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   É uma sexta-feira à noite e eu fico sozinho para fechar a clínica.

Quando passo pelas portas de entrada observo a cafeteria do outro lado da rua. Está movimentada. Tem funcionários indo de um lado para o outro com pedidos. Ao lado, na livraria, parece um mundo à parte. As pessoas estão sentadas lendo ou comprando livros. Lá parece mais calmo que a agitação da cafeteria.

Tento encontrar um cabelo castanho escuro, bem específico, no meio de todas aquelas pessoas na CPB.

Mas não vejo nada.

Subo as escadas para o segundo andar quase correndo e depois para as do terceiro. Paro em frente à porta do apartamento de número 15.

Levanto a mão para tocar a campainha, mas alguém foi mais rápido e abriu a porta.

- ... estou saindo - disse Camila enquanto abria a porta e se atrapalhava com as chaves.

Baixei minha mão que estava a meio caminho da campainha.

- Oi - falei, inseguro quando Camila olhou para mim.

Ela encarou-me juntando as sobrancelhas e formando uma ruga entre elas. Sua boca abriu, mas não saiu nenhuma palavra.

- Oi - consegui responder ela, sua voz quase em um sussurro.

- Eu preciso falar com ...

- Eu estava indo falar com ...

Falamos ao mesmo tempo.

Soltamos uma risada rouca, mais por estarmos sem graça que por ser engraçado.

- Você quer entrar? - oferece ela, abrindo mais a porta.

Assinto com a cabeça e entro.

Sou recebido por Amora uivando de alegria e balançando o rabinho.

- Camis, você... - Alice sai de um dos quartos - Ah! Oi, Ícaro - cumprimenta ela olhando de mim para Camila com um visível embaraço.

Cumprimento Alice com um aceno de cabeça e me sento no sofá com Amora.

- Ah... sim... eu vou... - gagueja Ali pegando Amora no colo - Eu vou passear... com Amora.

Ela vai em direção à porta.

- A coleira! - lembra Camila que agora está do meu lado.

- Ah sim! - ri Alice - Quem vai passear sem coleira? - ela fecha a porta com um clique.

Camila senta à minha frente no sofá. Encaro ela. Ela está com um coque alto e um fio rebelde de cabelo caiu no seu rosto, esforço-me para não colocá-lo atrás da sua orelha.

- Bom, aqui estamos... - começou ela.

- Camis - chamo, ela para de encarar as unhas e me olha. - Eu sinto muito pelo que aconteceu - digo com sinceridade.

- Eu também - ela engole em seco.

- Não foi o que pareceu... - minha cabeça está a mil - Eu deveria ter explicado tudo, mas só deixei que pensasse o que quisesse.

- Eu também não fui muito justa com você...

Respiro fundo tentando organizar meus pensamentos.

- Zoe é minha ex-namorada e mesmo que soe estranho ser tão próximo de uma ex... - Camila concorda. - Namoramos durante o ensino médio e alguns anos quando eu estava na faculdade. Mas terminamos porque sempre fomos melhores como amigos. - explico - E é o que somos hoje. Ela é minha melhor amiga - olho para Camila buscando em suas expressões algum sinal e ela parece acreditar.

Amor, livros, amigos e caféOnde histórias criam vida. Descubra agora