Capítulo 7 - Snuff

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- Frantiesca?! – Pergunta a voz grave do outro lado da linha telefônica.

- Quem é? – respondo com certa rispidez, afinal já passam das duas horas da madrugada. Embora estivesse acordada, esperando surtir algum efeito do tarja preta, não gosto de ser perturbada por telefonemas indesejados.

- Lucas. Lembra de mim? Não acredito que finalmente consegui seu número de telefone!

Arqueio as sobrancelhas e suspiro, deduzindo a natureza do assunto. Contudo, o deixo prosseguir:

- Por favor, me diga que ainda trabalha com encontros...você é a melhor e...

- Não Lucas, não estou mais nesse ramo e por favor, peço que não me ligue mais.

Encerro a chamada imediatamente, jogando o smartphone para longe de mim. Lá se vai mais uma tentativa de adormecer antes do nascer do Sol.

Preciso de um chá de camomila.

Me posiciono na beirada da cama, retirando as muletas do canto, me equilibro com agilidade e começo a caminhar, apoiando-me nelas.

Sinto uma espécie de cãibra na perna esquerda, mesmo com a amputação da panturrilha.

- Bizarro!

Após me sentar no sofá, segurando uma caneca de chá quente nas mãos e atormentada pelo som do silêncio absoluto do meu apartamento, as lembranças começam a surgir novamente...como em todas as outras noites nos últimos dois anos...

Era janeiro, o dia estava quente como o inferno e eu me assemelhava ao próprio demônio, tendo o prazer de "ganhar a vida" fazendo com que até mesmo os homens mais decentes e íntegros, se entregassem aos seus desejos mais obscuros, cobrando algumas centenas de reais pela hora.

Eu terminava de me maquiar, trajava um vestido preto apertado que fazia meus seios saltarem para fora, calçava um belo par de sapatos Scarpin de salto alto e exalava um intenso aroma doce e sensual.

Enquanto passava o batom vermelho em meus lábios carnudos, meu telefone começou a tocar. Olho no relógio e são 15h47.

-Parece que começamos cedo hoje.

Número desconhecido. Não era novidade.

- Alô?

- Srta. Frantiesca? – Uma voz abafada e distante surgiu do outro lado.

- Sim?

- Como está sua agenda hoje?

- Depende. De quanto tempo precisa?

- Dez mil reais é o suficiente pelo seu dia de trabalho? Aposto que não irá se recuperar para atender outros clientes hoje... se é que a Srta. me entende.

Quando o cliente me oferecia um valor tão exorbitante, certamente eu deveria me preparar para defecar em sua boca ou penetrar todo meu braço em seu ânus.

- Que horas pode vir me buscar?

- Dentro de uma hora.

- Até logo, baby – desliguei o telefone, fazendo uma careta para o espelho.

Retirei o pino de cocaína na primeira gaveta, o espalhando pela penteadeira e inalando o pó com o auxílio de uma nota de cinquenta reais.

As 16h40, eu estava no banco traseiro de um Rolls-Royce Cullinan preto, observando as costas de um homem calvo no volante. Ele usava óculos escuros e possuía algumas cicatrizes nos dois braços.

- Então...você me encontrou através do site? – inseri algum assunto para tentar decifrar suas intenções.

- Eu? Não! Eu sou o motorista de seu cliente, madame. A Srta. o conhecerá em breve.

Infecção CadavéricaOnde histórias criam vida. Descubra agora