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   O domingo costuma, para alguns, ser um dia tedioso e melancólico. Mas hoje o meu com certeza não será. Se meus palpites estiverem certos, e espero que estejam, será um dia de grandes acontecimentos para mim.

Meu tio Carlos, o dono do hotel, convidou-me para tomar um café da manhã com ele no hotel. Pelo fato dele estar se aposentando e seus filhos não terem nem vontade, nem dom para gerenciar, presumo que ele vá me oferecer o cargo.

Como de costume cheguei ao hotel Vitalino às seis da manhã. Fui para a área externa, onde as mesas ficam ao ar livre. E lá estava meu tio, com sua blusa social de listras e uma calça social escura. Sua barriga saliente, evidenciando o metabolismo lento da sua idade. O cabelo, totalmente, branco e ralo.

Sentando ao seu lado estava alguém que eu não esperava encontrar hoje.

Saulo, meu primo e filho do tio Carlos. Diferentemente das outras vezes que eu o encontrava ele estava formalmente vestido, com os cabelos negros alinhados e penteados para trás.

Se meu tio iria me oferecer a gerência, por que Saulo também estava aqui?

Aproximei-me deles e os cumprimentei.

Sentei em frente ao meu tio e ao lado de Saulo. A mesa branca de ferro estava farta de comidas e bebidas para o café da manhã. O dia provavelmente seria de sol, mas o vento a essa hora era agradável.

★ ★ ★

Pouco depois de comermos, o tio Carlos se empertigou na cadeira, como ele costuma fazer quando vai falar algo sério.

- Então, Lucas, existe um motivo para esse café da manhã. - meu coração apertou de ansiedade.

Olhei para meu primo e ele estava com um sorriso extravagante, parecia até que estava recebendo sua mesada recheada para esbanjar com festas e viagens. Ele não poderia estar tão feliz para que eu me tornasse gerente.

- Você tem trabalhado aqui desde que terminou a faculdade e tem mostrado um bom serviço, se não fosse meu sobrinho diria que estava tentando roubar meu lugar. - brincou ele soltando uma risada engasgada. Saulo também riu, mas não parecia ser uma risada verdadeira.

Nós dois e o irmão dele, Ricardo, assim como nossos outros primos, sempre nos demos muito bem na infância e começo da adolescência, mas depois fomos nos tornando pessoas completamente diferentes. Não tínhamos nenhum tipo de richa, mas sabemos que não nutrimos sentimentos tão afáveis.

- E é por isso que queria que fosse o primeiro a saber da decisão que eu tomei. Afinal de contas, também interfere na sua vida profissional - é agora ou nunca. - O Saulo vai assumir o comando do hotel.

O que?

Não me orgulho disso, mas pensei em uma lista de palavras bastante ofensivas na minha cabeça. Não era possível que isso estivesse mesmo acontecendo. Como um filhinho de papai que nunca pisou em uma faculdade e terminou a escola, muito provavelmente, porque o pai era rico e não queriam reprovar um filho tão importante, vai assumir uma empresa?

Tentei manter meu rosto impassível para não demonstrar minha revolta.

- Seremos colegas de trabalho, primo. - sorriu falsamente Saulo. Suas palavras saíram ríspidas, eu não podia vê seus olhos por trás daquele óculos escuro de marca, mas sabia que deveriam estar imersos em veneno.

Apenas dei meu melhor sorriso profissional e forçado.

- Bom para você, Saulo - praticamente cuspi as palavras, com uma certa dose de sutileza para não ser antiprofissional.

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