Por favor menina
Só me acorda quando a dor passarDeixa as pessoas fugirem
Para dentro delas mesmas
Deixa o medo alimentar-se
Até que seu castelo preencha todo o céuVela meu sono menina
E deita ao meu lado porém não descuides
Que tua vigília é a medida
Do que será de nós quando outro sol nascerQuando chegar o dia
Quando chegar a hora
Sentirás nos teus ossos a dor do parto-mundo
Te partirás ao meio e dilacerarás num grito
Esse cristal silêncio que paira no meu peitoRemovas então o véu que as palavras
[ou o musgo de velhas palavras bolorentas]
Formaram sobre a carranca triste do meu rosto(Quando me vires, não te assustes,
Nem pensas duas vezes antes de me escarrar a face)Verás que sou um monstro
Sim
E que por amor fui perder-me
E por amor afastei-me de ti nesse sono absurdo
Letargia dos covardes e asilo dos falsos poetasMas sei que assim mesmo hás de sentir carinho
Talvez até verter uma perdida lágrima ou suspirar baixinho
Pois que é hora
E haverás de acordar-me
Somente quando a dor passar...

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Reticências
PuisiPoemas carregados de simbolismo, que refletem várias fases da existência do autor. Um turbilhão sensorial que arrasta o leitor a múltiplas interpretações.