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   Já faz semanas desde a última vez que saí de casa para outro lugar que não fosse o meu trabalho. Meu tio Carlos, o dono do hotel, resolveu tirar um tempo de férias e gostou tanto que o que era para ser uma semana virou mais de um mês.

Estou trabalhando muito.

Sei que meu tio está prestes a se aposentar e seus filhos, meus primos Saulo e Ricardo, não têm o menor interesse em assumir a gerência. Eles nunca nem se importaram com o hotel, só gostam da vida boa que isso deu a eles.

Imagino que ficando esse tempo no comando seja uma forma de me avaliar como futuro gerente.

O hotel Vitalino ainda não é uma empresa com muitas filiais. Tem a matriz aqui em Caruaru, e uma pequena filial em uma cidade do interior a 100 km daqui. Apesar de não ser tão grande, tem uma ótima reputação e uma fama considerável.

Os hotéis são aconchegantes, foram feitos para se sentir em casa, e esse é um dos segredos para o sucesso.

A estrutura do hotel parece com uma casa cheia de andares e quartos. Além de um restaurante que serve comida regional e caseira. E se você caminhar um pouco pelo espaço arborizado, e cheio de flores e plantas, vai encontrar uma piscina e uma quadra de jogos. Ainda tem a área dos chalés, que é um pouco mais afastada dos outros quartos e mais próxima à natureza.

É um verdadeiro paraíso.

Depois da reinauguração, alguns anos atrás, as pessoas começaram a aparecer sempre e indicar aos amigos. Hoje em dia estamos sempre com muitas reservas e todos os funcionários são muito dedicados e empenhados para o sucesso do local. É como uma grande família.

É difícil trabalhar com muitas pessoas, mas uma das coisas que aprendi a lidar, e gostar, foi justamente essa relação coletiva.

Passei por tantos momentos incríveis, e frustrantes também, neste hotel que não consigo me imaginar em outro lugar fazendo outra coisa. Fiz grandes amigos e grandes aprendizados.

Esse é o meu lugar. E não vou perder ele.

★ ★ ★

Na sexta-feira à noite, quando finalmente cheguei de um dia cansativo de trabalho, só queria me jogar no sofá e pedir uma comida no aplicativo.

Foi o que fiz.

Cai no sofá bege, nem preocupei-me em ligar as luzes, a única coisa que iluminava o ambiente era um grande abajur azul que ficava ao lado do sofá.

Ainda deitado no sofá, com meus pés passando para fora, fechei meus olhos e coloquei os braços atrás da cabeça. Fiquei ali sentindo meu corpo relaxar com uma divagação preenchendo meus pensamentos.

Será que os super heróis fazem coisas assim quando chegam de um dia cansativo de trabalho? Ou eles nunca se cansam? Ou ainda nunca tem tempo para descansar, sempre tem que salvar alguém?

Com um pulo sentei-me no sofá, assustado com o som da campainha. Não imaginaria quem poderia ser, não estava esperando por ninguém.

Arrastei-me até a porta, como se o percurso de andar por um metro até a porta fosse uma maratona.

- Oi! - falou uma Luna fantasiada e sem jeito na minha porta.

Ela estava diferente da última vez que a vi. Mesmo com os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, notei que ela tinha cortado o cabelo, ele parecia bem mais curto que o de costume.

Ela conseguiu ficar ainda mais linda.

Ficamos em silêncio, por uns dez segundos, um olhando para o outro, analisando o que havia de diferente desde a última vez. E sem dúvida foi um ótimo momento para estudar a fantasia que Luna vestia. Ela estava com uma versão da roupa da Supergirl de calças. Era ainda mais bonita que a tradicional.

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