Jimin pov
Ao final de todo expediente, eu ajudo minha mãe a fechar a lanchonete. Já estava anoitecendo e haviam poucas pessoas na rua. Senti o vento gélido bater no meu rosto enquanto abria a porta do carro e fechei os olhos.
Inspira.
Expira.
Entrei no carro e minha mãe começou a dirigir em direção a nossa casa. Não era nada muito chique, mas era confortável.
Abri a porta e vi Benjamin se revirar no sofá, tentando chamar minha atenção. Tenho Benjamin há uns dois anos. Minha mãe me deu de presente para amenizar a notícia que havia me dado naquele dia.
Não vou mentir, amo o Benjamin e ele é meu melhor amigo, mas nada no mundo vai substituir meu pai. Nada.
Pensando nisso solto um suspiro e percebo o gatinho siamês me olhando com seus olhos cor de mar. Ele se levanta e vai correndo até o pote de ração, onde havia um saco vazio do lado.
"Droga", pensei. Eu havia esquecido de comprar a ração.
Fiz um carinho em sua cabeça e sorri e quando o senti ronronar em minha mão. Ele não estava bravo. Avisei minha mãe que iria buscar comida para o meu gato e saí andando pela porta.
Como eu não conseguia ouvir as buzinas e outros sons no trânsito, nunca pude dirigir. Mas tudo bem, já estava acostumado a caminhar cinco quarteirões para pegar ração pro meu amigo.
Ele e minha mãe são tudo que eu tenho. Poucas pessoas se dispõem a fazer amizade com um surdo para não ter que aprender a língua de sinais, mas meu gatinho não se importa.
Eu também não me importo. Afinal, não sou eu que acordo ouvindo ele miar na minha porta todas as noites.
Entro no estabelecimento que estava prestes a fechar e pago pela ração mais barata. Quando passo pela porta novamente sinto os pelos do meu pescoço se arrepiarem com o frio. Já estava tarde.
Andei o mais rápido que conseguia até chegar em casa. Enquanto dava passos apertados, não pude deixar de me perguntar o que aquele garoto de hoje a tarde estava falando. Ele não parecia estar falando coisas ruins.
Se eu não fosse tão humilde até diria que ele estava me cantando.
Chego em casa e encho o pote de Benjamin, esse que se esfrega nas minhas canelas tampadas pela calça jeans. Gesticulo para minha mãe que vou tomar um banho enquanto a vejo assentir e voltar a fazer o jantar.
Subo as escadas devagar e rumo até o banheiro, me despindo e ligando a água quente. Pode estar quarenta graus lá fora, eu sempre vou tomar banho com água quente.
O banho termina e eu saio enrolado com uma toalha na cintura, indo até meu quarto. Escolho um pijama quentinho e me deito na cama para mexer no celular. Nem percebi quando meus olhos começaram a pesar e eu dormi sem jantar.
*
Algumas horas depois eu acordo com Benjamin lambendo minha bochecha. Ele era meu despertador desde que o ganhei e ele se acostumou com o horário em que eu acordava.
Vamos fingir que ele me acorda para eu ir trabalhar e não para ele ganhar ração.
Minha mãe sempre me leva ao trabalho, mas hoje ela deixou um bilhete dizendo que tinha algumas coisas pra arrumar e saiu mais cedo. Ótimo, teria que ir de bicicleta.
Faço meus preparativos matinais e tomo um café bem reforçado antes de sair. Dou um beijo na cabeça do meu amigo e saio pedalando.
Normalmente de carro a gente demorava uns dez minutos até a lanchonete, mas de bicicleta eu cheguei vinte minutos depois. Não vou reclamar pois não foi cem por cento ruim. Pude sentir o vento gélido da manhã bater em meu rosto e dançar com os meus cabelos tingidos de rosa.
Assim que estaciono a bicicleta no estacionamento ao lado da lanchonete, entro correndo e pedindo desculpas pelo atraso. Minha mãe apenas sorri terno e me alcança um pedido.
"Já que você está de bicicleta, dispensei o Jihoon. Vamos economizar dinheiro." ela gesticula e eu franzo o cenho. "Faça essa entrega no endereço que te mandei pelo Kakao."
Eu apenas assenti e tirei o avental que havia acabado de vestir. Coloco o pedido na minha mochilinha e rumo até o endereço.
Chegando lá, percebo que é um bairro rico e bem cuidado. Havia guardas no condomínio; esse que era repleto de mansões. Mostro ao guarda o número da casa pelo celular e ele avisa no interfone que eu cheguei.
O guarda aparentemente sabia a língua de sinais, o que me fez ficar feliz. Ele avisou que o menino já estava vindo.
De longe vejo um menino correndo em nossa direção. Ele parecia familiar, até que eu percebo quem era.
O garoto de ontem.
Ele sorri ao me ver e eu percebo que ele começa a gesticular com as mãos. Como ele aprendeu tudo isso da noite pro dia?
"Ontem eu esqueci de pedir seu número, então fiz um pedido na lanchonete torcendo para que você viesse. Espero que não fique bravo." ele gesticula meio atrapalhado, o que me faz sorrir com o seu esforço. Então ele olha para o guarda com uma cara perguntando se havia feito certo. O homem assente.
O entrego seu pedido e ele me olha com seus olhos de jabuticabas cheios de expectativa. Ele era lindo. O encaro esperando que pegue seu celular para anotar meu número, até que ele entende o recado e pega o aparelho. Fofo.
Ele troca algumas palavras com o guarda até que o homem me pergunte qual o meu nome.
"Jimin", faço com as mãos. Então, com toda calma do mundo, começo a descrever meu numero para o guarda. Os olhos de jabuticaba pareciam confusos olhando para o mais velho, esse que apenas pede sua permissão e anota meu numero no aparelho eletrônico.
O garoto agradece e sorri para mim. Sorrio de volta e subo na minha bicicleta, já sabendo que o pagamento havia sido feito através do aplicativo.
Olho para trás rapidamente e o vejo soltando soquinhos no ar e comemorando com o guarda, esse que permaneceu sério em prol do seu emprego.
Olá amores, como estão? Desculpa a demora para trazer o capítulo, mas espero que gostem e me perdoem qualquer coisa! Comentem no Twitter usando a tag #garotodasjabuticabas para eu achar vocês. Obrigada por lerem até aqui e por todo o apoio 🤧
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O Som da Sua Voz • PJM+JJK•
FanfictionPark Jimin, um menino quase cem por cento surdo, vive uma vida precária no interior de Busan. Desde que seu pai se foi, as coisas foram difíceis para ele e sua mãe. Desde então, foram apenas eles; Jimin e Benjamin (seu gato), a dupla dinâmica. Enqu...