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TZUYU PEGOU SUA FACA de cima do mármore frio e duro.

Normalmente, conseguia ver um caminho claro e tomar uma atitude decisiva. Mas, desde que conhecera a ladra Dançarina da Morte, o caminho desaparecera e ela passara a tropeçar na escuridão.

Basta.

A comandante sabia que soar o alarme e avisar todos os soldados do salão da presença de Sana seria decretar uma sentença de morte para ela.

Também sabia que não soar o alarme seria deixar uma criminosa perigosa escapar, uma que se importava mais consigo mesma do que com a vida dos outros.

Quando Dax a promovera a comandante, Tzuyu jurara levar ordem aonde houvesse caos. Proteger os inocentes dos que desejavam fazer mal a eles. Ela era uma soldado acima de tudo, e seus instintos lhe diziam para deter Sana. Para chamar os luminas no salão e impedi-la de partir.

Então foi exatamente o que fez.

Tzuyu se virou e encontrou Sana afastando a cortina, pronta para entrar novamente.

A inimiga da Tecelã do Céu está aqui! — a comandante gritou, apontando sua faca para a garota no uniforme lumina roubado. — Prendam-na!

O silêncio tomou o grande salão.

Sana congelou no lugar enquanto vários soldados se viravam na sua direção, suas lâminas tinindo ao se libertar das bainhas.

Se tentar encostar no fuso no seu cinto — sussurrou Tzuyu, aproximando-se a ponto de sentir o cheiro de mar na pele de Sana —, não vou hesitar em enfiar uma faca nas suas costas

— Você já enfiou uma faca nas minhas costas — disse Sana, atenta aos luminas que a cercavam, vindos da varanda onde estavam. — Que diferença mais uma faria?

Ela soltou a cortina e recuou, aproximando-se de Tzuyu e da balaustrada, como se quisesse colocar mais espaço entre ela e os inimigos vindo pegá-la.
Mas não havia escapatória.
Não havia lugar aonde ir.

Raif chegou bem antes dos demais, com a espada sacada, sorrindo numa expressão cruel enquanto afastava a cortina. Ele apontou a espada para Sana, seus olhos frios e impenetráveis enquanto ela avançava devagar.

Mãos para cima, demônia — ele vociferou. — Afaste-se da comandante.

Vários outros luminas chegaram, parando atrás de Raif sem saber como agir.

Tranquem as portas — Raif gritou enquanto eles sacavam as espadas. — A fugitiva está na varanda!

Mas coisas como portas e fechaduras não eram capazes de confinar Sana.
Ela era a Dançarina da Morte.

Quando o salão diante delas explodiu em murmúrios e gritos de pânico, Tzuyu fixou o olhar no fuso escondido no quadril da outra, mantendo a faca apontada para ela.

No momento em que Sana tentasse usá-lo, a comandante não teria escolha a não ser…

Talvez seja hora de você dar uma boa olhada nos seus aliados — disse Sana. Ela levantou a cabeça e seus olhos encontraram os de Tzuyu. — Eles são os heróis ou os vilões? E isso faz de você o quê?

Tzuyu estreitou os olhos. Manipuladora até o final.

Se Sana pensava que seria capaz de semear a discórdia entre Tzuyu e os que tinham vindo em seu auxílio, estava redondamente enganada.

Pelo menos eu tenho aliados. E você, Sana? Não tem ninguém.

Ela esperou que a ladra desse um sorriso cínico. Falasse algo sarcástico e mordaz.

Em vez disso, Sana disse baixinho de um jeito que apenas Tzuyu pudesse ouvir:

E pensar que imaginei estar apaixonada por você.

As palavras foram como um soco, derrubando-a para trás.

O quê? — Tzuyu sussurrou, baixando a faca.

Com Raif gritando seus comandos a alguns passos de distância, com os soldados às suas costas pressionando para entrar na varanda, Sana olhou uma última vez para Tzuyu. Aquela era a Dançarina da Morte despida de sua confiança e atitude. Era somente uma colcha de retalhos de desejo, dor e arrependimento.

E então, antes que Tzuyu pudesse impedi-la, antes que ela sequer soubesse o que acontecia, Sana saltou sobre a balaustrada e caiu na névoa.

the weaver of heaven - SatzuOnde histórias criam vida. Descubra agora