Consequências

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Beth estava tão apavorada e, pela primeira vez em algum tempo, não eram os contaminados a causa do seu medo.

Era muita pressão ter que optar entre levar Daryl para a fazenda para tratar seus ferimentos e correr o risco de perder a única chance concreta de resgatar Sophia, e ir ao encontro da menina deixando os ferimentos do arqueiro abertos.

Se fizesse a escolha errada e provocasse indiretamente a morte de um deles, jamais poderia se perdoar. Porém, perder tempo debatendo prós e contras também não ajudaria nenhum dos dois.

Ela deu um breve aceno positivo encarando Daryl antes que mudasse de ideia.

Ele tentou se erguer sozinho e fracassou. Beth revirou os olhos e passou uma mão pela cintura larga do arqueiro, tomando o cuidado de não tocar a ferida de saída da flecha.

Ele deu um passo vacilante, testando o próprio equilíbrio e depois outro mais estável, logo ele podia andar razoavelmente bem, mas por precaução, mantinha o braço apoiado nos ombros magros da Greene.

— Vamos na Nelly. — Estavam de pé, corpos apertados um ao outro enquanto Beth avaliava o equilíbrio e as forças necessárias para movimentar Daryl. — Preciso que não caia desta vez.

— Ela m'derrubou — resmungou ainda menos eloquente que o normal graças ao esforço e dor da movimentação.

— Ela faz isso, tem um gênio difícil, mas se eu estiver junto, não vai estranhar você. — Mesmo que a égua não colaborasse, era a única alternativa da dupla, não era como se a loira tivesse forças para suportar o peso do mais velho seja até a velha cabana de Sophia ou à fazenda.

Nelly reclamou ao ver a dona trazendo o homem coberto de sangue em sua direção, mas não fugiu, apenas esperou infeliz, encarando Beth como se essa lhe devesse um punhado de cenouras frescas.

Com dificuldade ela o ajudou a montar. O corpo de Daryl era maciço e Beth sentiu os músculos enrijecerem com o esforço de empurrar o maior para a cela. — Ele merecia o crédito por sua determinação, fez a maior parte do trabalho em se içar — Uma pontada de culpa a atingiu quando ele engoliu um gemido e prendeu a respiração, mas em nenhum momento reclamou da dor.

...

A viagem até o casebre abandonado foi muito rápida graças à velocidade da égua. Beth havia conseguido montar à frente, com uma mão controlando as rédeas enquanto a outra agarrava com força o pulso do Dixon em sua cintura, temendo que, em um lapso de dor, perdesse as forças e caísse.

Daryl fazia o possível para manter-se consciente, mas o trotar do animal lançava pontadas de dor no ferimento e seu corpo clamava pela dádiva de um desmaio.

Tinha a canhota apertada ao ferimento e a destra fracamente envolta na cintura esguia da loira que guiava o equino com destreza e graciosidade surpreendentes. Se ele não estivesse usando todas as suas forças para permanecer desperto, poderia apreciar a imagem cativante de Beth.

A floresta se abriu para a mesma casa precária em que Sophia deveria estar. Beth conteve o trote de Nelly um pouco distante e olhou por cima do ombro para o arqueiro que, aparentemente, ignorava completamente a dor e avaliava os arredores com olhos perspicazes.

— Vamos entrar? — sussurrou atraindo os olhos azuis para si. Beth não tinha certeza de como lidar com essa situação, era a primeira vez que se metia em algo assim e não gostava da ideia dela ser o elo mais capaz, uma vez que Daryl podia ceder à dor a qualquer momento.

O arqueiro voltou seus olhos para a moça e teve ainda mais percepção de sua proximidade. Os quadris estavam desconfortavelmente apertados um ao outro pelo espaço limitado da cela e a mão que Daryl ainda envolvia no corpo delgado, forçava seu peito a pressionar nas costas dela.

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