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Depois daquele dia, Darkling levava Alina ao convés regularmente para ficar atrás dele na proa. Maly era mantido cercado por guardas na outra ponta do navio, procurando, rastreando algo. Em um dia todos foram acordados de madrugada, estavam dizendo que Maly havia finalmente encontrado algo. Lis saiu sob a sombria luz cinzenta da madrugada. O convés estava cheio de outros Grishas olhando para água, enquanto Aeros produziam os ventos e a tripulação de Sturmhond ajustava as velas no alto.

- Acho que estamos perto - disse Maly.

- Você acha? - perguntou Darkling.

- Ajustem as velas - ordenou o corsário, e os homens no alto moveram-se para obedecê-lo. Ivan bateu no ombro do Darkling e apontou para o horizonte ao sudeste.

- Um navio, moi soverenyi.

- Eles hastearam alguma bandeira? - o Darkling perguntou a Sturmhond.

- Provavelmente são pescadores, mas vou ficar de olho na embarcação, por via das dúvidas. - ele deu um sinal para um membro de sua tripulação, que foi correndo para o mastro real com uma luneta comprida na mão.

Lis e os Grishas se agruparam na balaustrada para ver o progresso dos barcos. A névoa parecia ampliar a batida constante de seus remos contra as ondas.

- Dois pontos de distância da proa a estibordo! - alguém gritou.

Nesse momento, as costas de uma criatura romperam as ondas, seu corpo cortando a água em um arco sinuoso, arco-íris faiscando das escamas iridescentes no seu dorso. Um homem no barco mais próximo do açoite do mar se levantou com um arpão na mão, mirando. A cauda branca da criatura se deslocou rapidamente pelo mar, dividiu as ondas e desceu como um tapa, enviando uma parede de água que rolou contra o casco do barco. O homem com o arpão caiu sentado com tudo quando o escaler empinou precariamente, mas se ajeitou no último momento.

Então o outro barco disparou seus arpões. O primeiro foi longe demais e caiu na água sem causar danos. O segundo alojou-se na couraça do açoite do mar. Ele resistiu, a cauda dando chicotadas para a frente e para trás, e se ergueu como uma serpente, lançando o corpo fora da água. Por um momento, ele ficou suspenso no ar: barbatanas translúcidas em forma de asas, escamas brilhantes e olhos vermelhos coléricos. Pingos de água voaram de sua crina e mandíbulas enormes se abriram, revelando uma língua rosa e fileiras de dentes brilhantes. Ele desceu sobre o barco mais próximo com um som alto de madeira se despedaçando. O barco estreito se partiu em dois e os homens caíram no mar. A boca do dragão se fechou sobre as pernas de um marinheiro e ele desapareceu, gritando, entre as ondas. Com golpes furiosos, o restante da tripulação nadou pela água manchada de sangue em direção ao que restava do barco, onde eles foram içados pela lateral. Outro arpão encontrou seu alvo e o açoite do mar começou a cantar, um som mais amável, um coro de vozes elevado em uma música lamuriosa e sem palavras.

- Redes! - gritou Sturmhond. Mas a névoa tinha ficado tão densa que Lis mal podia dizer de onde vinha a voz.

- Afastem a névoa - ordenou o Darkling. - Estamos perdendo o escaler.

Grishas começaram a chamar uns aos outros. A névoa se ergueu. A bombordo outro navio tinha aparecido como se vindo do nada, uma escuna elegante com mastros reluzentes e estandartes sacolejantes: um cão vermelho em um campo azul-escuro e, abaixo dele, a águia dupla ravkana em azul-claro e dourado. Depois uma série de batidas se iniciou e apareceram garras metálicas cravando-se na balaustrada na face de ancoragem do baleeiro.

Um uivo veio de algum lugar, como um lobo cantando para a lua. Homens surgiram como um enxame sobre a balaustrada no convés do baleeiro, pistolas presas ao peito, espadas na mão, uivando e latindo como uma matilha de cães selvagens. Darkling se virou, tinha confusão e raiva em seu rosto.

Tiros de pistola soaram. O ar ganhou vida com o fogo dos Infernais.

- Venham comigo, cães! - Sturmhond gritou e entrou em ação, um sabre em suas mãos. Homens latindo e rosnando desceram sobre os Grishas de todos os lados, não apenas da balaustrada da escuna, mas também do cordame do próprio baleeiro.


WOUND AND SCARS - nikolai lanstovOnde histórias criam vida. Descubra agora