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PELOS CÉUS, o que foi aquilo?

O rosto de Dax ficou tenso enquanto ele passava os dedos por seus cachos, encarando Tzuyu como se não a reconhecesse mais. E ela mesma não se reconhecia.

Não apenas tinha deixado a fugitiva escapar dos seus dedos, liberando-a para caçar Asha, como a tinha beijado.

Tzuyu afastou o pensamento. Estava desesperada tentando evitar pensar naquele beijo. Na sensação de despertar que ele causara. Como se estivesse dormindo todos os dias antes daquilo.

A comandante tentou bloquear rapidamente o turbilhão de emoções espiralando dentro dela. Confusão, vergonha, medo — todos sentimentos que lhe eram desconhecidos. Não sabia o que fazer com eles.

Ela estava tentando se misturar à multidão para não ser reconhecida.
Só estava me usando.
Tzuyu olhou para trás. A música tocava enquanto os casais apaixonados iam entrando na roda de dança.

E você deixou — disse Dax, em tom acusatório. Mas ela podia ver que ele também estava confuso. Tentava ver sentido no que testemunhara. Tentava encontrar um motivo. Algo que lhe permitisse continuar a confiar em sua prima, que sabia o quanto ele precisava que tudo corresse bem durante a visita, e a admirá-la.
Mas não havia qualquer sentido no que acontecera.

Uma comoção irrompeu atrás de Tzuyu. Dax reagiu, indo para o lado dela. A comandante viu o brilho dos uniformes pretos e das estrelas prateadas. Luminas os cercaram.

Tzuyu sentiu o estômago se contorcer ao ver o homem que os liderava. O mesmo soldado do beco. De quem ela tirara o porrete.

Afaste-se, por favor — ele disse a Dax, sem desviar a atenção de Tzuyu. — Ela está presa.
Dax arregalou os olhos.
O quê? — Tzuyu o viu levar a mão à espada. Ela segurou seu punho para impedi-lo. — Qual foi o crime? — Dax perguntou, enquanto ele e a prima se entreolhavam.
Impedir o justo cumprimento da lei — respondeu o lumina.

Rapidamente, os guardas de Dax e Roa apareceram, formando um círculo protetor em volta do rei, da rainha e da comandante.

As coisas estavam saindo dos eixos. Roa e Dax ainda nem tinham chegado à cidade e já entravam em conflito com o exército da imperatriz.
A culpa era de Tzuyu. Ela precisava consertar as coisas.

Ele tem razão — disse a comandante, referindo-se à mulher encolhida no beco. — Eu impedi. — Ela encarou o soldado no comando.

Mas não é uma lei justa.
Tzuyu sabia que alguns soldados ruins não significava que um exército inteiro era corrupto. Tinha certeza de que a imperatriz ia querer ouvir sua história. Quando Tzuyu desse seu relato, os luminas envolvidos seriam punidos por abuso de poder.
O capitão assentiu para os dois soldados à sua esquerda.

Prendam-na.

Com uma expressão sombria, Dax se adiantou para intervir. Mas Tzuyu segurou o punho dele com mais força e sacudiu a cabeça. Já houvera estragos o suficiente por um dia. Ela não queria arruinar a aliança entre Dax e a imperatriz antes mesmo que começasse. Principalmente se Leandra pudesse de fato ajudar os nativos.

O que aconteceu? — perguntou uma voz familiar enquanto dois soldados seguravam os braços de Tzuyu, suas mãos apertando-os como tornos. — Cadê a fugitiva? — Raif, recém-chegado, parou perto deles, analisando a cena. Ele segurava a corda que atava as mãos de Sana. A Dançarina da Morte tinha desfeito o nó.

Eu a perdi — disse Tzuyu.

No caminho para a cidadela, os luminas conduziram Tzuyu por três postos de controle, com Dax e Roa os seguindo de perto. No terceiro e último portão, foram parados pelos guardas, que chamaram o capitão lumina de lado.

the weaver of heaven - SatzuOnde histórias criam vida. Descubra agora