O Diário de Cisco

XIII

Ouço gritos, muitos cacarejando de desespero. Olhei e percebi que mais uma vez os criadores vieram buscar alguns de nós.
_Vamos, Cora, corre, vamos nos esconder! Disse eu.
_Vamos!
Nós corremos em direção ao esconderijo do papai. Eu mais do que nunca sabia que precisava me esconder e esconder a Cora.
Enquanto corríamos ela caiu tropeçando numa pedra e eu olhei para trás e cacarejei o mais alto que pude; a dor foi tão grande ao ver os criadores à segurando e levando ao caixote que me tornei galo antes da hora.
Quando Pero viu meu desespero, gritou:
_Cisco, se esconda agora ou nunca mais poderemos salvá-la, não se preocupe, iremos atrás deles, preparados para salvá-la!
Ao ouvir o Pero, voltei a mim e entrei no esconderijo para esperar até tudo ficar calmo. O Pero estava no topo do pé de seriguela e mais uma vez pulou, desta vez era diferente, sua vida dependia de seu voo ou sua queda; e para espanto de todos que corriam desesperados e cacarejando, ele voou, isso mesmo, o Pero realmente voou, não muito, só suficiente para sair do galinheiro e ficar livre, livre daquela confusão.
Finalmente a calmaria voltou, voltamos ao centro do galinheiro para ver quem tinha sido levado, a tristeza estava exposta no rosto de todos nós. Procurei meu pai, mas nosso vizinho informou que viu ele sendo levado.
Fui abatido com violenta tristeza, um sentimento insuportável. Mas nada foi mais pesado que olhar para os pais da Cora e lhes dizer que ela tinha sido levada. Eles desabaram em lágrimas e soluços, e eu me senti culpado.
Que sentimento triste e horrível.