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QUANDO A PORTA DA CABANA de Dagan se abriu e o vento uivou, Tzuyu esperou que Asha aparecesse.
Mas foi Roa quem parou no batente. Seu vestido lavanda estava encharcado da chuva e seus olhos escuros estavam arregalados de algo que parecia medo.

Eles o levaram.

A rainha-dragão cambaleou para dentro do quarto. Tzuyu levantou para segurá-la, pegando os braços gelados de Roa enquanto absorvia suas palavras.

Eu disse a ela que traria a guerra a seus portões, mas ele foi levado mesmo assim. — Roa não precisou dizer o nome. Estava claro em seu rosto que falava de Dax. — Ela o prendeu.

Tzuyu sentiu o estômago se retorcer.

Sob que alegações?

A porta rangeu nas dobradiças, abrindo e deixando a chuva entrar. Tzuyu estava prestes a deixar Roa em frente à fogueira e fechá-la quando mais duas pessoas surgiram.

Roa?

Torwin e Asha entraram na cabana, tão ensopados quanto a rainha. Pingos de chuva escorriam de seus rostos. Enquanto Torwin fechava a porta, Asha se juntou às duas no tapete, preocupada.

O que aconteceu?

Roa explicou que, assim que Dax comunicara a recusa de Tzuyu à imperatriz, ela o acusara de se aliar a fugitivas perigosas e o levara em custódia, juntamente com seus guardas.
Roa, porém, não fora tocada.

Eu disse que aquilo levaria a uma guerra entre nossas nações. Lembrei a ela que, além de um formidável exército, tínhamos dragões à nossa disposição. — Roa olhou de Asha para Tzuyu. — Ela foi inflexível.

— Mas não te prendeu — disse Asha, seus pensamentos se agitando enquanto ela olhava para a faca da Tecelã do Céu, agora em suas mãos.
Roa sacudiu a cabeça.

Acho que ela queria que eu te encontrasse.
— Ou seja, ela quer que a gente vá ajudar Dax — disse Tzuyu.

Ela tinha se recusado a entregar Sana, e agora seu primo seria punido por aquilo. — É tudo culpa minha.
— Não. — Roa segurou seu punho, apertando com firmeza. — A culpa é minha. — Ela o soltou e baixou o olhar. — Precisamos tanto daquelas sementes que deixei Dax se convencer… na verdade, convencer nós dois, de que Sana tinha manipulado você. Sinto muito, Tzuyu. — Roa sacudiu a cabeça, olhando nos olhos de Tzuyu mais uma vez. — Quero que saiba que ele defendeu você. É por isso que está sendo punido pela imperatriz.

Tzuyu engoliu em seco, pensando em Kor e nos outros. Piratas não tinham direito a julgamento. A imperatriz julgaria Dax? Ousaria executar um rei?

Preciso ir — disse ela, levantando-se do piso de madeira. — Antes que o pior aconteça.
— Espere — disse Asha, ficando entre Tzuyu e a porta. — Tem mais uma coisa. Algo que vocês duas precisam saber.

Torwin parecia prever o que Asha estava prestes a dizer, porque emergiu do quarto ao lado com um rolo de pergaminho e o entregou a ela. A namsara o desenrolou sobre a mesa perto da janela, revelando três pergaminhos. Ela os abriu lado a lado.
Roa levantou do tapete e se juntou a eles.

Sabe as pedras que mostrei a você? — Asha disse para Tzuyu. — Existem histórias esculpidas nelas, desgastadas pelo tempo e pelo clima severo da região. Dagan diz que estão lá desde antes do bisavô dele nascer.

Ela tocou nas palavras rabiscadas no pergaminho, muitas riscadas e reescritas.

Pelo que consegui decifrar, contam a história de três deuses: a Tecelã do Céu, o Deus das Sombras e a Deusa das Marés. — Asha passou o pergaminho para Tzuyu. — A Deusa das Marés se disfarçou de humana e convenceu a Tecelã do Céu a matar o Deus das Sombras. Só que a Tecelã do Céu não foi capaz de fazer isso. Então ela o aprisionou em um mundo entre os mundos. Em um lugar onde ninguém jamais o encontraria.

the weaver of heaven - SatzuOnde histórias criam vida. Descubra agora