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   Nem acredito que daqui há algumas horas eu vou estar viajando para passar algumas semanas fazendo vários cursos de culinária.

Estou tão feliz e nervosa.

Fiz inscrição em muitos cursos, alguns são de curta duração e outros são mais extensos. Cada um tem uma proposta diferente. Alguns são sobre confeitaria, outros de gastronomia no geral, alguns sobre administração, entre outros. Quis ter muitas opções, não ficar concentrada apenas em uma área.

Já me despedi de Camila e Alice. Como todo mundo está muito ocupado, não quis fazer uma festa de despedida. E como não gosto de despedidas, veio a calhar.

Com imensa tristeza, eu pedi demissão da cafeteria. Se não fosse por esse novo dono eu teria tentado pedir férias, ou só um afastamento. Senti-me um pouco radical, largando tudo para correr atrás de algo novo, mas sei que é o que eu quero e me arrependeria se não tentasse.

Meus pais, Clarice e Fernando, concordaram em me ajudar com os custos dessa aventura. Na verdade, eles amaram a ideia.

Sempre cozinhei muito com minha mãe, desde pequena. Algumas das minhas melhores memórias de infância são na cozinha. E ela ficou tão feliz e entusiasmada por mim. Meu pai ficou feliz também em me ver correndo atrás dos meus sonhos mesmo depois de algum tempo. Ele que sempre me dizia que nunca é tarde para tentar, mas só agora que eu entendi o que ele tanto dizia.

Vou ficar no apartamento do meu irmão, Brian. O cara que dividia o apartamento com ele saiu há algumas semanas, e como ele ganhou uma promoção no emprego fez um empréstimo para comprar o apartamento. Aproveitei que todos os cursos são na capital, e como ele mora lá, vou ficar com ele, já é um gasto a menos.

Estou agora tentando arrumar minhas malas, mas sempre fui péssima com isso. Como se prevê o que vai usar? E ainda pior, por tanto tempo. Já estou indo para a segunda mala. E meu guarda-roupa parece que vai ficar vazio.

Depois de quarenta minutos arrumando a mala e mais uma mochila, finalmente, terminei. E parece até que estou levando meus móveis.

Joguei-me no chão assim que terminei, de tão exaustivo que foi arrumar as malas. E também por que minha cama não está com espaço livre, tudo ocupado com as outras coisas que não vou levar. Fiz uma verdadeira bagunça.

★ ★ ★

Tomei um banho e vesti uma roupa confortável para viajar. Lucas irá me levar para a rodoviária às cinco horas da tarde. E só falta uma hora.

De quem mais vou sentir saudades é dele.

Depois de passarmos tanto tempo separados vamos nos separar mais uma vez. Pelo menos agora ainda estaremos juntos como casal.

Às 16:40 Lucas chegou.

Ele bateu na porta do apartamento e fui abrir, já carregando as malas do quarto para a sala.

Com toda essa correria no hotel do tio dele nem tivemos um tempo só nosso. Por sorte passamos o feriado inteiro juntos, o que compensou um pouco.

- Já estou pronta. - abri a porta dizendo a ele.

- Isso é ótimo. - disse ele entrando e fechando a porta atrás de nós. Ele me abraçou. Aquele abraço cheio de saudade, antes mesmo de estarmos longe. - Ainda temos uma hora até precisarmos ir à rodoviária.

- Mas o ônibus sai às 17:30... - contestei. Meus braços ainda estavam em volta do seu pescoço, e ele ainda abraçava minha cintura.

Ele se afastou de mim, sentando no meu sofá verde.

- Na verdade... - ele começou a falar com a voz afiando, e sabia que ele tinha feito alguma coisa. - Seu ônibus só sai às 18:30. - confessou sorrindo para mim com um sorriso amarelado.

- Lucas! - bufei encarando ele com os braços cruzados.

Lucas piscou os olhos fazendo uma carinha de cachorrinho sem dono, e ajeitando os óculos redondos. Eu ainda o encarava com uma cara nada amigável, mas ele sorriu para mim, colocou suas mãos na minha cintura, olhou-me nos olhos e puxou-me devagar para que eu cedesse ao seu charme.

Acabei cedendo.

Descruzei os braços e deixei que ele me puxasse para sentar no seu colo.

Minha cara ainda continuava séria, mas ele passou a mão pelo meu cabelo loiro e enrolando ele no dedo. Depois colocou a mecha atrás da minha orelha. Olhou-me mais uma vez nos olhos. Seus olhos azuis pareciam penetrar nos meus, daquela forma que só ele conseguia. Ele analisou todo o meu rosto, cada detalhe, cada curva. Parecia que seus olhos estavam ficando cada vez mais azuis.

- Eu pensei que você se atrasaria, - a sua voz soava calma e doce, como mel. - e caso não se atrasasse eu teria mais alguns minutos com você. - eu continuava em silêncio, apenas observando os lábios dele e seus olhos se moverem. Mas sentia que minha expressão sisuda tinha se dissolvido por completo. - Você não pode querer me culpar por querer mais um tempo com a minha namorada, não é? - agora ele focava nos meus olhos.

Ele beijou minha bochecha direita, bem devagar e delicadamente. Depois beijou a outra da mesma forma. Levantou mais a cabeça para que pudesse encostar na minha testa, e beijou ali também. Desceu para minha boca, que agora estava com o canto dos lábios levantados formando um sorriso tímido. Ele segurava meu rosto com uma das mãos, e eu segurava o seu com as duas.

Sentia que era um beijo de despedida, mas sempre pensei que esses fossem mais calorosos. Esse não. Esse beijo era calmo como Lucas, delicado, mas capaz de deixar uma marca inesquecível, daquelas que você passa a noite acordada pensando e sorrindo. Parecia que ele estava querendo sentir tudo como se fosse a última vez. Como se ele fosse me perder. Também senti medo de perdê-lo, e segurava seu rosto como se nunca mais pudesse fazer isso de novo.

Nós nos afastamos, e algo em mim sabia que eu precisava dizer aquilo. E que ele precisava ouvir.

- Quando eu voltar ainda serei sua, e espero que você ainda seja meu. - minha voz saiu quase como um sussurro, e eu encarava aqueles olhos azuis.

- Continuarei para sempre sendo seu.

Eu só conseguia olhar nos seus olhos, e quando ele falou aquilo vi algo brilhar. Sorri por ver isso. Sabia que ele me amava, mas se existiu algum dia qualquer mínima dúvida, ela tinha acabado de morrer.

Abracei ele com força. Pude até sentir nossos corações baterem um ao lado do outro.

Fiquei feliz por termos um ao outro, mas triste porque não queria estar longe dele. Foi por isso que terminei daquela vez, porque sabia que o amava demais e que isso interferiria no meu julgamento. Mas eu não era capaz de me separar mais dele.

Éramos como Lois Lane e Clark Kent. Um clássico que todo mundo sabe que é para sempre. E talvez eu esteja convivendo muito com ele para fazer referências nerd.

★ ★ ★

Chegamos na rodoviária e meu ônibus sairia em dez minutos.

Olhei para ele pela última vez antes de ir. O beijei rapidamente. Estava me segurando para não parecer que iria chorar, porque eu nem estava indo para o outro lado do país.

Já estava distante dele quando movi meus lábios dizendo um eu te amo silencioso. Ele fez o mesmo de volta.

Entrei no ônibus e sentei-me. Respirei fundo, sorri e me senti preparada para ir atrás dos meus sonhos, fossem quais fossem os obstáculos que vinhessem pela frente.

Era minha hora de ir conquistar o mundo. E nada pode parar uma garota determinada. 

Amor, livros, amigos e caféOnde histórias criam vida. Descubra agora