Arquivo 56

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Eram exatamente 14:00 horas da tarde quando M acordou, seu ouvido doía um pouco devido o tiro de raspão que passou zunindo rente a sua orelha esquerda, o garoto se surpreendeu ao tocar uma faixa de esparadrapo  enrolada em sua testa tapando sua orelha. A noite anterior havia sido tudo o que M mais temia que acontecesse. A porta do quarto havia acabado de ser aberta revelando C que adentrava o quarto segurando uma bandeja, o cheiro agradável de café e pão fresco havia feito o estômago de M lembrar que estava com fome.
Ao se sentar o garoto de sardas colocou a bandeja sobre o colo de M ,e disse com seu sorriso perfeito.

- Não quis te acordar, estava tão bonito dormindo. - M se permitiu esboçar um sorriso ao ouvir aquelas doces palavras e começou a mordiscar um misto quente.

- Obrigado de verdade... - Disse M mordiscando um pedaço de pão ao jogar seu cabelo escuro para trás de seus ombros.

- Tudo bem... É só um misto quente. - Respondeu o garoto sem graça.

M segurou a mão de C que pareceu se assustar por um leve momento, e ao encarar o garoto de olhar firme e traços indígenas, conseguiu ver o que jamais poderia esquecer.

- Não falo pelo misto, apesar dele estar delicioso, mas... Você arriscou sua vida por mim ontem, acreditou em mim, salvou minha vida. - C olhava deslumbrado enquanto M falava. - Eu não sei porque faz tanto por mim, e não sei direito ainda quem é você... Mas... Sinto como se já te conhecesse.

- Faria tudo de novo sem pensar duas vezes - disse o rapaz ao acariciar o rosto de M.

Por alguns segundos M conseguiu sorrir e esquecer um pouco a tragédia de três atos em que estava atuando, mas logo seus pensamentos despertaram para os sons de tiros em uma noite chuvosa, gritos de F o olhando com ódio, um local branco... cheio de pessoas com roupas brancas, o dia em que M perdeu tudo...

- M? - O jovem pálido conseguiu resgatá-lo de seus pensamentos mais escuros, antes que ele acabasse se afogando em sua própria consciência. - Está tudo bem? Você estava tremendo...

- Sim... Tudo bem. - M não conseguiu esboçar nenhum sorriso dessa vez.

Lá fora o dia parecia nublado e agora o pequeno quarto com aparência juvenil, que ostentava diversos pôsteres de bandas de rock nas paredes, roupas sujas jogadas no chão e um... violino...

M se levantou de solavanco e foi até o instrumento musical despertando a atenção de C que o olhava, ainda sentado sobre os lençóis brancos da cama. M segurou o arco do violino e sentiu seu sangue ferver, seu sentido ficar aguçado, por um momento o tempo pareceu parar ali naquele instante. De onde C estava ele via o garoto com a coluna ereta, posicionar o violino, com seus olhos fechados e uma expressão calma que suavizou de certa forma todo o ambiente, ele não conseguia parar de pensar em como aquele garoto era fascinante... C não conseguia desgrudar os olhos dele...

A primeira nota foi tocada de forma forte e o som preencheu o ambiente, era uma música triste... Ou pelo menos ele parecia interpretá-la assim.

Na janela lá fora escorria gotas de uma fraca garoa que começou a se tornar mais forte, M permanecia concentrado tocando Requiem de Mozart, o ribombar do trovão lá fora pareceu bailar com o som das notas do violino, o que ajudava M a esvaziar sua mente, para poder novamente pensar com clareza.

O que deveria fazer agora que F sabia de tudo?

Tudo estava perdido?

Quanto tempo ele ainda tinha?

M tinha seu próprio cronômetro mental, sua própria corrida contra o tempo e sabia que se não fizesse nada ele poderia ver seu mundo cair de um dia para o outro... Tudo teria sido em vão, ele precisava ir atrás de F e buscá-lo de volta...

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⏰ Última atualização: Jan 28, 2022 ⏰

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