Capítulo 27

460 29 1
                                        

Yoongi.

O silêncio depois da bomba era sufocante.

Ela tava no sofá, mãos tremendo, apertando a caneca como se aquilo fosse impedi-la de desabar. O olhar perdido, sem foco, sem chão.

Mas eu não podia desabar junto. Eu não tinha esse direito. Enquanto ela respirasse, enquanto ela me olhasse daquele jeito como se eu fosse o último pedaço de segurança que restava no mundo, eu ia manter a cabeça no lugar.

Puxei o celular, respirei fundo.

- Fica aqui. - Minha voz saiu firme. - Tranca essa porta. E qualquer coisa me liga.

- Aonde você vai?.- Ela perguntou, quase num sussurro, apertando o cobertor contra o corpo.

- Resolver isso. - Inclinei o rosto, segurando seu queixo com uma mão, forçando ela a me olhar. - E eu volto. Sempre volto.

Mas não ia deixá-la sozinha nem por um segundo.

Liguei. O primeiro atendeu no segundo toque.

Yoongi?.- A voz do Jimin soou alerta.

- Preciso de você. - Fui direto. - Traz tudo. E chega rápido.

Ele entendeu na hora.

-Tô a caminho. - E desligou.

O segundo também não demorou.

-Diz aí. - A voz de Hoseok veio seca, preparada.

- Vem. - Disse. - Quero que cuide de SN.

-Tô chegando. - E desligou.

Eles sabiam. Se eu ligava assim, era porque o negócio era sério.

Me virei pra ela de novo, segurando seu rosto com as duas mãos.

- Jimin e Hoseok vão ficar com você. Você estará segura. - Meus olhos cravados nos dela. - Vão cuidar de você.

Ela engoliu seco.

- Promete?.- A voz dela quebrou meu peito inteiro. - Promete que volta?

Aproximei, beijei sua testa, depois seus lábios.

- Sempre volto pra você. - Sussurrei contra sua boca.

Saí antes que ela tentasse me prender ali. Porque se tentasse... eu não ia conseguir sair.

O carro já me esperava na porta. Um dos meus motoristas de confiança. Um cara treinado, que não fazia perguntas. Só cumpria ordens.

Entrei no banco de trás, fechei a porta.

- Dirige. - Ordenei, sem tirar os olhos do celular.

O carro arrancou.

Minha cabeça tava fervendo. Meus dedos já estavam pulando de contato em contato, rastreando, puxando informação, cruzando dados.

Liguei pra um dos fantasmas que só aparecem quando o mundo tá podre demais até pros criminosos comuns.

-Yoongi... fazia tempo que não ouvia sua voz. - A voz dele era um chiado grave, quase irreconhecível.

- Fala logo o que sabe. - Fui direto.

-Acha mesmo que não ia saber? .- Ele riu, um som feio. - O casal... mortos. Execução limpa. Profissional. Foi recado. Não roubo. Não vingança. Foi gente de cima, Yoongi. Gente grande. Maior do que você imagina.

- Quem?.- Apertei o punho. - Diz quem tá por trás.

Silêncio pesado.

-Se você puxar esse fio, vai descobrir coisa que nem queria saber. Eles não eram só empresários podres. Eles estavam no centro de uma teia. Tráfico. Lavagem. Influência. E tua garota... não é só filha deles. Ela é a chave. Herdeira de algo muito, muito maior. Agora que eles morreram... tem gente vindo atrás dela.

Meu peito se apertou. O maxilar travou.

-Te cuida, Yoongi. - Ele finalizou. - Porque se você acha que a guerra começou... não. Ela só esquentou.

Desliguei.

Inclinei no banco, jogando a cabeça pra trás, respirando fundo. O sangue latejando nas têmporas.

Ela não fazia ideia do tamanho do buraco que tinha herdado.

Mas eu fazia. E se achavam que iam encostar nela... tinham acabado de escolher o alvo errado.

- Vira na próxima. - Falei pro motorista. - Me leva pra casa do Namjoon. Agora.

Se alguém sabia como derrubar esse tipo de gente...
Era ele.

Continua...

O leilãoOnde histórias criam vida. Descubra agora