Capítulo 1 - Duas vidas

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Sattle – 23h45min

Você já imaginou ter duas vidas?

Ser duas pessoas ao mesmo tempo?

Aposto que sim.

Mas entre pensar e viver havia uma distância muito grande, acredite nisso. Por anos, eu me encontro dividida entre Marie e Carina. Duas mulheres que sugam de mim tudo o que tenho. Mas fazem de mim uma mulher forte e decidida sem medo de enfrentar qualquer situação que a vida impõe.

Para quem já perdeu tudo e enfrentou situações dignas de pena, hoje eu era alguém melhor. Em questão de minutos, eu poderia ver a doce Carina se transformar na sedutora Marie.

Incrível, não é mesmo?

São como duas faces da mesma moeda. Carina era a garota esforçada e trabalhadora que lutava por seus sonhos, buscando a melhor maneiro da crescer e ajudar a família que há anos atrás foi completamente desestruturada com súbita fuga de seu pai.

"Canalha!"

Eu pensei ao lembrar do ser mais insignificantes que habitou nessa terra.

Nunca eu iria esquecer que no pior momento, em que não tínhamos nada, ele nos abandonou deixando apenas a miséria.

Você consegue imaginar o que é ver sua mãe e seu irmão chorando por dias?

Viver à custa da compaixão e pena das pessoas?

Era humilhante.

Foi quando decidi que eu não poderia deixar minha família viver daquela forma. Assim que me levantei naquele dia procurei em anúncios de jornais ofertas de emprego que por puro azar ninguém me aceitou. Eu me lembro de ter parado em uma cafeteria, pegado o último dólar que estava em meu bolso e comprado uma xícara de café quente, sentando-me na mesa ao fundo. O lugar era simples, pessoas se encontravam distribuídas nas mesas em conversas entretidas. No balcão eu pude notar a presença de uma mulher, alta com aparência jovial e elegante, ela por algum motivo me encarava, mas nem sequer dei atenção.

Aspirei à fumaça que saia do pequeno recipiente com o líquido preto, levando até os lábios e sentindo minha língua esquentar ao entrar em contato. Pensei no fracasso que havia sido meu dia, visitei inúmeros lugares e nenhum deles havia me aceitado.

Lembro que antes de sair de casa, minha mãe tocou em meus ombros olhando no fundo dos meus olhos e disse:

"Eu sei que você é a única que pode mudar isso."

E com aquela frase eu fui motivada a conseguir algo, e jurei a mim mesma não voltar até conseguir.

Eu chorei.

Chorei ao lembrar suas palavras e seu olhar suplicante por algo melhor.

Eu chorei por ter que voltar sem ter uma esperança.

Estava tudo perdido, nem um simples emprego eu conseguia arranjar. Foi quando senti alguém sentando a minha frente. Fechei os olhos deixando as últimas lágrimas caírem, rapidamente limpando com as costas de minhas mãos e fitei a mulher em minha frente.

- Está tudo bem? - ela perguntou curiosa.

"Por Deus, se eu estivesse bem não estaria chorando" pensei.

- Sim, não se preocupe! - falei rapidamente.

- Você não me parece muito bem, quer compartilhar o que houve? Acho que precisa de um ombro amigo. - A mulher falou enquanto deslizava os finos dedos sobre a borda de sua pequena xícara.

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