O sol nasceu e se arrastou preguiçoso enquanto Beth reunia pesadas rochas maiores que seu punho para a cerimônia que se seguiria. Ela sequer tinha cochilado durante a longa noite cheia de acontecimentos inesperados.
Enquanto trabalhava, olhava para as mãos pálidas tendo vislumbres assustadores desses mesmos dedos completamente cobertos de sangue.
Não pôde dormir, não com toda a adrenalina que ainda corria por seu corpo após auxiliar a cirurgia de Carl, por isso estava do lado de fora, tentando ocupar sua mente com uma tarefa banal.
O ronco da motocicleta foi o que atraiu a atenção de todos no quintal. Beth ergueu os olhos e observou os veículos deslizando pela estrada.
Assim que viu a moto de perto teve certeza que Jimmy teria uma síncope. O garoto era fascinado pelo conceito de motoqueiro, tinha até comprado uma jaqueta de couro com uma caveira estranha nas costas.
Mas nem todo couro e graxa do mundo poderia fazer o jovem James McCure parecer tanto um motoqueiro selvagem quanto o jovem que pilotava a motocicleta.
Assim que chutou o suporte da moto e desmontou para exibir as asas bordadas em seu colete* surrado, Beth soube que aquele era o tipo de garoto com quem nunca trocaria uma palavra, o mesmo tipo que seu pai sempre alertava para manter distância.
Os cumprimentos e apresentações foram breves, eles tinham uma penosa tarefa a desempenhar e a loira se perguntou quantos mais teriam de enterrar antes da pandemia acabar.
Daryl olhou para a casa de fazenda por um instante antes de encostar na moto e começar a roer a unha do polegar.
Aquele era o tipo de lugar em que jamais seria bem-vindo. Se Merle estivesse com o grupo talvez quisesse retomar o plano de roubar suprimentos e fugir, porque ao que parecia, a fazenda Greene estava bem abastecida.
Ele normalmente ignoraria os olhares cheios de preconceitos sobre si, mas a expressão quase eufórica de um garoto vestido a caráter para a vida na roça foi demais para ele.
Encarou com sua melhor carranca o adolescente esperando intimidá-lo, mas isso só pareceu entusiasmar mais o outro.
O que diabo estava acontecendo com as pessoas? Antes do mundo acabar qualquer um se retraía sob sua expressão ameaçadora, agora essa já era a segunda pessoa a ignorar o gesto. Talvez tudo isso dos mortos estarem caminhando tenha selecionado os mais fortes ou endurecido os sobreviventes. Podia ter esperança.
Eles seguiram seus anfitriões até um canto qualquer à sombra de uma árvore, aparentemente um cara que morava ali tinha morrido na busca por suprimentos médicos para salvar Carl.
Daryl não costumava simpatizar com estranhos ou seguir padrões sociais, mas ele respeitava o falecido, morrer lutando parecia um bom jeito de partir e graças ao ato o moleque ia viver.
Beth não conseguiu chorar durante a cerimônia de Otis, ela estava triste, mas tudo parecia tão irreal. Os outros estavam chamando de enterro, mas não havia corpo, apenas a palavra daquele desconhecido de que o ajudante de seu pai morreu para salvar o garoto.
A Greene mais nova não duvidava de que Otis faria algo assim, ainda mais com o peso da culpa por ter atirado em uma criança, mas era estranho pensar que não restara nada do corpo para enterrar.
Ela nunca tinha lidado diretamente com os infectados, havia visto a mãe e Shawn por um momento, mas o pai garantiu que ela permanecesse longe. Beth ouviu as histórias de que os doentes atacavam vivos, seu próprio irmão mordeu a mãe depois da doença se agravar, mas seu pai dizia que eram apenas boatos exagerados. Então, como era possível que Otis tivesse sido comido vivo por inteiro como o policial alegava?!
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No Plan
FanfictionDaryl havia acabado de completar dezoito anos quando o grupo de Atlanta chega à fazenda Greene. Ele só queria abandonar aquelas pessoas e encontrar seu irmão, mas seus planos mudam ao conhecer a doce e determinada Beth Greene, totalmente ingênua sob...