32 - Melhores amigos

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Thomas se sentou ao lado de Vitor, sentindo a respiração ofegante do amigo ecoar no ar. A tensão pairava entre eles, enquanto Thomas tentava decifrar o motivo daquela angústia latente.

- Eu sou seu melhor amigo, certo? - perguntou Vitor, enquanto uma brisa suave acariciava suas faces emolduradas pelos arredores floridos.

Thomas olhou para Vitor com um olhar amoroso e respondeu

- Claro que sim! Desde o primeiro dia em que pus os pés na Black School, você tem sido meu apoio inabalável, meu confidente e companheiro leal. Você é e sempre será meu melhor amigo.

Um sorriso tímido surgiu no rosto de Vitor enquanto ele absorvia as palavras de Thomas. A brisa carregada de doçura e o perfume das flores completavam aquele momento especial.

- Que bom! - disse Vitor, seu olhar perdido em devaneios fugazes. Porém, sua voz carregava um peso desconhecido, como se estivesse afogado em preocupações. - Mas e você? Está tudo bem?

Thomas franziu a testa levemente, percebendo a melancolia oculta nas palavras de Vitor. Uma onda de compreensão o atingiu, e ele respondeu com sinceridade

- Estou bem... ou pelo menos tentando estar. Acabei de me livrar de um fardo que me assombrava há tempos. A sensação de alívio é imensa, mas também há um misto de medo pelo desconhecido que está por vir.

Vitor assentiu lentamente, ainda com o olhar vago, como se mergulhasse em pensamentos inalcançáveis. Ele estendeu a mão e acariciou uma pétala suave de uma flor próxima.

- Sabe, Thomas... - murmurou Vitor, sua voz embargada e cansada. - Nós atravessamos tantas batalhas juntos, superamos desafios e construímos uma amizade forte como uma rocha. Sinto-me abençoado por tê-lo como meu melhor amigo.

A expressão de Thomas se iluminou com um sorriso caloroso e afetuoso.

- A recíproca é verdadeira, Vitor. Você sempre esteve lá para mim, nos momentos bons e ruins. Sua amizade é um tesouro inestimável que guardo no coração.

- Thomas, você se lembra da promessa que fizemos quando entramos nessa jornada? - Vitor assentiu mais uma vez, seu olhar fixo no horizonte distante

Thomas arqueou uma sobrancelha, revivendo as lembranças.

- Sim, claro que lembro. Você disse que, quando finalmente alcançássemos nossa liberdade pegaria uma flor do campo e iria entregá-la a mim. E quando eu tivesse certeza de que a liberdade era genuína, devolveria a flor a você como um símbolo de nossa vitória conjunta.

Um brilho de esperança dançou nos olhos de Vitor, suas mãos tremendo levemente enquanto ele segurava a flor em sua palma.

- Thomas, acredito que chegamos ao fim dessa jornada. Nossa liberdade é real, podemos senti-la no ar. Então, por favor, aceite esta flor como um lembrete de tudo o que passamos juntos.

Thomas aceitou a flor com gratidão e admiração.

- Vitor, este gesto representa não apenas nossa vitória, mas também a força da nossa amizade. Vamos guardá-la em nossos corações como um símbolo eterno de superação e companheirismo.

Enquanto o sol se punha no horizonte, lançando tons dourados sobre o campo florido, Thomas e Vitor compartilharam um abraço apertado, fortalecendo os laços que os uniam.

No entanto, uma nuvem escura começou a pairar sobre a alegria compartilhada. Vitor permaneceu sentado, seus olhos perdidos na imensidão das flores que dançavam ao sabor do vento. Seu semblante mudou, revelando dor e desespero ocultos.

- Thomas... - sussurrou Vitor, sua voz trêmula e os olhos marejados. - Melhores amigos fazem qualquer coisa um pelo outro, não é?

Thomas se aproximou de Vitor, preocupação enrugando sua testa.

- O que você quer me pedir, Vitor? O que está acontecendo?

Vitor engoliu em seco, seus lábios tremeram antes de pronunciar as palavras que atormentavam sua alma.

- Me mate, por favor. Antes que eu me transforme completamente... antes que eu machuque alguém.

O choque atingiu Thomas como um punhal em seu peito. Seus olhos se arregalaram, incapaz de compreender a dimensão do pedido desesperado de seu melhor amigo.

- Vitor, não posso fazer isso - Thomas exclamou, sua voz embargada pela agonia. - Você é a pessoa mais importante para mim, não posso suportar a ideia de te perder.

As lágrimas deslizaram pelo rosto de Vitor, misturando-se às marcas sombrias que se espalhavam ao redor de seus olhos.

- Eu sou um monstro, Thomas. Fui infectado por forças que estão além do nosso controle. Eu fui infectado. Não quero me transformar em algo que sempre odiamos. Por favor, liberte-me dessa sina antes que seja tarde demais.

As palavras de Vitor ecoaram na mente de Thomas, uma batalha silenciosa se desenrolando em seu interior. Ele nunca imaginou que teria que enfrentar uma escolha tão dolorosa, entre preservar a vida de seu amigo ou libertá-lo do tormento que o consumia.

Enquanto Thomas tentava encontrar uma resposta, uma transformação horrível começou a se manifestar em Vitor. Sua aparência angelical deu lugar a traços demoníacos, olhos avermelhados e sinistros. Uma aura maligna o cercava, distorcendo a beleza do campo florido e lançando sombras macabras sobre a paisagem outrora idílica.

Agora, em face à monstruosidade que Vitor se tornava, Thomas sentiu a dor da escolha dilacerar sua alma. A ideia de matar seu melhor amigo era um tormento inimaginável. No entanto, o medo de que Vitor se transformasse em uma ameaça para outros era um fardo insuportável.

- Vitor... - Thomas sussurrou, sua voz trêmula, os olhos inundados de lágrimas. - Você é meu melhor amigo... minha alma gêmea nesta jornada. Eu não posso permitir que você se torne o que mais tememos.

Vitor lançou-se contra Thomas com fúria demoníaca, movido por uma força incontrolável. Thomas, tomado por uma mistura de tristeza e determinação, levantou sua arma, a dor se multiplicando a cada segundo.

O disparo ecoou pelos campos, interrompendo o silêncio da tarde. O corpo de Vitor caiu aos pés de Thomas, seus olhos outrora cheios de vida e alegria agora se fechando para sempre.

A cena foi dilacerante. Thomas ajoelhou-se ao lado do corpo de Vitor, lágrimas corriam desenfreadas por seu rosto enquanto ele acariciava suavemente o cabelo de seu amigo. A dor da perda mesclava-se com o alívio de tê-lo libertado do tormento que o consumia.

Enquanto Thomas lamentava a perda de seu melhor amigo, a escuridão que envolvia Vitor começou a se dissipar, revelando uma expressão serena e tranquila. Um último sorriso se formou nos lábios pálidos de Vitor, uma confirmação de que, mesmo em seu último suspiro, ele reconhecia a profundidade do amor e sacrifício de Thomas.

Enquanto o sol se pôs, o campo florido testemunhou uma tristeza profunda, uma perda irreparável. As flores, uma vez vibrantes e coloridas, agora murchavam em luto silencioso pela partida de um espírito brilhante.

Enquanto os amigos de Thomas e Vitor continuavam a procurá-los para celebrar a tão esperada liberdade, uma sensação de vazio preenchia seus corações. Os ignus originais, testemunhas do desfecho trágico, recuavam lentamente, incapazes de suportar a aura de dor que envolvia o campo.

A verdade daquela jornada heróica, marcada pelo sacrifício supremo de Thomas, começou a se espalhar entre os sobreviventes. As lágrimas se misturaram com palavras de admiração e gratidão pelo amigo que se foi.

Thomas, no entanto, levou consigo uma dor que jamais seria esquecida. A morte de Vitor pesava sobre ele como uma corrente, lembrando-o a cada respiração de sua perda irreparável e do sacrifício que ele próprio foi forçado a fazer pela segurança dos outros.

Ainda assim, a memória de Vitor permaneceria viva nos corações daqueles que tiveram a honra de conhecê-lo, um lembrete eterno do poder da amizade, da coragem e do amor incondicional. A jornada deles pode ter chegado ao fim, mas as marcas deixadas por eles no mundo perdurariam para sempre.

O mundo não prometido: Guerra entre MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora