1

295 24 3
                                    


Estar em um navio é uma sensação maravilhosa. O balanço do navio, os rangidos do cordame, as batidas da água no casco. Quando eu era criança sonhava em conhecer um pirata e velejar pelos mares com ele. Ouvia histórias de saqueadores que roubavam tesouros amaldiçoados e lutavam contra outros piratas que tentavam roubar seus tesouros. Bem, isso é o que me contaram, nas historias e relatos esqueceram de citar o cheiro de mistura de esgoto, peixes e corpos. Alina estava sendo mantida presa no alçapão vigiada por alguns grishas, entre eles, eu, Geya e Ivan. Ficávamos a maior parte do tempo em frente do alçapão nos certificando que Alina não escapasse, o que significava que para minha sorte que eu não tinha que ficar no convés e sentir cheiro de morte, mas minha sorte acabou quando Darkling solicitou que liberássemos Alina para vê-lo no convés, acompanhada por mim e Ivan.

Nós três caminhávamos pela extensão do navio. Ivan levou-a para a proa da embarcação, onde o Darkling a aguardava. Ele estava de costas para nós, olhando o horizonte azul, seu kefta preto ondulando ao seu redor como uma bandeira escura de guerra. Me retirei com Ivan, esperando Darkling dar o sinal para levarmos Alina de volta ao alçapão. Assim que a conversa terminou ele olhou em nossa direção dando o sinal. Ivan tomou a frente puxando Alina pelos braços enquanto eu seguia logo atrás.

- Calma aí - protestou Alina com a velocidade em que Ivan a empurrava pelo navio, mas ele apenas deu um puxão na manga dela. Alina perdeu o equilíbrio e caiu para a frente. Seus joelhos bateram dolorosamente no convés, e mal teve tempo de esticar as palmas acorrentadas para impedir a queda.

- Mexa-se - Ivan ordenou. Alina conseguiu ficar de joelhos. Ele cutucou-a com a ponta da bota, e seu joelho escorregou embaixo de dela, mandando-a de volta para o convés com um barulho alto. Ivan estava fazendo um teatro para todos verem.

- Eu disse mexa-se. - disse Ivan novamente. Dois dos tripulantes puxaram-na, uma mulher de cabelos pretos e um homem bem alto.

- Você está bem? - ela perguntou.

- Isso não é da sua conta - disse Ivan, com raiva.

- Ela é uma prisioneira de Sturmhond - respondeu a garota. - Deve ser tratada de acordo.

- Ela é uma prisioneira do Darkling e uma traidora. - Disse Ivan.

- Talvez em terra - a garota disparou de volta. Ivan resmungou algo em Shu que eu não entendi. O gigante apenas riu.

- Você fala Shu como um turista - disse ele.

- E nós não recebemos ordens sua em nenhuma língua - a garota completou.

- Não? - Ivan sorriu e sua mão se contraiu, e a garota agarrou o peito, caindo sobre um joelho. Antes que eu pudesse piscar, o gigante tinha uma lâmina perversamente curvada na mão e avançava na direção de Ivan. De um jeito preguiçoso, Ivan suspendeu a outra mão, e o gigante fez uma careta. Mesmo assim, ele continuou a avançar.

- Pare - gritou Alina - Você vai mata-los!

Acabei interferindo.

- Deixe-os em paz, Ivan. Darkling havia dado ordens explícitas de leva-la até ele e depois leva-la direto para o alçapão - eu disse com uma voz calma, mas firme. Alina me olhou em desespero. A mão de Ivan se fechou em um punho. O gigante parou no caminho, e a espada caiu de seus dedos. Suor brotou de sua sobrancelha quando Ivan espremeu a vida em seu coração.

- Você pode ser uma das favoritas de Darklin, Lis, mas para mim você não é ninguém. Eu estou fazendo o necessário, se não quiser ser uma traidora saía daqui. - Senti meu sangue ferver, quando ia usar meus poderes um tilintar duplo soou alto.

Ivan congelou, seu sorriso evaporando. Atrás dele estava um garoto alto mais ou menos da minha idade, talvez uns anos mais velho: cabelo avermelhado, nariz quebrado. Ele tinha uma pistola engatilhada na mão, o cano pressionado no pescoço de Ivan.

- Sou um excelente anfitrião, sangrador. Mas toda casa tem suas regras. - Ivan baixou as mãos. O gigante resfolegou em busca de ar. A garota ficou de pé, ainda pressionando o peito. Os dois respiravam com dificuldade, e seus olhos queimavam de ódio.

- Esse é um bom companheiro - disse Sturmhond a Ivan. - Agora, levarei a prisioneira de volta aos aposentos dela e você pode correr e fazer... o que quer que você faça enquanto todo mundo está trabalhando.

- Não pensei que... - começou Ivan.

- Claramente não pensou. Por que começar agora? - disse Sturmhond. O rosto de Ivan ficou vermelho de raiva.

- Você não... - começou Ivan. Sturmhond se inclinou para mais perto, a risada sumindo de sua voz, seu comportamento tranquilo substituído por algo afiado como uma espada.

- Não me importa quem você é em terra. Neste navio, você não é nada além de peso morto. A menos que eu o jogue para fora. Nesse caso, você seria isca de tubarão. Eu gosto de tubarões. São difíceis de cozinhar, mas valem a pena por um pouco de variedade. Lembre-se disso da próxima vez que pensar em ameaçar alguém dentro desta embarcação. - Ele se afastou, seu jeito alegre restaurado. - Agora vá, isca de tubarão. Escute a garota e corra de volta para o seu mestre.

- Não esquecerei disso, Sturmhond. - Ivan resmungou.

- É essa a ideia. - O capitão revirou os olhos. Ivan se virou de costas e saiu batendo os pés.



WOUND AND SCARS - nikolai lanstovOnde histórias criam vida. Descubra agora