O Diário de Cisco

XVIII

Já faz três dias que saí de casa e estou na estrada em busca de alguma pista que me possa levar até eles.
Estou começando a pensar que pode ter acontecido algo de grave e, cada vez que passa isso pela minha cabeça, fico desolado, acabado, destruído por dentro.
Até agora nada, só estrada e mais estrada, só mato e mais mato, nenhum sinal deles.
Para completar, ainda mais essa, não sabemos que caminho seguir e não sei se nos separarmos é uma boa ideia.
Tudo que sei é que queria sentir o abraço e carinho do meu pai de novo, ou melhor, queria tê-lo aqui comigo, mesmo que fosse para me dar uma bronca, brigar comigo por qualquer coisa, mas pelo menos eu saberia onde ele está, eu teria alguém para quem correr quando as coisas não fossem tão bem assim.
E minha pequena e delicada Cora? Onde ela poderia estar neste momento? Sozinha, sofrendo, machucada?
Não consegui conter as lágrimas de dor. A pior das dores, aquela que sentimos no meio do papo e que não é física, é mais como se fosse na alma...
Sobre essas lágrimas de dor eu escrevo minha alegria: vou encontrá-los a qualquer custo e serei feliz ainda mais do que antes.
Eu não vou aceitar perdê-los, não se depender de mim.
Levantei o olhar para ver o Pero. Este dorme tranquilamente. Será por paz interior ou devido ao cansaço daquele dia de terrível caminhada? Não sei!
Sou muito grato pelo grande e corajoso amigo que tenho ao meu lado.
Não consigo conter a euforia que de repente sinto no meu interior, uma força que toma conta de mim ao olhar para aquele frango teimoso, aventureiro, fiel, e que nunca desistiu de seu sonho de voar, mesmo quando todos zoavam e desacreditavam dele.
O Pero não sabe, mas eu o admiro muito e aspiro ter um dia seu desprendimento para lidar com a vida daquele jeito que ele consegue lidar, sempre de bom humor, sem frescura, sem timidez, fazendo o que quer e sem ligar para o que iriam dizer, apenas aproveitar aquele momento chamado vida.
Na verdade, esse meu fiel amigo perdeu tudo que tinha no mundo que era sua mãe e seu único irmão. E o pior é que ele sabia que não havia como ir atrás deles, pois não tinham sido levados, não! Com eles o destino tinha sido ainda mais cruel, eles não voltariam mais...