Ser feliz fazendo o que se ama

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O jovem que subia a longa ladeira em direção à sua casa se chamava Biel. Era verão na Bahia. Naquele momento, o céu estava todo azul, sem uma nuvem sequer a esconder o sol escaldante do meio-dia. Com a sua pesada mochila nas costas, vestindo a camiseta branca do colégio e calças jeans, o jovem corria a passos largos.

Biel cursava o último ano do ensino médio e voltava da aula todos os dias naquele horário. Sentia-se estranho de repetir aquela rotina tantas vezes. Algo claramente não estava fazendo muito sentido. Ele não gostava de acordar cedo e não suportava mais perder a manhã inteira sentado, decorando várias coisas cujo sentido prático não entendia. Ele bem que poderia estar com os amigos na praia ou jogando futebol.

Biel sempre foi alegre e otimista, mas aquele último ano do colégio, o temido "terceirão", estava abalando sua confiança. Aquela era a primeira vez que ele sentia que precisava tomar grandes decisões na vida. Sabia que um ciclo estava se fechando para que outro começasse, mas duvidava muito da sua capacidade para lidar com as responsabilidades da tal vida de adulto.

Essa insegurança e indecisão sobre o futuro roubavam sua alegria de viver. As preocupações viviam gritando dentro dele. Algumas eram perguntas que martelavam sua cabeça sem parar: para qual curso devo fazer vestibular? Qual é a carreira que quero seguir?

Biel achava meio cruel ter que saber essas respostas aos dezessete anos, mas era assim que as coisas aconteciam. Ele não era o primeiro jovem a passar por isso e sabia que, se os outros conseguiram, então ele também seria capaz de tomar essa decisão.

Mas, naquele dia em especial, Biel estava mais nervoso. Guardava uma sensação incômoda...

Seus pais sempre diziam que, quando ele era criança, tinha o costume de sentar-se na varanda de casa e olhar para o céu. Passava horas observando as estrelas e a lua. Em seguida, pegava uma folha em branco e começava a escrever nela. Os pais diziam que ele passava um longo tempo escrevendo sobre o mistério do universo e das estrelas, que já o intrigavam desde cedo.

Apesar de ter vagas lembranças disso, Biel duvidava de como poderia ser verdade que desde pequeno tivesse o dom da escrita. Afinal, uma situação sempre se repetiu com ele ao longo dos anos: toda vez que fazia uma redação na escola, tirava nota baixa.

A grande contradição é que, enquanto estava mergulhado em sua imaginação durante a prova, tinha convicção de que estava escrevendo um texto fantástico. Sentia que colocava para fora sua expressão, achava-se muito inteligente ao ler todas aquelas ideias incríveis no papel. As palavras surgiam com facilidade em sua cabeça e ele gostava de ler suas próprias histórias. Tinha a confiança de um jovem ousado que dominava o que estava fazendo.

Mas então alguns dias se passavam após o exame e o resultado era sempre um desastre. Sua prova voltava toda riscada de caneta vermelha, os professores discordavam completamente das suas ideias e da sua forma de escrever. Eles diziam que Biel fugia do tema, que seus argumentos não tinham coerência e que o texto não era bom o suficiente.

Biel não conseguia concordar com isso. Afinal, como alguém pode ter o direito de dizer o que é bom ou ruim na sua forma de escrever? Como podem falar que seus argumentos não têm coerência só porque não entendem que existem outras formas de enxergar o mundo?

Biel lamentava sozinho, sentindo-se podado em sua expressão e incompreendido em suas ideias. Era sempre uma tristeza ler aquelas correções, pois derrubavam sua autoestima. Seu estilo de escrita claramente não era apreciado pelos professores.

Após tantas notas baixas nas redações que escrevia, seus pensamentos negativos inundaram por completo sua mente. Biel se perguntava: Como é que eu posso me achar tão bom na escrita se não consigo sequer tirar uma nota alta? Acho que a única coisa em que eu levo jeito mesmo é me enganar...

Os 2 guardiões da Rainha da FlorestaOnde histórias criam vida. Descubra agora