena ergueu os olhos marejados e viu a jovem mestra colocando água no copo, se ela quisesse continuar sobrevivendo a esse mundo, seria necessário ser esperta e se aliar ao lado mais forte.

Ela não tinha mais ninguém nesse mundo, sua avó havia morrido quando ela ainda era muito jovem e ela só tinha um propósito, sobreviver.

Alexandra se ajoelhou no chão se debulhando em lágrimas ao se lembrar das lições que sua avó havia ensinado e das suas duas irmãs, toda vez que Alexandra tinha que olhar para as irmãs Morland, ela se lembrava de todo sofrimento e sufoco que ela havia passado por não conseguir ter comprado os remédios para a avó.

Uma das condutas morais que ela achava mais importante era 'jamais se venda por um ideal de um nobre ou se humilhar por dinheiro', coisa que ela constantemente estava fazendo o contrário, para não ter que lidar de dormir no relento com suas irmãs ou deixar elas passarem fome, ela teve que ignorar a sua conduta moral.

A Morland não entendeu absolutamente nada, por impulso, se abaixou para ajudar ela a se levantar.

Alexandra- Me perdoe pelo meu mal comportamento com você e com a senhorita Edith, eu não voltarei a repetir o mesmo erro, me permita redimir o meu erro com vocês.

Cassandra- Está tudo bem, não pense nisso agora -Cassandra secou suas lágrimas e sorriu- depois que você estiver melhor, iremos conversar e explicar qualquer mal entendido que tenhamos entre nos, mas enquanto isso não acontece, beba um pouco de água para acalmar os ânimos.

Alexandra- Está bem -a bela mulher corpulenta pegou o copo de água e começou a tomar.

A garota de sardas se sentou ao lado da empregada e começou a acalmá-la.

Eu serei a vilãOnde histórias criam vida. Descubra agora