Camila, uma garçonete aspirante à escritora, finalmente decide correr atrás do seu sonho. O que ela não esperava, era que um bloqueio criativo atrasasse seus sonhos - mais uma vez - ou que um estranho, que entra na cafeteria fechada no meio de uma c...
Existem alguns momentos na nossa vida que são tão cheios de paz que parece que estamos vendo-o de fora, como um telespectador.
Sinto-me assim agora.
Vendo todos sentados ao redor de uma mesa na cafeteria Popular Brasileira. Conversando. Rindo. Relaxados. Confortáveis.
Ícaro e Alice estão do meu lado. Ícaro brincando com meus dedos debaixo da mesa. Alice dividindo sua atenção entre Luna e Lucas conversando sobre o casamento ao seu lado. E Nicolas e Ícaro tentando acompanhar eles conversando.
- Banda é melhor do que DJ! - declara Lucas.
- Na-na-ni-na-não - rebate Luna. -DJ é melhor do que... - Ana, uma das funcionárias, traz nossos pedidos. - Pudim! - comemora Luna quando vê seu pedido chegando.
Nós sorrimos.
Luna esquece completamente sobre o que estava conversando quando começa a comer seu pudim.
- Não entendo porquê DJ ou banda, vocês nem vão fazer uma grande festa - declarou Alice, colocando um pão de queijo na boca.
- Só porque não é uma grande festa não significa que eles não vão querer um DJ ou uma banda - argumento.
- Vocês deveriam viajar! - propôs Nick - O dinheiro vai ser muito mais bem gasto. E vocês vão poder...
- Ok, Nicolas - interrompe Ali. - Nós já sabemos onde isso vai dar.
Nick tenta esconder um sorriso travesso tomando um suco chamado de Tempo Perdido. Mas Lucas parece gostar da ideia da viagem pela forma como ele ficou com aquela sua típica cara pensativa.
- Talvez devêssemos deixar os noivos tomarem suas decisões... - arrisca Ícaro.
- Ah, por favor - ralha Alice. - A noiva só sabe comer pudim, não tem muita moral.
- Ei! - diz Luna em tom de advertência e fazendo beicinho.
Começo a rir delas.
- Mudando de assunto... - começa Lucas se ajeitando na cadeira para encarar Nicolas - Vocês acham que o Nicolas vai pedir a Catarina em casamento quando?
Nick se engasga com o suco e começa a tossir.
Começamos a rir dele. Sua cara está uma mistura de vermelho com desespero digna de um meme no Twitter.
- Não dou dois meses - Alice provoca ele ainda mais.
- Acho melhor mudarmos de assunto - fala Nicolas quando consegue parar de tossir.
Continuamos conversando e rindo a maior parte do fim da tarde até o começo da noite. Vejo todos sorrirem e ao fundo a luz do Sol que se põe entrando pelas janelas de vidro da cafeteria e mudando suas cores conforme ele ia descendo e dando espaço para a Lua.
Esses momentos de calmaria me alegram ao mesmo tempo em que me perturbam. É como dizem, sempre antes de uma grande tempestade há a calmaria.
Ou seria sempre depois da tempestade vem a calmaria?
★ ★ ★
Estamos no terraço.
A noite está linda. Lua cheia e estrelas brilhantes.
Ícaro está com a cabeça apoiada em meu colo lendo Orgulho e Preconceito, que eu gentilmente forcei-o a ler.
O cabelo dele está ligeiramente caído na testa, afasto os fios e o beijo, gentilmente e demoradamente, naquele local.
Ele está concentrado na leitura, mas às vezes para e faz alguns comentários. Ele diz achar o Sr. Darcy chato, mas faz parte da experiência.
Enquanto isso eu rabisco e escrevo algumas coisas no meu caderno. Alguns poemas. Algumas ideias.
Terminei o livro que estava escrevendo há algumas semanas. Enviei-o para várias editoras, das mais tradicionais às mais modernas.Estou esperando algumas respostas. E por saber como elas demoram até que estou conseguindo lidar bem com minha ansiedade.
Consegui escrever o livro mais rápido que eu esperava e ainda consegui vencer os medos que me assombravam.
Penso em como tudo começou.
É engraçado e sombrio como a vida pode mudar subitamente e te levar a caminhos inimagináveis. Causar-te grandes dores ou grandes alegrias. Transformar quem você é ao ponto de ser irreconhecível para o seu antigo eu.
A Camila com medo de ser rejeitada por sua escrita agora está mais confiante e corajosa. Estou orgulhosa de estar evoluindo aos poucos.
Sou arrancada da minha introspecção com a notificação de uma mensagem no meu celular. Vejo pela barra de notificação que é o e-mail de uma das editoras.
Empertigo-me.
Sinto que todos os meus músculos, antes relaxados, ficaram tensos.
Abro o e-mail com o coração a mil.
Mas antes olho para o céu acima de mim. Desejo que seja algo bom.
Não leio nada dessas baboseiras que eles colocam. Procuro apenas algo que seja sim ou não.
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As palavras começam a se embaralhar na minha frente.
Talvez meus medos ainda não estejam totalmente vencidos.
