Há muito tempo atrás, vivia em uma choupana no campo um humilde lenhador e seus três filhos. Todos viviam bem e em paz. Comida nunca lhes faltava.
Até que o pobre homem ficou velho demais para seu trabalho e teve de passá-lo a seus filhos. Sendo assim, chamou o mais velho, em quem ele mais confiava, e lhe disse:
- Meu filho, vá até a floresta e procure pelo mais alto e imponente carvalho, que fica bem ao lado de um riacho. Aquele carvalho pertence a nossa família. Tombe-o e nos traga madeira.O rapaz assentiu e partiu para a floresta. No caminho, foi surpreendido por uma raposa que parecia faminta e que lhe suplicou:
- Bom dia, moço. Estou há dias sem comer, será que poderia ajudar uma pobre raposinha e me dar algo para comer?Apático, o rapaz a afugentou com uma pedrada e seguiu seu caminho.
Não demorou até que chegou ao carvalho indicado por seu pai. Mas qual não foi seu susto ao ver um enorme troll que pescava no riacho ao lado.Ao vê-lo, o monstro ficou furioso e urrou:
- O que quer por aqui, moleque?! Por acaso veio roubar minha madeira?! Caia fora antes que eu o arrebente!Aterrorizado, o jovem deu meia-volta e voltou para casa correndo. Ao chegar, foi contar para seu pai, ofegante, o que havia acontecido, deixando o velho bem desapontado:
- Ora, você é homem ou o quê?! Se eu fosse ainda jovem e forte como você, voltaria lá e faria aquela besta engolir o que disse!Em seguida, o pai foi ter com o filho do meio e lhe deu a mesma tarefa que dera ao mais velho. O rapaz assentiu e partiu para a floresta.
No caminho, topou com a raposa, que lhe pediu o mesmo que pedira ao outro irmão. Este, porém, não deu resposta diferente: Afugentou a pobrezinha com uma pedrada e seguiu seu caminho.
Chegando ao lugar onde ficava o carvalho, deu de cara com o troll, que acendia uma fogueira. Ao vê-lo, o monstro urrou, enfurecido:
- O que quer por aqui, fedelho?! Se não sumir daqui agora, vai ser meu almoço!Aterrorizado, o jovem voltou para casa correndo e foi contar a seu pai, ofegante, o que havia acontecido. Este o bronqueou, zangado:
- Ora, que filhos frouxos criei! Nunca em minha juventude tive medo de troll!Sem outra alternativa, o velho teve que passar a tarefa ao filho caçula, que ele considerava um completo bocó. O jovem assentiu, pegou um pouco de pão e uma fatia de queijo para comer no caminho e partiu para a floresta.
Não demorou até que topou com a raposa, que lhe pediu comida, receosa. Com um sorriso no rosto, o rapaz lhe ofereceu o pão que trouxera, e ela comeu em um minuto. Muito agradecida, ela se voltou para ele e disse:
- Não tenho como expressar minha gratidão, amigo. Espere um minuto que vou até minha toca buscar um presente para você!Nisso, ela deu meia-volta e sumiu no mato. O jovem se sentou sob a sombra de uma árvore e ficou esperando por ela.
Passados alguns minutos, a raposa voltou trazendo um saco feito de pele de veado e o deu para o rapaz, que agradeceu e seguiu caminho levando consigo seu novo pertence.Ao chegar onde o carvalho ficava, deu de cara com o troll, que assava um javali em sua fogueira. Ao vê-lo, o monstro se ergueu, furioso, e urrou:
- Ora, já deve ser o terceiro infeliz que vem me incomodar na minha clareira! Suma daqui agora ou mato você!Calmamente, o rapaz tirou do bolso o queijo que trouxera e disse:
- Este carvalho é da minha família, se você não for embora agora mesmo vou espremê-lo até a morte, tal como faço com essa pedra.Dito isso, espremeu o queijo com força, fazendo gordura derramar por entre seus dedos. Sem perceber que aquilo era um queijo, o troll ficou boquiaberto e respondeu, um tanto apreensivo:
- Minha Nossa, o senhor parece ter uma força sobre-humana! Bom, o que acha de irmos até minha casa e fazermos uma pequena competição para decidir quem será o dono do carvalho?
- Sem problemas, se isso convencê-lo a não me causar mais dores de cabeça! - respondeu o rapaz, bravamente.Sendo assim, o troll o conduziu por uma trilha estreita que cortava o bosque por cerca de meia-hora, até que finalmente chegaram a um imponente casarão enfurnado na mata.
O troll convidou-o a entrar e se sentaram em uma vasta mesa de madeira. Em seguida, o anfitrião serviu duas tigelas e pôs sobre a mesa um imenso caldeirão cheio até a boca de ensopado fervente. Então virou-se para o rapaz e disse:
- Façamos um torneio de comilança, quem comer mais ensopado ganha e se torna o dono do carvalho!O herói assentiu e serviu-se de ensopado. O monstro fez o mesmo e nisso, o torneio teve início.
O jovem até conseguiu dar conta de quatro ou cinco rodadas, mas após isso, começou a se sentir cheio demais. Até que se lembrou do saco de pele de veado que a raposa lhe dera e teve uma brilhante ideia: Ao invés de continuar tomando o ensopado, colocou o saco por sob sua camisa e começou a derramar o alimento dentro dele.
Assim sendo, cerca de trinta rodadas depois, o troll finalmente se esgotou enquanto o rapaz continuava enchendo o saco de sopa sem demonstrar enjôo. Dando-se por vencido, o anfitrião falou:
- Caramba, você come feito um dragão! Está certo, não aguento mais, aquele carvalho é todo seu!
- Finalmente! - exclamou o jovem, simulando alívio. - Agora posso me desfazer de tanta sopa!Dito isso, pegou uma faca da mesa e perfurou o saco que escondia debaixo da camisa, fazendo escorrer sopa. Admirado, o troll indagou:
- Puxa vida! Você consegue cortar seu próprio torso sem sentir dor?! Como é que se faz isso?!
- É bem fácil. - mentiu o jovem. - Tente você mesmo, não dói nem um pouco.Acreditando nele, o troll pegou outra faca e apunhalou-se bem no estômago, morrendo na mesma hora.
Rindo de alegria, o rapaz resolveu vasculhar o lugar para ver o que achava e qual não foi sua surpresa ao encontrar, dentro de um armário, um baú cheio de pérolas e diamantes.
Em seguida, voltou para casa trazendo o tesouro roubado e foi logo mostrá-lo a seu pai, que mal soube o que dizer ao ver toda aquela fortuna.
Daquele dia em diante, o pai passou a valorizar seu filho caçula até mais do que aos mais velhos, e todos os quatro passaram o resto de suas vidas nadando em riqueza com o tesouro do troll.
Fim
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Contos de Fadas
FantasyUma seleção de contos clássicos, escritos nas minhas palavras como eu os ouvi.