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Seis semanas depois…

Tzuyu se agachou enquanto a espada de treinamento passava assoviando por cima da sua cabeça. Estava quase amanhecendo, e o telhado estava iluminado pelo brilho das lanternas.

Vou ao campo de treinamento hoje — disse Asha, recuando, quase na beira do telhado. Ela moveu o punho, girando sua arma de madeira. — Vamos começar em breve a construir. Quero que dê uma olhada nas plantas da nova escola e me diga o que achou.

Vou tentar — disse Tzuyu, pensando em todas as coisas que precisava fazer antes que ela e Roa fossem para a savana no dia seguinte.

Várias semanas tinham se passado desde que o Deus das Sombras derrotara Leandra. Após testemunhar a morte da Deusa das Marés, Tzuyu tinha voado direto para Eixo e descoberto que Roa já tinha se libertado e salvado Dax da prisão da imperatriz.
Porque a rainha-dragão era simplesmente brilhante.

Martírio sente sua falta — Asha a pressionou.

Tzuyu assentiu, com a atenção dividida. Estava pensando em Sana.
O convite que havia feito à antiga Dançarina da Morte, de voltar a Firgaard, fora recusado.

Com os luminas desfeitos e a imperatriz morta, havia muito trabalho a fazer, e o lugar de Sana era nas ilhas da Estrela.

Tzuyu entendia aquilo. Afinal, ela também tinha um lugar a ocupar em Firgaard.
Mas aquilo não queria dizer que não doía.

Quando Sana não passava de uma ladra impossível de ser capturada, que roubava objetos preciosos de baixo do nariz de Tzuyu, ela a detestava. Agora, desejava aquela presença familiar a seguindo pelos corredores do palácio. Só que não havia mais nenhuma ladra pirata a observando das sombras. Ela não tivera notícias de Sana desde o dia em que tinham se despedido.

Agora que um novo governo estava em vias de ser escolhido nas ilhas da Estrela, Dax voltaria para ajudar a supervisionar a votação, enquanto Tzuyu e Roa viajariam para as savanas com mais ração. Dagan e outros pescadores das ilhas da Estrela tinham enviado uma segunda remessa de peixes salgados, junto com sacos de trigo e caixas de vegetais, para suprir os nativos até que as novas sementes produzissem sua primeira colheita. Graças à generosidade dos pescadores, o pai de Roa estava quase totalmente restabelecido, e o médico comunicara que Lirabel e seu bebê haviam recuperado a saúde.

Asha atacou com a espada de madeira, dissipando os pensamentos de Tzuyu.
Na luz dourada das lanternas, Tzuyu avançou sobre a prima, que desviou com facilidade e rapidez.

Embora tivessem a mesma altura e estrutura física, Tzuyu sempre fora mais forte, mais rápida e mais ágil. Asha era boa em caçar e matar sua presa. Tzuyu era boa no combate corporal. Naquele dia, porém, Asha anulava os golpes de Tzuyu com tranquilidade.

Ela recuou, frustrada. Normalmente, àquela altura, teria passado por todas as defesas de Asha.

Você devia levá-lo com você — Asha disse enquanto saía do alcance do ataque seguinte de Tzuyu, rebatendo-o sem problemas.

Quem?
— Martírio. — Asha sacudiu a cabeça, baixando a espada de madeira. — Não ouviu nada do que eu falei?

Tzuyu recuou, limpando o suor da testa enquanto Asha franzia a testa. Além delas, os domos de cobre e as torres ornamentadas com filigranas de Firgaard brilhavam calorosamente ao sol nascente.

Desde que voltou das ilhas da Estrela — Asha continuou —, não tem sido você mesma.

Aquilo, Tzuyu dizia a si mesma, se devia ao fato de não ser mais a comandante do rei. Ela não tinha obrigações e, portanto, nenhuma rotina. Sentia-se à deriva.

the weaver of heaven - SatzuOnde histórias criam vida. Descubra agora