O calor de seu corpo desnudo aquecia fragmentos da minha alma enquanto seu olhar penetrante desvendava cada um de meus mistérios, deixando-me totalmente indefesa e crua perante seus martírios.
A fragrância de nossas transpirações, haviam se fundido, revelando um delicado aroma romântico, o que me permitiu ser ele naquele momento.
Um beijo em meus lábios selou com excelência as longas horas de prazer e ele se deitou ao meu lado, exausto e adormeceu como um enfermo moribundo, que finalmente encontra o alivio da morte.
Eu permaneci acordada, observando cada detalhe de seu corpo e ouvindo o compasso de cada batida de seu coração.
Um sentimento agridoce tomava conta de mim enquanto vozes distintas zumbiam em meus ouvidos, lembrando-me que aquela ocasião se tratava de uma despedida, já que o nosso fim havia sido decretando por um julgamento severo.
O nosso amor era tão intenso que jamais poderia ser real no mundo dos humanos, onde qualquer sentimento nobre é brutalmente exterminado e os mais puros são condenados à pena de morte.
As minhas lagrimas haviam sido destiladas com parte do meu suor e minha pele havia começado a esfriar, pela ausência do seu calor...e essa seria a realidade dos próximos dias se eu o deixasse partir naquela noite.
Então as vozes entoaram uma única canção, emitindo uma ideia sombria em coro e a solução se apresentava diante de mim com audácia e clareza: não era o fim.
Me apressei em levantar da cama e vestir a camisola de seda que repousava sob um tapete de veludo carmim e deslizei como um vulto em direção à cozinha, localizando o instrumento que o faria se juntar a mim por toda a eternidade.
Uma faca de corte disposta na bancada, aquela que o auxiliou no preparo do jantar que me foi servido, seria a mesma que traria o "Felizes para sempre" ao nosso conto de fadas.
As lágrimas hidratavam meus lábios secos enquanto um súbito arrepio invadia minha espinha dorsal, então caminhei apressadamente em sua direção.
Acometido por um sono profundo, ele permanecia sereno e eu sabia que era a melhor forma de partir. Eu o faria descansar em paz.
Um corte profundo em sua garganta foi o bastante para fazê-lo sangrar até a morte, esguichando sangue por todo nosso leito e manchando de vermelho os nossos lençóis brancos.
Enquanto sua alma deixava lentamente o seu corpo, eu fumava um Lucky Strike mentolado e imaginava como seria o sabor de suas entranhas, pois seria a única forma de tê-lo dentro de mim novamente.
O mantive em repouso na minha cama por cerca de três dias e me surpreendi com a velocidade da decomposição de seu cadáver. O odor marcante era uma de suas novas características e imagino que isso tenha me denunciado.
Mais uma vez, nossos planos foram aniquilados pelas injustiças terrenas:
Eles nos encontraram e me acorrentaram nesse maldito Manicômio Judiciário, onde provavelmente passarei o resto dos meus dias.
Mas se enganam na ilusão de que ceifaram nosso amor, pois noite após noite sou assombrada por seu espírito desencarnado e sua voz é mais uma a perturbar minha mente.
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Infecção Cadavérica
KorkuUma viagem sem volta às profundezas mais obscuras da mente humana, buscando em seu âmago, o extremo da maldade e insensatez. Os temas abordados são torpes e não são indicados para pessoas sensíveis. Você tem coragem?