Assimilação

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O peso de Daryl sobre si era muito maior do que quando o apoiava durante a caminhada, mesmo assim ela não se moveu, não sem saber se os tiros continuariam.

Os segundos se alongaram como minutos e Beth sentia a mente frenética tentar fazer sentido do que estava acontecendo. Sua prioridade era Daryl, ele estava sangrando pela cabeça. Havia sido alvejado? Ele estava vivo?

Os tímpanos da adolescente ainda apitavam com o estampido do tiro, mas ela sentia os batimentos cardíacos disparados em algum lugar, mas não tinha certeza se eram seus ou de um dos outros. Só podia torcer para serem de Daryl. Ele não podia estar morto, não depois de tudo, não dessa forma, em seus braços sem que ela pudesse fazer qualquer coisa para ajudar.

Sophia gemeu espremida pelos adolescentes contra a besta apertada entre sua barriga e o chão.

Beth sabia que a criança não podia aguentar muito, por isso rolou Daryl para o lado com dificuldade e caiu sobre o peito largo do rapaz.

Ele não parecia completamente inconsciente, suas pálpebras tremiam e sua expressão se apertava em uma carranca de dor enquanto os olhos azuis esquadrinhavam o rosto dela.

Apesar do sangue que escorria pela lateral do rosto, Beth constatou que o tiro pegou de raspão pouco acima da orelha esquerda.

Foi só quando ouviu o capim sendo esmagado por muitos pares de pés apressados e ouviu interjeições de surpresa que ergueu o rosto.

— Mas o que...? — T-Dog foi o primeiro a alcançar o trio e encarou paralisado a cena.

— Me ajude a levantar ele. — Dizia Beth já passando um braço de um semi-consciente Daryl sobre seus ombros. — Está muito ferido.

O outro finalmente reagiu e passou a ajudar à adolescente quando o resto do grupo os alcançou.

— Beth?! — A voz de seu pai fez ela erguer os olhos de Daryl para os recém chegados.

Duas pessoas encaram a cena com incredulidade similar à primeira reação de T-Dog. Beth ainda tinha a grande faca de caça nas mãos e Hershel se perguntou de quem era o sangue que banhava até o punho da filha.

— Patricia, prepare uma sala para papai operar. — Quando a mais velha permaneceu estática encarando a garota imunda pingando sangue, empunhando uma faca e carregando um cara muito maior que ela, Beth se viu obrigada a gritar: — Rápido!

Patrícia despertou em um estalo, trocou um olhar confuso com Hershel e partiu correndo de volta à casa de fazenda.

— Sophia! — O grito veio de um lugar mais ao fundo.

Carol, Lori e Carl vinham correndo, a princípio curiosos, mas agora completamente incrédulos. Carol não se importou com a bizarrice de tudo aquilo, se jogou de joelhos no capim envolvendo a filha que permanecia sentada no chão desde que Beth saiu de cima dela.

A criança se pôs a chorar envolvendo os braços sujos e arranhados no pescoço da mãe. Era uma imagem emocionante, mas a urgência da situação de Daryl não permitiu à adolescente apreciá-la.

— Está tudo bem com você? — O fazendeiro perguntou se aproximando da filha e acolhendo o rosto sujo entre suas mãos nodosas. — Está ferida?

Ela estava com saudade do pai, desesperadamente. Mas, mesmo que quisesse um abraço familiar e confortável, haviam prioridades vitais.

Beth gentilmente se esquivou do ancião, com cautela para não ferir seus sentimentos e continuou andando, ela e T-Dog apoiando o corpo de um Daryl que mantinha apenas fendas abertas para o azul intenso de suas íris. Ele mal podia impedir que seus pés se arrastassem inúteis atrás de si.

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